Bom Juá se torna 'faixa de Gaza' da disputa entre BDM e Ajeita

Uma força tarefa com cerca de 80 policiais ocupou o bairro de Bom Juá nesta quarta-feira (28)

Não é à toa que o bairro de Bom Juá virou palco recente da demonstração de força de traficantes. Geograficamente, o local está na região de Fazenda Grande, de domínio do Bonde do Maluco (BDM). Mas o final de linha está a 20 metros da comunidade do Marotinho, em São Caetano, onde o tráfico é liderado pela facção Ajeita. A curta distância faz com que os moradores se sintam na Faixa de Gaza. 
“Nunca vi tantos.  Só quem vive aqui sabe o que passamos”, disse um morador ao CORREIO, fazendo referência ao domingo, quando traficantes do Ajeita promoveram momentos  de terror no local. Durante a invasão do território do BDM, homens armados trocaram tiros,  mataram um rival e, na saída,  puseram fogo em um carro. Toda a ação foi filmada e compartilhada nas redes sociais. Nas imagens, bandidos ostentam armas de diversos calibres.  

Em resposta, a Secretaria de Segurança Pública realizou uma operação e instalou uma base no local. “Estamos no epicentro do problema entre o BDM e o Ajeita, o final de linha de Bom Juá. Tudo sempre desencadeia daqui porque os dois grupos disputam o Bom Juá”, explica o comandante da 9ª Companhia Independente da PM  (Pirajá), o tenente coronel Jamerson Queiroz.

 No tiroteio de domingo, Ederson Costa Lima, 30, foi assassinado na Rua Direta do Bom Juá, atrás do Colégio Municipal Bom Juá. “Ele foi morto pelos rivais do Ajeita. Estava com os demais do BDM, quando foi surpreendido”, conta o tenente-coronel. O cenário atual levou a polícia a ocupar Bom Juá e a localidade do bairro chamada Nó de Paus com a utilização de cerca de 80 policiais por tempo indeterminado. “Não temos nem dia nem hora para sair. Aqui, a gente mostra para a sociedade a presença do Estado; não é um grupo criminoso que vai intimidar as ações da polícia”, afirma o comandante  da Polícia Militar Anselmo Brandão.

Além do emprego de viaturas, helicóptero e incursões, policiais de moto vão circular pelo Bom Juá. “A polícia sobre duas rodas tem mais facilidade para chegar a todos os locais. São sete PMs em grupos e assim conseguimos abranger com mais eficácia a região”, explica Queiroz. 

Desde o domingo, quando houve o tiroteio, que moradores evitavam sair de casa à noite. Agora, com a polícia, dizem que estão seguros, que com a polícia lá vão poder sair de casa. “Enquanto os policiais estiveram aqui, estamos seguros, porque toda essa ação inibe eles. Só espero que a saída da polícia não seja tão rápida, porque estamos pedindo socorro”, declarou uma moradora. Outro morador diz que a polícia deveria ser mais efetiva na região: “Por que em bairros nobres a policiamento é constante? Moro aqui e trabalho na Barra. Lá, vejo viatura subir e descer toda hora”. Um Morador antigo diz que lembra do Bom Juá tranquilo:  “Vivo aqui há quase 70 anos e nunca vi aquela cena. Foi pior que um faroeste. Estava em minha casa, chegaram atirando na rua”

Ocupação
Cerca de 80 policiais militares voltaram a ocupar o bairro do Bom Juá,  após crescimento no índice de violência e relatos de tiroteios em disputas de traficantes da região. Essa ocupação se estende à Avenida San Martin e ao Retiro. Não há prazo para  a operação terminar. 

Na manhã desta quarta, o comandante geral da PM, o coronel Anselmo Brandão, esteve no local, reuniu a tropa que faz parte da ação e estabeleceu as diretrizes da ocupação:  “Permaneceremos aqui até que seja reestabelecida a paz e a tranquilidade para a comunidade”. Em abril deste ano, outra ação similar na região durou 45 dias. Na oportunidade, a ocupação foi realizada após a região registrar 32 homicídios entre 1º de abril e 15 de maio. Agora, o bairro voltou a apresentar grande  violência: foram sete homicídios registrados entre a última sexta-feira e o domingo.

 Além disso, vídeos circulam nas redes sociais mostrando traficantes ostentando armas, o que também contribuiu para a ocupação de ontem. Nos vídeos, que   revelam tiroteios em Bom Juá e na Fazenda Grande do Retiro,  é possível ouvir que os suspeitos se provocam e fazem insinuações sobre tráfico de drogas.

 “Foram quatro meses praticamente sem homicídios. Havia baixado em relação aos anos anteriores. Agora, como um grupo começou a ameaçar o outro, nós já identificamos os cabeças e estamos correndo atrás. A Polícia Civil já pediu a prisão preventiva deles”, disse o tenente-coronel Jamerson Queiroz. 

Moradores do bairro dizem que se sentem seguros com a presença da PM, podendo sair de casa mais tranquilamente. Eles temem, contudo, que a PM fica um período na região e, quando sair, que tudo volte  a ser como era antes.  Além da 9ª CIMP (Pirajá), participam da ocupação policiais do Patrulhamento Tático Móvel (Pantamo), o Grupamento Aéreo da PM (Graer), a Operação Gêmeos e Apolo e as Rondas Especiais (Rondesp).