Antes de morrer, médica com coronavírus envia mensagem à filha: ‘Vou voltar, te amo’

Foto: Acervo Pessoal

“Sua mãe vai voltar (pra casa). Te amo”, escreveu, de uma cama de hospital, a médica indiana Madhvi Aya. Foi essa a última conversa entre ela e a sua filha de 18 anos, três dias antes dela morrer por coronavírus em Nova York, epicentro do coronavírus nos Estados Unidos.

“Bom dia, mãe! É um novo dia! Continuo rezando para que volte em segurança para casa. Eu preciso de você. Você é a única que me entende ou tenta entender. E eu não consigo viver sem você. Nenhum de nós consegue. Eu acredito em você, por favor lute. Você é forte. Eu te amo tanto, mais do que pode imaginar”, havia escrito a jovem Minnoli. O diálogo foi divulgado pelo jornal americano New York Times.

A indiana Aya era, desde 2008, médica-assistente do Centro Médico Woodhul, um hospital público no bairro do Brooklyn assolado pela pandemia de Covid-19. Poucos dias após seu último plantão como profissional de saúde da unidade, virou paciente.

Ela atuava na sala de emergência, onde coletava históricos e questionava sintomas dos pacientes. Sua família acredita que foi lá que Aya contraiu o coronavírus por usar apenas uma máscara cirúrgica como proteção, de acordo com a Reuters.

A médica começou a desenvolver sintomas leves da doença em 12 de março, quando começou a tossir ao sair do plantão. No dia seguinte, seu marido a levou ao hospital para ser examinada, e ela logo iniciou sua quarentena em casa. Aya apresentou febre durante o período e seu estado se agravou, segundo o NYT.

No dia 18, a médica se dirigiu ao hospital Long Island Jewish, onde ficaria internada. Na madrugada, enviou uma mensagem ao marido, Raj, dizendo que ainda esperava por uma cama. Horas depois, quando ele acordou e a respondeu, Aya deu a notícia: seu teste havia dado positivo.

Desde então, as conversas com a família passariam a ser apenas dessa forma, sem contato físico. Em um dos diálogos, a que o NYT teve acesso, a filha Minnoli escreveu que sentia sua falta e fez um apelo: “Por favor, não perca a esperança, porque não desisti. Preciso da minha mãe, preciso que volte para casa”, disse em 25 de março.

“Mãe vai voltar”, respondeu Ayda. A promessa não pôde ser cumprida. Ela avisou a Raj que não havia melhorado conforme era esperado. “Ela sempre estava lá para a gente, no momento em que quiséssemos. Mas quando ela adoeceu, ninguém estava ao seu lado”, falou o marido ao jornal.

Os médicos que cuidavam de Aya entraram em contato com Raj, em 29 de março, para saber se ele gostaria de ver sua esposa naquela que poderia ser a última vez. A equipe médica estava prestes a colocar Aya com um respirador, mas alertou sobre risco de vida que ela corria por conta de uma complicação.

Raj recusou com medo de que o problema que tem no coração o colocasse em perigo e pudesse deixar sua filha sem pais. Naquela mesma tarde, o hospital informou que a médica havia morrido.

Desde o início do surto, a médica se preocupava em não levar o vírus para casa pelo marido, de 64 anos, que passara por uma cirurgia de revascularização em 2017, e pela sua mãe, a quem ajudara a cuidar desde que teve um derrame no ano passado.

Minnoli ainda não conseguiu assimilar a perda da mãe. Mesmo após a morte, a jovem continua mandando mensagens a Aya e dorme no andar da baixo de sua casa para evitar as lembranças as quais o quarto da médica remete.

“Eu sigo mandando mensagens a ela para acreditar que não é verdade. Ela merecia viver e me ver formando e virando médica, ver eu me casar e ter filhos”, disse a menina, que é caloura na Universidade de Nova York, em Buffalo, à Reuters.

No último diálogo com a mãe, por mensagem, Minnoli contou como estava a faculdade e disse estar rezando por Aya. “Oi, mãe. A faculdade está muito mais estressante agora que as aulas são de casa. O lado bom é que estou em casa, mas eu preciso que você volte para mim. Espero que tenha jantado e continuo rezando por você e não perdi as esperanças”, escreveu.

“Concentre-se”, pediu Aya. É a filha que poderá daqui para frente dar sequência ao amor pela Medicina que ela dedicou até os dias finais de sua vida.