Conheça os bastidores da gravação do São João Sinfônico da Osba

Com certeza está difícil superar a falta que o São João fez esse ano. Não só pelo forró raiz e bom de se ouvir, ou pelas comidas típicas de dar água na boca, mas também pelo quentinho no coração que a festa dá. E essa saudade não bateu só em quem compareceria às festas e adora um clima junino, mas também em quem produz essa cultura tão popular na Bahia. E não tem como falar de cultura baiana sem citar a Osba, a Orquestra Sinfônica do Estado da Bahia.
Os consertos temáticos fazem parte da história do grupo e esse ano tiveram que ser adaptados para o mundo virtual. “Foi a forma que encontramos de nos aproximar do público, da cidade e trazer o que tem de melhor da música e cultura baiana, que é o que sabemos fazer”, avaliou o músico Hélio Góes, 28, integrante da Osba, e um dos responsáveis pela produção do São João Sinfônico da orquestra, que foi lançado na noite desta terça (23) e ganhou edição especial neste clima de quarentena.
Isso porque uma dos principais títulos musicais da história do forró, Esperando na Janela, originalmente interpretado por Targino Gondim, ganhou uma nova versão para ser cantada em tempos de isolamento. E não há ninguém melhor para interpretar os novos versos da canção do que Gilberto Gil, considerado padrinho da Osba, que abre a lista de convidados presentes na gravação. Além de Gil, o show teve também participações de Geraldo Azevedo, Mariana Aydar, Bule-Bule, João Cavalcanti e Marcelo Caldi.
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Geraldo Azevedo e Mariana Aydar no São João Sinfônico (Foro: Reprodução) |
A paródia, que foi escrita por Edu Krieger, substitui a história de amor original. Se antes não era possível se segurar com a amada esperando na janela, a nova letra alerta: Mas eu não vou na casa dela, ai ai / Pois o melhor é ter cautela, vai / Pro virtual a gente apela, ai ai / Pro laptop ou celular. Maestro da Osba, Carlos Prazeres destaca que a letra caiu como uma luva para ser interpretada por Gilberto Gil.
O convite agradou Gil, que se encantou com a melodia e com a letra: “Dessa vez cantei a música esperando que a janela se abra de novo, para que eu possa ir na casa dela”, brincou.
E a adaptação de Gil para a nova versão só reforçou a escolha feita por Prazeres: “É um artista que se atualiza, está conectado com as novas ferramentas, então quando planejamos em trazer uma mensagem conectada com a pandemia, só pensamos neles, é a cara do Gilberto Gil. E é isso que precisamos hoje, colaborar com o governo e prefeitura e levar o exemplo de prevenção na pandemia”, afirmou o maestro.
Para Gil, a paródia, além da qualidade técnica, é bastante pertinente: “Achei a paródia feita pelo Edu, que é um amigo, muito bem feita, elegante. Faz uma brincadeira com a quarentena e isolamento social de uma forma muito bem humorada, com recursos e fragmentos de boa poesia e boa rima”, avaliou o cantor.
“Tinha planejado como ficaria o clipe e depois descobri que na verdade era uma paródia! Perdi tudo o que tinha pensado mas pensei: ‘poxa, que sacada boa!’”, revelou Hélio, aos risos, sobre a música interpretada pelo cantor baiano
Produção à distância
E o desafio de levar o show, com quase meia hora de duração, para as telas de cada um dos espectadores, passou desde a escolha do arranjo junino, feitos por Marcelo Caldi e Jean Marques, até o processo de sincronizar, mixar e masterizar todos os áudios e vídeos enviados pelos músicos.
E esse trabalho ficou nas mãos de Hélio, que toca trombone, e do violinista Ivan Quintana. E a principal dificuldade, claro, foi a distância: “Nós músicos, principalmente em orquestra, somos treinados e estudamos para tocar em grupo. Isso torna tudo mais fácil, estar em sintonia através do contato visual e os estímulo sonoro dos outros instrumentos”, explica Ivan.
Para que cada músico gravasse em sua própria casa e o resultado fosse o som harmônico, Hélio e Ivan dividiram os músicos da Osba em grupos, que interpretam algumas das canções presentes no vídeo. “É importante perceber para quem ou qual instrumento dou o destaque, saber se alguém vai se sobrepor. Esse é um momento que temos que ter sensibilidade”, destacou o trombonista.
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Os arranjos misturam as melodias da orquestra com o tradicional trio nordestino (Foto: Reprodução) |
E a saudade daquele show do São João da Osba vai ficar até o ano que vem. Até lá, fica na expectativa de mais um show virtual do grupo, como brincou Hélio, dando um pequeno spoiler do que pode rolar no dia 2 de julho, comemoração da Independência da Bahia. “É ruim para nós ficarmos sem poder tocar junto, porque é uma grande satisfação fazer parte da orquestra. Mas apesar do desafio, o resultado sempre compensa. Precisamos estar sempre presentes para o público, independente do contexto”, finalizou Ivan.