Afro-americanos sofrem marginalização econômica nos Estados Unidos há gerações


Negros ganham US$ 0,73 por cada US$ 1 recebido por um americano branco, com taxa de pobreza 2,5 vezes maior, segundo o Economic Policy Institute. Em 2019, Federal Reserve Bank de Cleveland estimou que a riqueza média das famílias brancas é 6,5 vezes maior que a média das famílias negras, diferença semelhante à que havia em 1962. Manifestantes marcham pela Pennsylvania Avenue, em Washington, em protesto pela morte de George Floyd, na quarta-feira (3)
AP Photo/Evan Vucci
O centro de Washington brilha por sua riqueza, mas ao estar ali parado no meio da multidão que protesta, Justin Monroe, de 25 anos, tem dúvidas sobre poder ser parte dessa prosperidade.
“Isso não é para certas pessoas, para muitas certas pessoas”, disse este rapaz afro-americano à AFP. “Não podemos ganhar esse dinheiro. Eles não querem que ganhemos esse dinheiro.”
Monroe era cozinheiro em um restaurante até perder o emprego por causa do confinamento adotado para conter a pandemia do novo coronavírus. Vive em uma parte da capital separada por um rio do centro da cidade – bairro onde muitos escritórios de luxo e prédios do governo estão localizados.
Veja, abaixo, dados sobre marginalização econômica dos negros nos EUA:
americanos negros ganham US$ 0,73 por cada US$ 1 recebido por um americano branco, com uma taxa de pobreza 2,5 vezes maior, de acordo com o Economic Policy Institute;
a riqueza média das famílias brancas é 6,5 vezes maior do que a média das famílias negras, uma diferença muito semelhante à que havia em 1962, segundo o o Federal Reserve Bank de Cleveland calculou em 2019;
num cenário otimista, os americanos negros alcançarão os brancos em cerca de 200 anos, segundo a mesma instituição;
em 2018, a Brookings Institution apontou em um estudo que as casas em bairros onde pelo menos metade dos residentes é negra têm um valor 50% menor do que nos bairros onde nenhum morador é afro-americano;
negros também gastam mais tempo para ir trabalhar do que qualquer outro grupo, de acordo com estudo da Universidade de Chicago de 2014;
um estudo de 2016 feito por pesquisadores da Universidade de Toronto e da Universidade de Stanford mostrou que afro-americanos que tentam esconder nos currículos o fato de serem negros têm mais que o dobro de chance de serem procurados pelos empregadores do que aqueles que não fazem isso.
Justin Monroe considera como norma, e não como exceção, a violência policial que causou a propagação dos protestos por todo país. “Não gosto deles”, diz ele, referindo-se à polícia. “Não gosto de ver muitos dos meus companheiros de raça levando tiro da polícia.”
A morte do negro George Floyd em 25 de maio, quando ele estava sob custódia da polícia de Minneapolis, resultou em vários protestos pelo fim da violência contra os afro-americanos. Segundo diferentes estudos, este grupo enfrenta um alto risco de morrer nas mãos da polícia.
A desigualdade que os negros enfrentam vai além, no entanto, da interação com a polícia. De salários baixos a tempos mais longos de deslocamento para o trabalho, a estrutura da maior economia do mundo marginaliza profundamente a população negra.
“Os afro-americanos sempre estiveram totalmente envolvidos na economia dos Estados Unidos, mas não recebem os benefícios totalmente”, disse Nicole Smith, economista-chefe do Centro de Educação e Força de Trabalho da Universidade de Georgetown.
Fosso amplo
Antes de Floyd morrer, sob o joelho de um policial branco em uma rua de Minneapolis, a pandemia de coronavírus já havia causado um grande impacto nos Estados Unidos, com a morte de mais de 106 mil pessoas e a perda de 42 milhões de empregos.
Até a doença discrimina: os negros americanos representam 13,4% da população, mas respondem por 22,9% das mortes por Covid-19, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
Eles também pesam fortemente na taxa de desemprego de 13,4%, registrada em maio, com um leve aumento de 16,8% para os afro-americanos, conforme o Departamento do Trabalho.
Mas a economia colocou os afro-americanos em desvantagem muito antes da pandemia. Eles ganham US$ 0,73 por cada US$ 1 recebido por um americano branco, com uma taxa de pobreza 2,5 vezes maior, de acordo com o Economic Policy Institute.
O Federal Reserve Bank de Cleveland estimou, no ano passado, que a riqueza média das famílias brancas é 6,5 vezes maior do que a média das famílias negras, uma diferença muito semelhante à que havia em 1962.
Em um cenário otimista, os americanos negros alcançarão os brancos em cerca de 200 anos. Com a pandemia, porém, o economista Dionissi Aliprantis, do Federal Reserve de Cleveland, alertou que “a maioria das lacunas aumentará”.
Racismo arraigado
A propriedade de um imóvel é a chave para criar riqueza entre gerações. Um estudo da Brookings Institution feito em 2018 descobriu, contudo, que as casas em bairros onde pelo menos metade dos residentes é negra têm um valor 50% menor do que nos bairros onde nenhum morador é afro-americano.
Os negros também gastam mais tempo para ir trabalhar do que qualquer outro grupo, de acordo com um estudo da Universidade de Chicago de 2014, já que, com frequência, moram em bairros com menos empregos e com piores conexões de transporte.
Até o nome pode prejudicá-los, de acordo com um estudo de 2016 realizado por pesquisadores da Universidade de Toronto e da Universidade de Stanford. Os afro-americanos que tentam esconder sua raça nos currículos têm mais que o dobro de chance de serem procurados pelos empregadores do que aqueles que não o fazem.
“Definitivamente, estou em desvantagem para quem acabou de sair da faculdade e é uma minoria”, disse Emmanuel Sánchez, um estudante negro que está chegando ao fim de seus estudos e também se juntou aos protestos do lado de fora da Casa Branca.
Há uma grande quantidade de leis federais que proíbem a discriminação aberta, mas muitos americanos negros dizem que sentem que o preconceito é parte de sua vida cotidiana.
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