Cacá Magalhães vive num universo em expansão

Aos 14 anos, Cacá Magalhães colhe os frutos de uma trajetória musical iniciada na primeira infância

Maria Júlia, 20, foi a primeira plateia da irmã, que aos quatro anos cantarolava com timbre adulto clássicos do blues e do jazz. Foi também quem disparou o alerta que fez os pais, Izabel e João, colocarem a caçula em aulas de canto. Uma década depois, as duas estão conectadas outra vez pela música. É de Maria Júlia a letra de Poeira de Estrelas, single que marca a estreia solo de Cacá Magalhães.

A parceria entre elas, que nasceu na pandemia, já rendeu mais de 20 canções. “Aqui em casa, a criatividade sempre rolou na madrugada e com nossas composições não foi diferente”, conta Cacá. Liberdade, aliás, é o tema central de Poeira de Estrelas. “É uma música política, defende todas as formas de amor em um mundo de ódio e preconceitos”, diz Maria Júlia.

A canção, que tem arranjo e produção do guitarrista Theo Silva, ganhou as principais plataformas de streaming do país na última sexta, na sequência orgânica de uma trajetória marcada pela dedicação. Por essa razão, entre muitas outras, soa clichê rotular Cacá apenas como prodígio. A despeito da inegável vocação, ela encara o aprendizado como parte essencial do processo.

Para Theo Silva, essa qualidade ficou evidente logo de cara: “Eu fiz a pré-produção e os arranjos da música, que tem uma letra muito forte, e enviei para ela. Nós fomos discutindo até finalizarmos. Só depois escolhemos a banda”.

Conexões musicais
No estúdio A Lagoa Grande, em Salvador, seguindo todos os protocolos de segurança, Theo e Cacá se encontraram para a gravação. Para o músico experiente, uma surpresa:

“Foi incrível perceber o compromisso dela com a música. Ela sabe o que quer, e isso é incrível por ser tão jovem. Ela ouve todas as dicas com atenção e extrai o que é bom” – Theo Silva

Aluna do Conservatório de Música Mozart, em Lauro de Freitas, desde os quatro anos, Cacá é lembrada pelos professores Heber Coutinho e Stela Campos por sua personalidade forte e pela determinação em aprender o máximo. Ao contrário de outras crianças da mesma idade, ela costumava sugerir o repertório para as aulas de violão e buscou trabalhar o domínio dos médios e agudos da voz.

Diretor artístico da carreira solo de Cacá, Tito Bahiense reforça o profissionalismo da cantora:

“O mais bonito é a consciência que ela tem de ser uma trabalhadora da música. Não sei de onde essa guria trouxe esse lance, essa experiência musical profunda. Isso me deixa de queixo caído!” – Tito Bahiense

O artista lembra ainda o espanto ao ouvi-la pela primeira vez em 2018: “Confesso que tomei um susto, o timbre transbordava energia”.

Aos 10 anos, após um teste feito por Lon Bové – cantar a dificílima Get Yo’ Feet Back, do grupo Tower of Power –, Cacá se tornou uma das vocalistas da Terráquea, banda criada pelo músico norte-americano radicado na Bahia, que mescla rhythm & blues à musicalidade brasileira. Foi justamente um vídeo com a interpretação dessa canção que caiu no Youtube e puxou as atenções do país inteiro para ela.

Sucesso nos EUA
Seria normal que, aos 12 anos, Cacá visse o convite para um programa de televisão como o The Voice Kids Brasil, exibido na maior emissora do país, como um atalho para o sucesso, né não? Bom, ela preferiu esperar. Cantava na Terráquea, na Varanda do Sesi, e rodava o país por festivais, como o Back2Black, no Rio; o Fest Bossa & Jazz, na Praia de Pipa (RN); e o Blues Jazz, em Serra Grande, sul da Bahia.

Foi no final do ano passado que pintou o convite que desenharia a carreira solo: participar de Little Big Shots, série musical da rede norte-americana NBC, criada por Ellen Degeneres e apresentada por Melissa McCarthy. Aplaudida de pé, Cacá cantou I Put a Spell on You, de Screamin’ Jay Hawkins. No palco, o que se vê é a simplicidade de uma adolescente de 14 anos e a segurança de uma intérprete com dez anos de estrada.

Ela conta que recebeu um e-mail da diretora de casting da NBC, Kat Erangey, que havia assistido alguns de seus vídeos cantando jazz e blues no Facebook. “Ela gostou e resolveu me convidar. Como o programa apresenta talentos do mundo inteiro sem nenhuma competição, eu topei”, conta Cacá.

Em janeiro deste ano, ela viajou para Los Angeles. De início, seria apenas uma canção. A produção e a plateia pediram bis e ela retornou ao palco no fechamento do programa. “Cantei a música que mais me marcou até agora, Feeling Good!”, lembra. E a carreira entra numa fase decisiva, de acordo com Tito Bahiense, na qual será preciso administrar vários compromissos profissionais.

Segundo o diretor artístico, que Cacá costuma chamar carinhosamente de Mestre, tudo sinaliza para um 2021 bem agitado para a dupla. “São convites para assinar contratos com grandes selos fonográficos, gravações com importantes artistas da MPB, participação em programas de TV, shows coorporativos, lives e, ao mesmo tempo, trabalhar a divulgação de Poeira de Estrelas”, adianta Tito.

A gravação de um álbum para chamar de seu, no entanto, ainda está indefinida. Mas Cacá garante que um EP logo deve chegar ao mercado: “Além disso, daqui a mais ou menos um mês, lançarei nas plataformas digitais o cover de um clássico do rock brasileiro que tive a honra de gravar com um de seus compositores. Não posso falar muito sobre essa gravação, mas aguardem, prometo que valerá a pena!”. Alguém aí tem dúvida?