Alergia alimentar em seis questões básicas 

No Brasil não há estatística oficial, porém, estima-se que cerca de 8% das crianças, com até três anos, e 3% dos adultos tenham algum tipo de alergia alimentar – os dados são da  Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). Parece pouco mas não é. O tema merece atenção, porque, apesar das alergias se manifestarem de forma evidente em quem as sofre, suas consequências são muito rápidas e podem levar a óbito.

Adora aquele camarão sarado da moqueca mas percebe desconforto gastrointestinal toda vez que come? Tem que ficar de olho. Os sintomas da alergia alimentar podem surgir em todo o corpo – e em alguns casos até duas horas depois do consumo.

 Pode ser diarreia ou vômito, ou ainda placas vermelhas e em relevo. Os efeitos mais graves começam quando está presente uma sensação de desconforto na garganta, que pode levar a dificuldades em respirar e falta de ar. Nesse caso, é imperativo procurar atendimento médico.

Integrante do Comitê Nacional de Alergia Alimentar da Asbai, o alergista e imunologista Carlison Oliveira explica que nem toda reação adversa a alimento é uma reação alérgica. “A gente tem reação por fatos que não são necessariamente resposta imunológica. É um traço genético que define a predisposição a alergia, mas nem sempre quem tem esse gene vai ter a  doença”. A seguir, ele responde as principais dúvidas sobre o assunto.

O que é alergia alimentar?
 Alergia alimentar é uma resposta anormal do sistema imunológico contra uma proteína de determinado alimento. Existe uma predisposição genética para isso e nos últimos anos se reconhece a influência do meio ambiente neste processo. A mudança de estilo de vida e alimentação são alguns dos fatores mais associados. Ao reconhecer a proteína como algo prejudicial, o sistema imunológico prepara algumas respostas que acabam por se manifestar em forma de sintomas desagradáveis e potencialmente graves.

Por que algumas pessoas são mais sensíveis?
 Nem toda reação adversa a alimento é uma reação alérgica. Existe a intolerância por vários fatores, porque o alimento pode estar estragado ou contaminado ou mesmo porque a pessoa não gosta do alimento. A pessoa tem reação por fatos que não são necessariamente resposta imunológica. Não tem alergia quem quer, é um traço genético que define a predisposição para a alergia. Mas nem sempre quem tem esse gene vai ter doença. Outros fatores podem  associado ao aparecimento da falta de tolerância imunológica ao alimento.

Quais os sintomas da alergia alimentar?
 Os sintomas são bastante variados e podem se manifestar de vermelhidões locais isoladas a um colapso cardiovascular. Entre as manifestações possíveis, destacam-se: as cutâneas, que pode ser urticária, angioedema ou coceira;  as gastrointestinais, como diarreias e vômitos; respiratório, como falta de ar e chiado no peito, mas vale dizer que asma e rinite dificilmente são manifestações de alergia alimentar quando não houver alterações cutâneas e/ou gastrointestinais; e cardiovasculares, que podem levar ao  choque anafilático.

Quais os alimentos que mais provocam alergia?
 Qualquer alimento pode causar resposta alérgica, mas existe um grupo de alimentos que provocam resposta imunológica de forma frequente, ainda que dependa muito da idade do paciente. Na criança, até os 5 anos, os alimentos mais alergênicos são leite, ovo, amendoim, soja e as castanhas. No adulto, de forma geral, frutos do mar, crustáceos, amendoim, trigo e soja são os que provocam mais reações.  Algumas sementes, como gergelim, e frutas, como abacaxi, também provocam alergia.

Alergia alimentar pode ser fatal?
 Sim, quando não prontamente atendidas. Ainda que a adrenalina intramuscular tenha sido administrada adequadamente no momento da reação, o paciente deverá ser observado por algumas horas, uma vez que há chance de apresentar a mesma reação horas depois (reação bifásica, registrada em cerca de 25% dos pacientes). No caso de ser a primeira reação alérgica, ainda que não anafilática, e o paciente/família não estiverem cientes do tratamento, a procura por atendimento médico também é recomendada.

Existe cura?
 A cura na doença alérgica se define quando o indivíduo consome um alimento e o corpo não tem a reação alérgica inicial. Crianças, mais do que adultos, têm uma facilidade maior de desenvolver tolerância porque os mecanismos de defesa do corpo ainda estão se formando. Uma nova estratégia no tratamento de doenças alérgicas é fazer uma indução de tolerância para o alimento causador, a dessensibilização. Atualmente, isso está sendo feito para leite, ovo e amendoim. O procedimento exige médico alergista preparado e ambiente hospitalar.