A história por trás de 15 grandes clássicos nacionais pouco badalados

Torcedores de Celtic e Rangers são antagônicos em religião e política

Você sabe a história envolvida nos confrontos entre times rivais ao redor do mundo? O clássico é sempre o momento mais esperado por torcedores de futebol em qualquer país. É quando a paixão se renova e atinge picos de euforia ou tristeza, a depender do placar. A seguir, selecionamos clássicos de 15 países diferentes e menos badalados que os sempre enaltecidos River Plate x Boca Juniors, Barcelona x Real Madrid, Milan x Inter de Milão, Nacional x Peñarol, Benfica x Porto, Manchester United x Liverpool. No final da lista, fica a pergunta: qual é o maior do Brasil na sua opinião?

Galatasaray x Fenerbahçe (Turquia)

Tem algo mais inusitado que um clássico disputado por times da mesma cidade e ao mesmo tempo de continentes diferentes? O Estreito de Bósforo, que separa a Europa da Ásia e corta a cidade de Istambul, é o responsável por essa peculiaridade que move milhões de turcos. De um lado o Galatasaray, situado no lado europeu de Istambul; do outro o Fenerbahçe, sediado no lado asiático. Há diferença também no perfil dos clubes, com o Fener sendo visto como mais “povão”, e o Gala, mais “elite” – embora o Galatasaray tenha a maior torcida do país. O clássico não é apenas a maior rivalidade da Turquia, como também uma das maiores da Europa/Ásia e do mundo. É comum que o encontro de rivais seja marcado por agressões, expulsões e brigas dentro e fora do estádio. E também que seja realizado com torcida única.

Atualmente, o zagueiro Marcão (ex-Athletico) e o lateral direito Mariano (ex-Fluminense) são os brasileiros do Galatasaray. Os volantes Jailton (ex-Grêmio) e Luiz Gustavo defendem o Fenerbahçe.

Principais títulos:
Galatasaray – Campeonato Turco: 22; Liga Europa: 1
Fenerbahçe – Campeonato Turco: 19

O brasileiro Alex jogou no Fenerbahçe de 2004 a 2012 e é ídolo na Turquia (Foto: Divulgação)

Celtic x Rangers (Escócia)

Outra das maiores rivalidades do mundo está na Escócia, onde o clássico do país defronta times antagônicos em religião e política. O Celtic foi fundado por católicos em 1887 e o Rangers, por protestantes, em 1872, característica que consolidou o perfil de cada clube e de seus respectivos fãs. Durante quase cem anos, jogadores católicos não eram aceitos no Rangers, o que só foi quebrado em 1989, quando o então atacante católico Mo Johnson, ex-Celtic, foi contratado. As diferenças entre os grandes da cidade de Glasgow entram no campo político também. Com forte influência irlandesa (as bandeiras do país são vistas comumente nas arquibancadas), os torcedores do Celtic adotam uma postura separatista em relação ao Reino Unido, enquanto os do Rangers são unionistas, ou seja, defendem a permanência da Escócia sob a coroa britânica. O clássico é chamado de Old Firm (Velha Firma).

Não há brasileiros em nenhuma das equipes. Uma curiosidade: o Rangers é treinado pelo ex-craque inglês Steven Gerrard, ídolo do Liverpool. E a última vez que o Campeonato Escocês não ficou na mão de um dos dois rivais foi em 1985, com o Aberdeen de Alex Ferguson campeão. Atualmente, o Celtic é eneacampeão (nove vezes seguidas), incluindo em 2020, com a temporada terminada precocemente por causa da pandemia do coronavírus.

