Celulares ficam mais caros na pandemia. Saiba o porquê

Sim, a impressão de que celulares aumentaram de preço – e bastante, em alguns casos – nos últimos meses é verdadeira. Não são poucas as pessoas que buscaram um aparelho em meio à pandemia do novo coronavírus e se surpreenderam com os preços.

“Minha pesquisa para modelos da LG. Eu queria um entre R$ 700 e R$ 800. O mais em conta que estou encontrando é o LG K50s que está acima de R$ 900”, conta a nutricionista Gisele Souza, 35 anos.  “Só estou procurando em sites oficiais de lojas eletrônicos e na Amazon. Por enquanto, estou só na pesquisa e ainda não decidir se vou comprar”, diz.

O almoxarife Igor Sousa, 26, também está na espera por um preço melhor do aparelho que deseja. “Meu modelo antigo é um Alcatel A7 Power. Primeiro defini a faixa de preço que queria pagar, que é em torno de R$ 800, podendo variar R$ 100 pra mais ou pra menos”. Após pesquisa em blogs e canais do YouTube, definiu o mesmo LG K50s, além do LG K40s, como alvos.

“Tem um vídeo do canal brasiligeeks de 10 de abril, em que encontraram o K40s por até R$ 589 e o K50s, por R$ 709. No mesmo canal, um outro vídeo diz que, no lançamento, em 9 de fevereiro, ele poderia ser encontrado por R$ 790 a R$ 900.  Até agora, nunca vi o K50s baixar de R$ 900. Hoje, dentre os sites confiáveis, sem marketplace, o melhor preço é R$ 949”, diz Igor, que pesquisa os preços em diversas lojas virtuais.

Quem também ainda aguarda uma promoção é o funcionário público Daniel Reis, 28. O pai dele, Mário, 57, foi assaltado no final de março e teve roubado o Samsung A20 que tinha. “Eu comprei esse celular pra ele por R$660 em novembro. Hoje, o equivalente é A20s, que tá custando mais de R$ 1.000. Como ele gostou muito da marca e modelo, eu vou esperar uma promoção para comprar o mesmo”, conta Daniel.

Monitoramento no Zoom mostra aumento do preço do Samsung A20s nos últimos meses (Foto: Reprodução)

Já servidor público Sérgio Augusto Torres Júnior, 32, conta que teve que investir mais do que o costume para comprar um celular novo para o pai. “Sempre mantenho o mesmo padrão de aparelho. Gastando por volta de R$ 1.000, no máximo. Esse ano, infelizmente, fiquei com a impressão de que tive que investir mais (por volta de R$ 300) para adquirir um aparelho, três anos depois, com o padrão médio que eu sempre tive”, revela.

Alta
Todas essas impressões refletem a alta de até 266% no valor dos celulares no primeiro trimestre, segundo a IDC Brasil, empresa que analisa o mercado de tecnologia. Em média, o aumento foi de 15%, segundo o estudo divulgado no início de julho. 

“O preço dos eletrônicos, como um todo, vem sendo afetado durante a pandemia e não apenas pela alta do dólar. A dificuldade de importação dos produtos ou das peças para linha de produção, e até a demanda pelo item pode fazer com que os valores praticados no comércio tenham uma variação”, diz Leonardo Oliveira, especialista em Produtos do site Zoom, que monitora preços de diversas lojas. “Com o smartphones não é diferente. Muitos deles vêm de fora ou usam componentes exportados para serem fabricados no Brasil, e com isso, os preços são impactados”.

De acordo com ele, durante a pandemia, os brasileiros passaram a procurar celulares mais básicos, de até R$ 1.000, o que, talvez, seja uma consequência desse aumento de preços. “São aparelhos que vão atender as necessidades, com um preço que caiba no orçamento”. 

Segundo a IDC, mesmo com uma queda de 8,7% nas vendas, a receita do comércio aumentou no primeiro trimestre do ano. Nesse período, o mercado de celulares movimentou R$ 14,5 bilhões, alta de 6,25%. 

“Smartphone lidera o ranking de categorias mais buscadas no Zoom ao longo de todo o ano. Na pandemia, essa procura não mudou, uma vez que o online ganhou ainda mais relevância na vida das pessoas em atividades cotidianas. Esse dispositivo é um grande democratizador da internet no Brasil”, opina Oliveira.

Números
De acordo com o Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (FGVcia) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), em estudo divulgado em junho, já há 424 milhões de dispositivos digitais – computador, notebook, tablet e smartphone -, em uso no Brasil. Ou seja, dois dispositivos para cada habitante. 

Em relação a celulares, o relatório de Economia Móvel de 2019, da GSMA, empresa de análise da área, o país terminou o ano passado com cerca de 204 milhões de aparelhos. Já de acordo com a consultoria AppAnnie, o Brasil ficou na 3ª colocação no ranking dos países em termos de tempo gasto em apps, levemente acima da média, com 3 horas e 45 minutos, atrás apenas de China e Indonésia.