Cota de importação de arroz garante menos de um mês de abastecimento, mas pode frear disparada de preços, dizem especialistas
Governo zerou a tarifa de importação de 400 mil toneladas do alimento para países de fora do Mercosul. Queda nos valores, porém, só deve vir no início de 2021, com auge da safra do grão. Consumidores reclamam do aumento nos preços do arroz e feijão na região de Sorocaba
Reprodução/TV TEM
A cota de importação de 400 mil toneladas de arroz deve assegurar menos de um mês de abastecimento, mas pode conter um avanço maior do preço do produto, avaliam especialistas. Uma queda maior do valor do alimento, porém, é esperada somente para o início de 2021.
Entenda por que a inflação dos alimentos disparou no país
Na quarta-feira (9), o governo reduziu a zero a alíquota do imposto de importação dessa cota, a pedido do Ministério da Agricultura. A medida vale até 31 de dezembro de 2020 e tem o objetivo de impedir um aumento maior de custos para a população. No ano, a inflação do arroz já acumula alta de 19,2%.
“A população brasileira consome em torno de 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano. Se nós vamos importar 400 mil toneladas, estamos falando de arroz para meio mês (15 dias)”, diz Lucilio Alves, professor da Esalq-USP e pesquisador do Cepea.
Apesar de ser uma cota pequena, o analista da Safras & Mercado, Gabriel Viana, avalia que a entrada do produto no país pode, ao menos, estabilizar um pouco os preços, ainda que em patamares elevados.
Segundo ele, os agricultores nacionais, que estão segurando os seus estoques de arroz, à espera de preços mais altos, podem começar a liberar parte deles ao ver algum crescimento da oferta no país.
“Essa ação do governo vai ter um efeito ‘psicológico’ nos produtores que ainda contam com estoques”, diz.
Atualmente, a alíquota de importação do produto adquirido de países fora do Mercosul é de 10% para arroz em casca e de 12% para o arroz beneficiado. Para países que integram o Mercosul (Argentina, Uruguai, Paraguai), a tarifa já é zero, segundo informações do Ministério da Economia.
Importação vai continuar cara
Porém, Viana afirma que não deve haver uma queda muito significativa do preço do arroz. Se, de um lado, a cotação do arroz no mercado internacional continua alta, de outro, o dólar tem rodado próximo de R$ 5,30.
Esses dois fatores dificultam um barateamento da importação, mesmo com alíquota zero para a importação.
Por conta disso, ele avalia que a saca do arroz não vai chegar no Brasil muito abaixo de R$ 100, que é o valor que já vem sendo praticado no país, por produtores nacionais.
Governo decide zerar imposto de importação sobre o arroz para tentar reduzir o preço
Na quarta (9), por exemplo, a saca de 50 kg do arroz em casca no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, fechou a R$ 104,39, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Para o pesquisador da Esalq, o preço do arroz só deve começar a cair a partir de março ou abril de 2021, meses em que a safra do grão no país está em seu auge.
Segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a colheita do próximo ano será maior.
“A próxima safra começa a ser plantada hoje e esse arroz começa a ser colhido em meados de janeiro. Teremos uma safra bem maior, pois o agricultor vai plantar mais arroz porque teve um preço que remunerou a atividade. Então, ano que vem teremos um estoque bem maior do arroz”, disse ela, na quarta (9).
Por que o preço do arroz está em alta?
Segundo especialistas, a elevação do preço do arroz se explica por uma combinação da valorização do dólar em relação ao real e do crescimento do consumo no Brasil.
A taxa de câmbio elevada incentivou, por um lado, os produtores nacionais a venderem mais produtos ao mercado externo e, por outro, desencorajou as empresas a importar, diz o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz), Mário Pegorer. Isso acabou resultando em uma diminuição da oferta no mercado interno.
De janeiro a junho, as exportações brasileiras de arroz cresceram 67,3%, a 982,9 mil toneladas, enquanto as importações recuaram 11,6%, a 373,5 mil toneladas, segundo a Abiarroz.
“No primeiro semestre, nós deixamos de importar arroz dos nossos principais parceiros, que são Paraguai, Uruguai e Argentina. Nós temos tarifa zero com eles, mas o câmbio estava mais elevado do que agora. E, como a gente tinha arroz no mercado interno – era auge da safra – acabamos não trazendo arroz de lá”, explica Perorer.
No dia 13 de maio, por exemplo, o dólar chegou a bater a sua maior cotação do ano em relação ao real, ao alcançar patamar recorde de R$ 5,90.
O crescimento do consumo no Brasil também estimula o aumento de preço não só do arroz, como também de outros itens da cesta básica, como óleo de soja, feijão e carnes.
Os recursos injetados via auxílio emergencial, por exemplo, foram direcionados, em grande parte, para a população mais pobre do país, que tem uma cesta de compras formada, em sua maioria, por produtos básicos, como alimentos.
“Além disso, a pandemia fez crescer o consumo de arroz em casa a partir do momento em que as pessoas voltarem para as atividades fora do lar, é esperado que haja uma diminuição desse consumo”, diz Lucilio.
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