Principais títulos:
Celtic – Campeonato Escocês: 51; Liga dos Campeões da Europa (1967)
Rangers – Campeonato Escocês: 54

Católicos e separatistas do Celtic no alto e os protestantes e unionistas do Rangers na parte de baixo (Montagem em fotos de Shutterstock)

Colo-Colo x Universidad de Chile (Chile)

O maior clássico chileno envolve os dois times de maior torcida e mais títulos. E na história política do país, os rivais da capital Santiago também se enfrentam. Isso porque o Colo-Colo concedeu, em 1984, o título de presidente de honra do clube ao ditador Augusto Pinochet, que governou o Chile durante os 17 anos de uma das mais sangrentas ditaduras militares da América Latina, de 1973 a 1990. A honraria teria sido dada por imposição política, tendo o governo militar se aproveitado da popularidade do time de maior torcida do Chile, segundo mostra o documentário “Todos querem Colo-Colo”. Mas, pelo menos por parte dos rivais, a pecha ficou no clube que tem no escudo suas raízes populares fortalecidas através de um índio Mapuche, etnia que já habitava o território chileno antes da colonização espanhola. Do outro lado, a Universidad de Chile reclama de favorecimento Colo-Colo nos anos da ditadura e joga no Estádio Nacional de Santiago, que nos anos sangrentos foi utilizado pelo regime como local de prisão e tortura de opositores.

Em tempo: em assembleia realizada em 2015, os sócios do Colo-Colo retiraram do estatuto do clube a categoria de presidente honorário. Pinochet morreu em 2006, aos 91 anos.

Não há brasileiros nos dois times atualmente.

Principais títulos:
Colo-Colo – Campeonato Chileno: 32; Copa Libertadores: 1
Universidad de Chile – Campeonato Chileno: 18; Copa Sul-Americana: 1

O meia Leo Valencia, ex-Botafogo, está no Colo-Colo. Rivais associam o time ao ditador Pinochet (Foto: Reprodução / Instagram)

Borussia Dortmund x Schalke (Alemanha)

A predominância do Bayern de Munique induz ao erro de achar que o maior clássico alemão envolve o time da Baviera, mas não. A principal rivalidade da Alemanha se dá entre Borussia Dortmund e Schalke, dois times do estado da Renânia do Norte-Westfália, região industrial no oeste do país, e situados em cidades que ficam a apenas 35km uma da outra (Dortmund e Gelsenkirchen). São os protagonistas do “Dérbi do Território” (Revierderby em alemão). Os clubes tiveram fases distintas de protagonismo no futebol local. O Schalke foi um papa títulos no período da Alemanha nazista e conquistou seis dos sete títulos que possui entre 1934 e 1942 (o outro foi em 1958, já nos anos da Guerra Fria e com o país dividido). Essa fase áurea até hoje vincula a imagem do clube com Hitler, criando o mito de que o ditador era torcedor do Schalke, algo sobre o qual não há indícios e que a equipe rechaça veementemente. Já o Dortmund sempre manteve postura combativa aos nazistas, e a história conta que um dirigente chegou a ser destituído porque se recusou a filiar-se ao partido de Hitler (NSDAP). Em campo, o time amarelo e preto só foi conquistar seu primeiro título nacional na década seguinte, com o bicampeonato em 1956 e 1957.

Nenhum brasileiro joga nas duas equipes atualmente.

Principais títulos:
Borussia Dortmund – Campeonato Alemão: 8; Liga dos Campeões da Europa: 1; Mundial de Clubes: 1
Schalke – Campeonato Alemão: 7; Liga Europa: 1

Dortmund e Schalke concentram a maior rivalidade na Alemanha (Foto: Reprodução / Instagram)

Al Ahly x Zamalek (Egito)

Pouco conhecido no Brasil, o Dérbi do Cairo é o maior clássico da África e tem a História como pano de fundo interessante. O Al Ahly, time de mais torcida e títulos não só no Egito como no continente, foi identificado com a causa nacionalista egípcia desde sua fundação em 1907, quando o país era uma colônia inglesa. Entre os símbolos do clube, o nome Al Ahly – que em árabe significa O Nacional – e a cor vermelha remetem à soberania do Egito. Nos anos 1920, o time chegou a barrar estrangeiros, reforçando ainda mais esse pertencimento. Já o Zamalek carregou-se de uma simbologia oposta: fundado por um belga, tornou-se identificado inicialmente com o colonialismo e, se o Al Ahly era do povo, o Zamalek caiu no gosto dos intelectuais – hoje também é um clube popular. Apesar da intensa rivalidade, futebolisticamente os times não estão mais no mesmo patamar, devido ao amplo domínio do Al Ahly no século 21. O “time do povo” é o maior campeão nacional, disparado, e também o maior continental.

