Coronavírus: escolas infantis de Campinas têm 1,1 mil contratos cancelados e demitem ao menos 129 profissionais, diz estudo

Instituições atendem bebês e crianças de 0 a 5 anos e reivindicam junto às autoridades a inclusão como serviço essencial. Pesquisa aponta que maioria enfrenta risco de encerrar atividades até setembro, mês definido por SP para reabertura. Sala vazia de berçário de escola infantil particular de Campinas durante a pandemia do novo coronavírus.
Rose Campos/Arquivo pessoal
Escolas particulares de ensino infantil de Campinas (SP) lutam para não fechar as portas durante a pandemia do novo coronavírus. As instituições atendem crianças de 0 a 5 anos e já registraram pelo menos 1.124 contratos cancelados de alunos e 129 demissões de profissionais desde o início da quarentena, em 23 de março. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo G1.
A cidade possui 79 instituições de ensino desse porte autorizadas pela prefeitura a funcionar – todas recebem o selo “Escola bem legal” do município. Um grupo formado por diretores reúne 70 destas escolas, e entregou nesta semana à prefeitura o protocolo sobre a reabertura responsável das unidades de ensino. O grupo também realizou uma pesquisa diante da crise enfrentada pelo setor. [Veja detalhes abaixo]
Setembro foi o mês definido pelo Governo do Estado de São Paulo para o início da retomada das aulas nas escolas de todos os níveis, particulares e públicas, isso se todo o estado estiver há ao menos 28 dias seguidos na fase 3 – amarela de flexibilização da economia. A regra depende da taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva (UTI), que deve ficar entre 60% e 70%. Na contramão desta expectativa, a região de Campinas foi classificada na fase vermelha nesta sexta (3) por ter o índice superior a 80%.
No entanto, o estudo feito pelo grupo de escolas aponta que a maioria enfrenta o risco de encerrar as atividades até setembro. Para Rose Campos, diretora da Escola Infantil Elefantinho Azul, que existe na cidade há 31 anos, o setor deveria ser incluído na lista de serviços essenciais.
“Você continuaria pagando uma mensalidade de R$ 1 mil, R$ 800, R$ 2 mil para uma criança de 1 ano? A pessoa que contrata de 0 a 3 anos, ela contrata porque ela precisa. Ela precisa de um lugar seguro, de pessoas com as quais ela estabeleça um vínculo de confiança, para deixar um bebê de 5 meses, 6 meses, às vezes 4 meses.”
“A gente está falando de atender um público que vai ser atendido em outro lugar. Que essa mãe não tem condições de ficar em casa e simplesmente abrir mão desse emprego. Ela já contratou uma escola particular, um berçário, uma escola de educação infantil, porque ela precisa desse serviço. E nós deveríamos, sim, ser considerados como essenciais”.
“E dê a liberdade ao pai que deseja escolher o retorno. A gente não está dizendo que vai obrigar que todas as crianças voltem e que não vai continuar com o ensino não presencial. A gente está dizendo que nossos clientes estão indo embora, e que ninguém está entendendo a gravidade de uma faixa etária tão específica”, completa a diretora.
Assim como as escolas da rede pública, as infantis particulares respondem à Prefeitura de Campinas. Crianças a partir de 6 anos são matriculadas em instituições de ensino fundamental, cuja responsabilidade é do estado, seja no caso das privadas ou públicas.
Setor em risco
Das 70 escolas que integram o grupo, 59 responderam a questões sobre risco de fechamento, demissão de funcionários e cancelamentos de contratos de estudantes. Segundo Rose Campos, nenhuma das instituições que integram o grupo encerrou as atividades.
76% das escolas que responderam a pesquisa tiveram mais de 20% dos contratos cancelados.
Algumas tiveram mais de 50% dos contratos desfeitos.
Há escolas que chegaram a mandar mais de 40% do efetivo embora.
A maioria (71%) demitiu até 10% dos profissionais.
Em relação aos números absolutos dos reflexos da pandemia, 53 das 70 escolas responderam:
1.124 contratos foram cancelados entre 23 de março e 1 de julho.
129 demissões no mesmo período.
Taxa média atual de inadimplência de 20,38%.
No caso da escola da diretora Rose, eram 91 alunos em março e o número de matrículas caiu para 74 em julho.
“20% de cancelamentos e, em média, 35% de desconto. Só não perdemos mais porque reduzimos demais as mensalidades, pois pais tiveram redução de renda. E em outros casos, berçário por exemplo, os descontos são ainda maiores para que não haja o cancelamento”, conta a professora, que afirma manter abatimentos de até 80% da mensalidade para conseguir pagar as contas da escola.
Rose tenta um empréstimo bancário e o crédito emergencial no pelo Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Ela avalia que é a única maneira de seguir em frente.
“A gente já segue protocolos rígidos, a gente já tem atenção, isso é o universo da escola infantil, principalmente na faixa etária de 0 a 3 anos, que depende do nosso olhar até para perceber se um bebê está com febre. […] Se eu não tiver um empréstimo… Não sei o que farei nos próximos meses”, completa.
Sala de aula com cadeiras suspensas em escola infantil particular de Campinas, fechada na quarentena contra o avanço da Covid-19
Rose Campos/Arquivo pessoal
Plano de ação aprovado pela prefeitura
A Secretaria de Educação de Campinas confirmou o recebimento do protocolo desenvolvido pelas escolas de educação infantil. Informou que se trata de um plano de ação e que ele está aprovado, mas depende ainda do cumprimento do cronograma definido pelo Plano SP.
“Este documento já foi analisado pelas secretarias de Saúde e Educação e está aprovado, no entanto, as escolas só podem voltar mediante decreto do governador, que está previsto para setembro”, diz o texto da Pasta.
O protocolo destaca, além das necessidades das escolas e dos pais dos alunos, a manutenção de cerca de 1 mil vagas de emprego dos profissionais ligados ao setor, direta ou indiretamente. E também sugere, por exemplo, as seguintes medidas:
Atendimento escolar com, inicialmente, até 50% dos alunos matriculados, garantindo assim o distanciamento social.
Prioritariamente o atendimento será feito para famílias que tenham ambos os responsáveis estejam trabalhando.
Realização de triagem de pais em relação ao histórico de Covid e exigência de exames médicos da criança.
A entrada na escola só será permitida após aferir a temperatura dos funcionários e alunos.
Monitoramento dos sintomas do coronavírus.
A higienização das mãos será feita com água e sabonete líquido antibacteriano ou, na impossibilidade, será usado álcool gel 70%.
As mãos serão higienizadas na entrada na escola, a cada troca de atividades, a cada troca de ambiente, antes e após as refeições, após uso do banheiro, antes e depois de cada troca de fraldas, ao tocar no nariz ou boca.
Obrigatório uso de avental e luvas descartáveis a cada troca de fralda.
Proibido uso de uniforme fora do ambiente escolar, deve ser feita a troca de roupa nas dependências da escola, em local determinado e higienizado, a fim de não trazer nenhum tipo de contaminação do meio externo para o interno.
Obrigatório uso de máscara descartável em todo ambiente escolar.
Limpar e desinfetar frequentemente os objetos comuns e superfícies com o auxílio do álcool 70% ou solução de água com água sanitária.
Será desenvolvido programa de treinamento para crianças enfocando o acolhimento aos sentimentos e informações sobre a nova realidade por todos vivida, enfocando o distanciamento social.
Formas erradas e corretas de usar máscara de proteção contra o coronavírus
Arte/G1
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