Banco Central deixa porta aberta para novo corte na taxa de juros, avaliam economistas

Depois de sinalizar que este seria o último corte, comunicado do Copom fala que “eventual ajuste” da taxa Selic deverá ser menor. Fachada Banco Central do Brasil
Reprodução/JN
O corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros nesta quarta-feira (17) veio dentro do esperado pelo mercado financeiro, mas o comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deixou a porta aberta para um novo corte nos juros à frente. A mudança de postura em relação ao início de maio gerou desconfiança de parte dos economistas ouvidos pelo G1.
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Naquela ocasião, o Copom havia reduzido a Selic de 3,75% para 3% ao ano, dizendo que “um último ajuste, não maior do que o atual” deveria completar o grau de estímulo necessário para a reação às consequências econômicas da pandemia do novo coronavírus.
Já nesta quarta-feira, o Copom afirmou que “vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual”, ou seja, um corte menor.
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Outro sinal truncado foi o fato de o Copom indicar que pode desrespeitar a meta de inflação também em 2021.
Em 2020, a falha é esperada. O piso da meta de inflação é de 2,5%, enquanto o consenso de mercado prevê que o IPCA ficará em 1,60% neste ano. Mas, dentro da comunicação do Copom desta quarta-feira, a meta estabelecida para inflação em 2021 é de 3,2% contra um piso da meta de 3,75%.
“Faz sentido desistir de perseguir a meta em um momento como o de pandemia, mas ainda temos 18 meses para o fim do ano que vem. Não dá para jogar a toalha”, diz o economista Alexandre Schwartsman.
Além de um possível descumprimento da meta, o economista acredita que o vaivém do Banco Central a respeito dos cortes tira a credibilidade da comunicação das reuniões. Schwartsman acredita, portanto, que o corte deveria ser mais profundo.
“Em março aconteceu a mesma coisa e o corte não estava nem perto do adequado. Quando chegar a próxima reunião, precisará de mais um corte”, diz. “É muito ruim quando se começa a desacreditar no Banco Central. Parece uma tolice, a promessa.”
O economista Juan Jensen, da 4E Consultoria, também chamou a atenção para a mudança na sinalização do BC, mas avalia que isso reflete o próprio momento de incerteza na economia em função da pandemia.
“No fundo, diante dessa incerteza, fica difícil cravar qualquer cenário. O BC não quis ficar amarrado como no comunicado anterior”, diz.
Para Jensen, quando o BC indica que o próximo um eventual ajuste poderá ser residual, isso indica que se o BC decidir realizar mais cortes nos juros este deve ser menor do que os dois últimos (de 0,75 pontos), ou seja, de 0,25 ponto percentual.
Já o superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil, Mauricio Oreng, avalia que o comunicado do Copom sinalizou cautela nos próximos passos. Para ele, mesmo o BC deixando a porta aberta para um novo corte, ele analisa que a autoridade monetária se mostrou menos propensa a novos ajustes.
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Entre os que consideram positiva a cautela do BC está o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente, Felipe Salto. Para ele, a condução de crise com juros baixos é inédita no país e requer cuidado com o cenário de recuperação no exterior.
“Hoje, há uma retração da trajetória do dólar, mas, se o Fed dá um espirro, tudo muda”, diz. “Como não sabemos da recuperação no ano que vem, se houver pressão no balanço de pagamentos, por exemplo, isso pode gerar pressão inflacionária.”
Salto diz ainda que o BC demonstrou preocupação também com o equilíbrio fiscal, pois uma nova redução pode beneficiar a trajetória de dívida pública.