Bairros de Maceió afetados por rachaduras acumulam ruínas e ruas abandonadas


Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro vão sumindo do mapa à medida que o problema aumenta. Após dois anos, problema se agrava nos bairros de Maceió afetados por rachaduras
Os quatro bairros de Maceió afetados por rachaduras provocadas pela exploração de sal-gema perdem mais moradores à medida que o tempo avança. O problema começou há mais de dois anos, e desde então as moradias vêm se transformando em ruínas abandonadas e as ruas, que antes eram movimentadas, ficaram desertas.
O que se sabe sobre as rachaduras no Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto
A situação mais crítica é a do bairro do Pinheiro, onde as primeiras desocupações aconteceram. Atualmente, a maior parte do bairro agora é composta por imóveis sem telhados, sem muros nem portões, além de terrenos vazios, que sobraram após a demolição de prédios. Mas o mesmo já começa a acontecer no Mutange e em Bebedouro.
O problema das rachaduras começou em 2018, depois de uma forte chuva e um tremor de terra de magnitude 2,5 no Pinheiro. Depois as rachaduras nos imóveis e em ruas surgiram também no Mutange, no Bebedouro e no Bom Parto.
Do apartamento no conjunto habitacional Divaldo Suruagy, onde o corretor de imóveis Maurício Mendes morava, só restaram escombros.
“O sentimento é de tristeza, de perda, de sermos lesados, porque nós estamos sendo lesados. Nós fomos convidados a sair do nosso imóvel, do nosso patrimônio, e depois de três anos a gente não vê a solução, fica empurrando com a barriga, é hoje, é amanhã, é hoje, é amanhã”, disse Maurício.
Imóveis afetados por rachaduras no bairro do Pinheiro, em Maceió, foram desocupados
Reprodução/TV Gazeta
Áreas desocupadas vão se transformar em parque verde
A dona de casa Dilma Rodrigues contou que as rachaduras afetam o psicológico dos donos dos imóveis. A casa dela ainda está rachando no quarto e na cozinha.
“Passo a noite toda acordada. A gente não consegue dormir… é um trauma que só Jesus”, contou.
No Bom Parto, em lugares em que nem passaram por vistoria ainda, os moradores estão amedrontados com uma rachadura no solo que tem causado danos às casas.
O pedreiro José Reinaldo disse que o problema piora a cada dia. “Pode entrar em qualquer casa aqui que você vai ver as rachaduras nas casas… e cada dia pior”.
O técnico de contabilidade Fernando Lima falou em tragédia anunciada. “A questão não é se, é quando vai acontecer. Então nós passamos a quadra chuvosa, graças a Deus não aconteceu nada, mas não sabemos o que vem por aí. Então é muito grave, é preciso urgência na tomada de decisão quanto a isso”.
O Ministério Público Federal em Alagoas (MPF-AL) reconhece que os bairros nunca mais voltarão a ser os mesmos.
“São engrenagens que foram soltas e que não mais voltarão a funcionar. Porque cada pessoa foi pra algum outro lugar da cidade. Então por mais que se recomponha o patrimônio, daquela pessoa, aquele local, aquela região, ela não voltará nunca mais a ser a mesma. Então assim: é um impacto muito grande pra cidade, é um impacto muito grande pras nossas vidas e é um impacto também na atribuição do Ministério Público Federal que tem tratado assim com absoluta prioridade”, disse a Procuradora da República Roberta Bomfim.
Imóveis afetados por rachaduras no bairro do Pinheiro, em Maceió, passaram a ser demolidos por causa do risco de desabamento
Reprodução/TV Gazeta
O risco de desastre tem aumentado, segundo a Defesa Civil de Maceió.
“Pelo que a gente vem constatando, a movimentação é bem considerável, dependendo da região, mas ali próximo da lagoa, na região do campo do CSA e início do Calmon, é onde tem as maiores movimentações de subsidência, ou seja: de variação vertical, de afundamento do solo. Esse monitoramento que a gente faz é dessa subsidência, então naquela região afunda mais. E na região de cima que envolve os bairros de Bebedouro e Pinheiro é onde tem a maior zona de quebramento, né? Que tem os fraturamentos e aí um maior dano as residências”, explicou Antonini Guerrera, geólogo da Defesa Civil de Maceió.
Moradores aguardam indenizações da Braskem
Além de lidar com o sumiço dos bairros, muitos proprietários de imóveis sofrem com a falta de indenização. Proprietários de imóveis que ficam próximo à Praça Lucena Maranhão, em Bebedouro, ainda aguardam definições dos órgãos de defesa e da inclusão das casas no programa de compensação financeira da Braskem, petroquímica que fazia a exploração mineral na região.
A psicóloga Dahiena Ferreira, moradora do local, falou sobre a angústia.
“Precisa colocar todas essas pessoas nesse mapeamento, porque até então as rachaduras estão aparecendo. As pessoas tão sentindo falta de ar, tão tendo distúrbio do sono, estão nascendo mancha na pele, aceleração do coração, então todas essas questões psicossomáticas estão acontecendo com os moradores daqui do bairro”, avaliou a psicóloga.
Moradores de áreas atingidas pelas rachaduras protestam contra valor alto de imóveis
No Pinheiro, também há muita gente sem indenização.
“336 famílias nas unidades habitacionais, dessas 336, somente uma pessoa, que tem prioridade, por ter 93 anos, recebeu. As outras 335 ainda nada. Não sabemos o porquê de tanta demora”, contou o corretor de imóveis Maurício Mendes.
O coordenador do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação da Braskem, Fernando Mota, falou sobre as indenizações, que prevê pagamento de R$ 81,5 mil a proprietários de cada imóvel atingido pelas rachaduras.
“Independentemente dos estudos técnicos, nós adotamos a postura de assumir a responsabilidade pela realocação e indenização das famílias desde janeiro. Estamos fazendo isso tentando ao máximo incrementar nosso programa. O acordo previu que o programa de compensação, ele teria até dois anos e a gente continua trabalhando com essa mesma perspectiva. Inclusive nós estamos intensificando as equipes, aumentando as equipes postas à disposição da população, para atender as pessoas, para antecipar o cronograma. Nós fizemos antecipação de cronograma pra antecipação de propostas em até cinco meses pra algumas áreas”, afirmou Mota.
Área que fica às margens da Lagoa Mundaú já afundou cerca de 30 centímetros por causa da instabilidade do solo, provocada pela mineração na região
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Após desocupação por causa das rachaduras no solo, ruas do Pinheiro, em Maceió, ficaram desertas, transformando o lugar em um bairro fantasma
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Proprietários de imóveis afetados por rachaduras em bairros de Maceió levaram o que podiam, deixando ruínas para trás
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