BC diz que bancos não conseguem satisfazer ‘surto’ de demanda por crédito e promete novas medidas
Diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, apontou que demanda por empréstimos em meio à pandemia está avançando em ritmo mais forte que a oferta. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou nesta sexta-feira (5) que, apesar de o crédito para as pequenas e médias empresas do país estar “fluindo”, a demanda por empréstimos durante a pandemia tem sido superior à oferta. Por esse motivo, disse ele, o BC deve anunciar nos próximos dias novas medidas para ampliar o acesso de empresas a financiamentos.
“As empresas não têm caixa. Mas [o crédito] está fluindo, está chegando nas pequenas? Está. A gente vai aperfeiçoar algumas coisas, mas a gente tem notado que está chegando sim nas pequenas empresas, está funcionando direitinho. É uma das incompreensões que a gente está achando injusta. Está indo, mas por que as pessoas reclamam? Porque a demanda por crédito subiu tanto que a oferta, apesar de ter subido bastante, não está conseguindo satisfazer o surto imenso de demanda”, declarou.
Em videoconferência promovido por uma instituição financeira, o diretor do BC também afirmou que o a instituição está trabalhando para aumentar a oferta de crédito, e acrescentou que novas medidas devem ser anunciadas neste sentido, mas não quis antecipá-las. “O BC pode fazer a mais. Eu vou me limitar a resposta porque a gente vai anunciar coisas a mais em breve. Não posso dar ‘spoiler’ aqui”, declarou.
Kanczuk avaliou que é natural que a demanda por crédito se concentre nas empresas neste momento, pois as pessoas físicas mais “abastadas'”, afirmou ele, não precisam do crédito pois consomem suas poupanças. “E a pessoa menos abastada tem um risco tão grande que tem uma dificuldade muito maior de ter crédito mesmo. E aí tem os programas diretos do governo, que ela recebe a transferência direta [benefício emergencial], não vai aparecer”, explicou.
Sobre os dados do mercado de crédito de abril, divulgados recentemente pelo Banco Central, o diretor observou que o estoque total de crédito ficou estável, mas, ao mesmo tempo, ocorreu queda de novas concessões. Segundo ele, isso tem a ver com uma medida adotada pela instituição: a que libera os bancos de fazerem provisões [apartar capital em seu balanço para eventuais perdas futuras] se repactuar a dívida de empresas e pessoas físicas.
“A pessoa ou a empresa ia pagar, e o banco teria que dar o crédito novo. Mas chega no banco, ele fala: ‘não precisa pagar agora, paga daqui a uns seis meses, um ano’. Isso está acontecendo muito. Isso faz com que o estoque de crédito não caia, crédito não morre, mas não aparece na concessão [novas operações]. Vai abrir uma boca entre estoque de crédito e concessão. Isso vai aumentar conforme mais e mais parcelas vão deixando de ser pagas, e vão sendo repactuadas”, disse o Kanczuk.
Veja as linhas de crédito emergenciais anunciadas pelo governo
A área econômica anunciou, em março, uma linha de crédito para as pequenas e médias empresas pagarem os salários de seus funcionários. Foi disponibilizado um total de R$ 40 bilhões, com juros baixos, de 3,75% ao ano. Uma das regras, porém, é que ela só pode ser acessada caso as empresas não demitam os trabalhadores. Os recursos são depositados diretamente nas contas dos funcionários. Como a adesão foi baixa até o momento, com R$ 2,36 bilhões em crédito contratados até o dia 1º de junho, ela será reformulada.
Outra linha de crédito anunciada foi o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A linha de crédito foi sancionada pelo presidente da República em 19 de maio, para capital de giro (despesas como água, luz, aluguel, reposição de estoque, entre outras), para micro e pequenas empresas, com possibilidade de emprestar até R$ 18 bilhões. Os juros são de 1,25% ao ano, mais a taxa Selic (atualmente em 3% ao ano). Até o momento, porém, ela ainda não foi disponibilizada às empresas. A expectativa da área econômica é que o crédito possa começar a ser contratado na próxima semana.
O governo anunciou nesta semana, por meio de Medida Provisória, uma nova linha de crédito para pequenas e médias empresas. Os empréstimos poderão ser buscados por empresas que tenham tido receita de R$ 360 mil a R$ 300 milhões no ano passado. A taxa de juros, porém, ainda não foi informada. Segundo o governo, até R$ 100 bilhões podem ser emprestados por meio dessa linha de crédito. Entretanto, esse crédito ainda depende de regulamentação e, segundo o governo, só deve estar disponível no fim deste mês.