Bolsonaro infectado e suas consequências

Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)

A moderação encarnada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas semanas pode fazer com que, para além dos efeitos clínicos da doença – que ele diz serem leves –, sejam brandos também os sintomas políticos causados pela infecção.

Há quase 20 dias, e por motivos que passam ao lado da pandemia, Bolsonaro foi convencido a esconder o perfil agressivo para assumir papel mais defensivo. O Bolsonaro “low profile” tem mais a ver com os revezes que teve nos embates com o Judiciário, mas isso é assunto para outro texto. Por ora, este perfil tem ajudado a baixar a temperatura, coisa muito positiva.

Tivesse sido contaminado aquele Bolsonaro que participava de atos em frente ao Palácio do Planalto sem máscara e batia boca com a classe médica, com o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional diariamente, a pressão política sobre o presidente certamente seria maior agora.

Isso não fará com que se apague o histórico de menosprezo do presidente pela doença. Até porque ele cometeu uma série de equívocos ao anunciar que estava contaminado – entre eles o de refirmar seu comportamento negacionista e de dizer que jovens têm chance “quase zero” de ter complicações com a covid-19, além de fazer promoção da cloroquina, que segue sem comprovação científica. Isso não tem cara de que vai mudar. Na verdade, com uma eventual cura de Bolsonaro, a tendência é o debate neste ponto ter uma intensificação.

Mas na entrevista valeu mais o tom do que o conteúdo. Ao deixar enfrentamento e politização excessiva de lado, o presidente mostra a intenção de trabalhar com o diagnóstico para manter o comportamento recente.

Evidentemente o quadro depende da evolução clínica, mas Bolsonaro diz que pretende continuar despachando do Palácio da Alvorada e realizando videoconferências. Tentará dar ar de normalidade ao dia a dia do governo.

Nesse ponto, deve ser notado que boa parte do primeiro escalão esteve recentemente com o presidente e passará por testes também. Aqui há um ponto importante: desde a semana passada, Paulo Guedes teve pelo menos cinco audiências com Bolsonaro – segundo a agenda oficial, a última delas ontem.

Recomendamos atenção aos resultados dos exames da equipe de governo. Alguns destes diagnósticos, até mais do que o de Bolsonaro, teriam potencial de alteração mais forte do cenário econômico e político.

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