Corona-juros: recessão, pandemia, desemprego e juros elevados

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Quando ouvimos que o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa de juros Selic para 3,75% ao ano, fica difícil compreender,  de imediato, a abrangência desse tema. Cada 1% cortado na taxa Selic importa na economia, para o Brasil, de R$ 45 bilhões ao ano no custo da dívida pública brasileira. Ou seja, apenas 2% a menos na taxa equivale a toda a redução conseguida com a propalada Reforma da Previdência, um assunto polêmico que tem movimentado o país nos últimos tempos. Pois bem, é exatamente isso: dois pontos percentuais de diminuição da Selic representam uma economia para o Brasil de R$ 900 bilhões em dez anos.

No modelo de eficiência que é o Japão, a taxa de juros anual é negativa. Nos Estados Unidos, zero. Países da União Europeia, como Alemanha, Itália, Espanha, França e Portugal, também zeraram a remuneração financeira. No Chile, é de 0,5% ao ano. Taxas bem mais altas, porém, podem ser encontradas em países como Argentina e Venezuela. Por que, então, o Brasil mantém exorbitantes 3,75% ao ano, mesmo neste momento de crise mundial, recessão e desemprego provocados por conta da pandemia do coronavírus? 

É imperioso uma mudança de rumo, inclusive com a convocação de reunião emergencial do Copom para avaliação desse impacto nas contas do país, ora forçado a se endividar para socorrer população e empresas. O Brasil, para conter o avanço da dívida soberana, deve zerar a taxa Selic.

Nem se questiona, por ora, os imorais juros cobrados pelo sistema financeiro, na ponta, para  a população, uma afronta a quem necessita de reforço financeiro. Protesta-se, neste espaço, contra a remuneração ainda absurdamente elevada, mesmo após as relevantes quedas de patamar ocorridas no último ano, oferecida aos credores da dívida pública nacional. Atualmente, mais de 50% de toda a arrecadação brasileira é destinada à rolagem da dívida e ao pagamento de juros – pagamentos parciais –  ao sistema bancário, grande beneficiário dessa sangria sem fim. Esse verdadeiro assalto ao dinheiro público, antipatriótico, proporciona lucros exorbitantes aos bancos públicos e privados.

É correto e justo apenas nove pessoas – o presidente do Banco Central e mais oito diretores da instituição formam o Copom – decidirem, por todo o Brasil, quanto deve ser a remuneração dos R$5 trilhões da dívida pública atual? Não é por menos que, nos últimos anos, os ministros da Economia e os presidentes do Banco Central são todos oriundos do sistema financeiro. 

Há muito não se escala algum renomado empresário, conhecedor das dificuldades para manter produtivos os setores industrial, agrícola pecuário e do comércio para tomar as rédeas desse obscuro entrave no crescimento do Brasil. 

*Félix Mendonça Jr. é deputado federal, presidente estadual do PDT-BA.