A noite em que Cazuza aprontou depois do show com o Barão Vermelho em Salvador

Depois da história sobre o primeiro show em Salvador da Banda Legião Urbana publicada na semana passada, agora vou contar outo fato que até hoje eu dou muita risada. Mas, na época, foi um grande pepino que tive que descascar. O ano era 1985 e eu estava organizando mais uma edição do Troféu Martin Gonçalves, prêmio aos melhores do Teatro Baiano, criado pelos jornalistas Carlos Borges (que mora há décadas nos EUA) e o saudoso Hamilton Celestino. O troféu era produzido pela TV Aratu, na época retransmissora da TV Globo na Bahia.
Foi uma das premiações mais esperadas. ‘Com três LPs lançados e um punhado de sucessos como Down em mim, Pro Dia nascer Feliz, Bete Balanço, Maior Abandonado e Baby Suporte, o Barão Vermelho vinha de uma aparição muito boa no Rock in Rio e disposto a realizar um show especial para todos aqueles que fazem o teatro baiano com muita luta e garra, enfrentando uma série de dificuldades’ – escrevi esse texto no programa impresso que foi distribuído aos convidados no dia da festa.
Foi tudo muito bom tudo muito bem. O Salão Aratu do então Hotel Le Meridien Rio Vermelho (que depois virou Hotel Pestana) estava lotado, a premiação emocionou os ganhadores a banda fez um showzaço. Cazuza estava brilhante e todos saíram para comemorar depois. Eu também fui jantar, mas como estava muito cansado me recolhi mais cedo. Afinal, amanhã era outro dia.
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Foto tirada no aniversário de Caetano Veloso: da esquerda para a direita Caetano, Bruno Barreto (cineasta), Paulinho Lima (produtor, compositor), Cazuza and and me (Foto: Arquivo pessoal) |
No dia seguinte, ainda meio sonolento recebo uma ligação em casa (naquele tempo celular era uma quimera) da então gerente de eventos, chamada Cristine Yanguas (não me lembro se ela era Porto Riquenha ou Panamenha). Detalhe à parte, ela estava furiosa. Como se diz na Bahia “soltando fogo pelas ventas”. Antes de explicar o que tinha acontecido foi direta e disse que não realizaria mais a festa no Meridien. O contrato com a TV estava cancelado.
Eu dei um pulo da cama e perguntei o que houve. Ela, num tom irritadiço, começou a explicar que Cazuza – que era o vocalista da Barão Vermelhor na época – tomou um porre entre outras cositas más, ao lado do querido e também saudoso poeta e compositor Wally Salomão, e quebrou o quarto do hotel. Foi um auê. Os hóspedes tinham se queixado, a gerência recebeu reclamações. Resumo da ópera: tinha sobrado para ela.
Imediatamente comuniquei o fato à direção da emissora que em nome da boa relação que mantinha com o hotel teve que arcar com o prejuízo. E, graças a Deus, tudo resolvido continuamos fazendo a festa no mesmo salão todos os anos. E eu, escaldado, quando contratava a atração já avisava que não podia fazer esbórnia no hotel para não me causar mais problemas.
Muitos anos depois, (eu já falei disso uma vez no Blog) quando Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, lançou o livro Só as Mães São Felizes, ela relatou esse episódio. Aí, em 2017 num almoço no apartamento de Gilberto Gil e Flora Gil, no Corredor da Vitória, fui apresentado à Lucinha. Me identifiquei, dizendo que eu tinha sido o produtor do tal evento. Elegante como sempre, ela falou: “Oh, meu filho, me perdoe, me desculpe”. Eu disse: “Que nada, isso tem tanto tempo. E seu filho foi show”.
Imagine que dupla explosiva Waly Salomão e Cazuza. Os dias em que eu passei com eles na produção do evento em Salvador foram divertidos. Eu era amigo de Waly. Cazuza eu admirava como artista, tinha seus discos com o Barão Vermelho mas não era meu amigo. Ele era muito espirituoso e, claro, como ele falava, Exagerado. Mas foi um grande poeta que nos deixou um legado musical maravilhoso. Faz muita falta nos dias de hoje. Mesmo com o susto que eu tomei quando soube da festa eu me lembro com saudades daquela noite.