Baiana é aprovada em seis universidades internacionais e faz campanha para estudar
O sonho de mudar o mundo é desde de quando era criança. Ana Carla Carlos, de 30 anos, sempre se viu movida pelo propósito de ser um agente de transformação, independentemente de onde estivesse. E essa vontade guiou toda sua trajetória até conquistar sua aprovação em um mestrado nas áreas de Estudos do Desenvolvimento e Políticas Públicas em seis universidades estrangeiras que estão entre as melhores do mundo, entre elas, a Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Do bairro de Cajazeiras para o mundo, viu a desigualdade de perto, quando todos seus amigos eram estudantes de escola pública, enquanto ela, com muito esforço da mãe, era a única que estudava em grandes escolas particulares de Salvador, entre elas, o Colégio Villa Lobos.
Ana Carla cresceu em Cajazeiras e contou com muito esforço da mãe para garantir seus estudos (Foto: Acervo pessoal) |
“Ao perceber esta desigualdade, eu vi que queria entender um pouco mais qual era o papel dos governos e das organizações internacionais em garantir esses direitos. Fiz faculdade de Relações Internacionais e percebi mais ainda, que o que eu sempre quis, de fato, era mudar a vida das pessoas e foi nesse momento que eu enxerguei o que queria para mim”, afirma.
O sonho, porém, tem um preço. Entre as seis universidades, Ana optou pelo concorrido Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento (IHEID), na Suíça. A instituição é renomada e de excelência na Europa e fica localizada na cidade de Genebra, sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar de ter conseguido juntar nesses dois anos, R$ 74,5 mil, ainda faltam mais R$ 95,5 mil para arcar com todas as despesas exigidas pelo mestrado e para conseguir morar fora do país.
A viagem está prevista para o mês de setembro. Daqui até lá, Ana Carla está tocando uma vaquinha solidária para juntar o montante de R$ 170 mil, que vai além da doação na plataforma de croudfouding Catarse ou depósito na conta bancária. Ela conta ainda, com um brechó de roupas e um bazar de livros (ambos online) e mais a oferta de serviços como aulas de inglês e consultoria quem quer estudar no exterior. A campanha foi lançada há uma semana e conseguiu arrecadar até agora, 24% do total.
“Uma coisa que para mim é muito importante é que todas as pessoas tenham os mesmos direitos e oportunidades. Quando eu voltar pretendo devolver todo esse conhecimento para a minha comunidade. Todo valor do apoio, eu vou retribuir 100% para outra pessoa que tiveram essa trajetória como a minha e, com isso, garantir que elas possam ser ajudadas em seus estudos”, garante.
A doação a partir de R$ 20 pode ser feita no site www.catarse.me/ajude_ana_a_estudar_na_suica. Também é possível contribuir com valores menores, via transferência bancária. Todas as informações estão disponíveis na página. Ana que já fez de tudo e vendeu de pen drive a capa de celular na faculdade para pagar os estudos, destaca que qualquer ajuda é muito bem-vinda. “Tudo que eu consegui foi conquistado sempre com muito esforço. Esse é meu compromisso. É uma corrente do bem. A gente precisa fazer essa roda girar e ser agentes de mudança onde quer que a gente esteja”.
História
Ana Carla passou por intercâmbios em países como Argentina e Canadá. Trabalhou ainda na Prefeitura Municipal de Salvador e de 2015 até o ano passado foi consultora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em Salvador. Ela se especializou em Gestão de Projetos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e desenvolveu estratégias para aperfeiçoar políticas públicas para infância e adolescência em nível municipal.
“Os desafios que tive com estas experiências, sobretudo, na Unicef, me mostraram a necessidade de me aprofundar, criar ferramentas práticas para melhorar as políticas públicas no meu município e para isso, eu precisava beber na água de outros países que conseguiram lidar com a pobreza e a desigualdade”, pontua a relações internacionais.
A relações internacionais foi aprovada em todos os seis processos que se inscreveu (Foto: Acervo pessoal) |
Ana iniciou a candidatura aos processos de seleção em de seleção em dezembro e começou a receber os resultados entre os meses de fevereiro e maio. A escolha do Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais e Desenvolvimento (IHEID), na Suíça é uma oportunidade de estar mais próxima dos debates internacionais sobre Direitos Humanos.
“Comecei a me preparar, estudar muito inglês. Tem gente do muito inteiro que concorre a estas vagas. A escolha foi difícil, porque todas são universidades muito boas e reconhecidas internacionalmente. Porém, a chance de estar mais próxima da sede da Onu na Europa, significa uma oportunidade ímpar de estar em um lugar que respira políticas públicas e direitos humanos. A Europa é um celeiro muito importante para pensar estes temas”, completa ela, que segue na torcida para conseguir bater a meta da campanha e partir rumo ao mestrado.