Não há brasileiros em nenhuma das equipes. Uma curiosidade: os dois times mandam seus jogos no mesmo lugar, o Estádio Internacional do Cairo, com 74 mil lugares e casa da seleção.

Principais títulos:
Al Ahly – Campeonato Egípcio: 41; Liga dos Campeões da África: 8
Zamalek – Campeonato Egípcio: 12; Liga dos Campeões da África: 5

Al Ahly é o maior time do Egito e da África (Foto: Reprodução / Instagram)

Raja x Wydad (Marrocos)

Outro grande clássico africano e do “mundo árabe” envolve dois times de Casablanca, a cidade mais populosa do Marrocos. E ao contrário do que aconteceu Egito, os rivais lutaram no mesmo lado da trincheira na história. Tanto o Wydad, fundado em 1937, quanto o Raja, surgido em 1949, apoiaram a independência marroquina em relação à França, que seria obtida em 1956. Mais antigo, o Wydad já era um grande clube no país quando nasceu o Raja, com o intuito de fazer frente ao conterrâneo. As torcidas dos dois times são reconhecidas pelos belos mosaicos que montam nas arquibancadas nos dias de clássico entre os vermelhos e os verdes. No Brasil, o alviverde Raja ficou conhecido ao derrotar o Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho na semifinal do Mundial de Clubes, em 2013.

Não há brasileiros em nenhuma das equipes. Uma curiosidade: os dois times mandam seus jogos no mesmo lugar, o Estádio Mohamed V, com 67 mil lugares.

Principais títulos:
Raja – Campeonato Marroquino: 11; Liga dos Campeões da África: 3
Wydad – Campeonato Marroquino: 20; Liga dos Campeões da África: 2

Wydad e Raja: a grande rivalidade marroquina envolve dois times de Casablanca (Foto: Reprodução)

Kaizer Chiefs x Orlando Pirates (África do Sul)

O maior clássico da África do Sul está abaixo da rivalidade que há no Egito e no Marrocos, mas tem seu charme. É o Dérbi de Soweto, famoso gueto de Johanesburgo (hoje uma cidade) palco do Levante de Soweto, evento histórico que ficou marcado pelas mortes causadas pela violência policial durante um protesto contra o apartheid em 1976. No futebol, Kaizer Chiefs e Orlando Pirates têm laços em comum. O Kaizer Chiefs só foi fundado em 1970 pelo então atacante Kaizer Motaung, um ex-jogador do Pirates que havia atuado no Atlanta Chiefs, dos Estados Unidos e, ao retornar para a África do Sul, decidiu fundar seu próprio clube – juntando o nome dele e o da equipe norte-americana. Atualmente, Motaung é o presidente do Kaizer Chiefs e dois filhos dele são diretores. Apesar da pouca idade, o clube é o maior campeão sul-africano empatado com o Mamelodi Sundows, da cidade de Pretória. Já o Orlando Pirates existe desde 1937 e tem a torcida mais numerosa, mas o torcedor mais emblemático do país era do Chiefs: Nelson Mandela, falecido em 2013. 

Não há brasileiros em nenhuma das equipes atualmente.

Principais títulos:
Kaizer Chiefs – Campeonato Sul-Africano: 12
Orlando Pirates – Campeonato Sul-Africano: 5; Liga dos Campeões da África: 1

Jogadores do Orlando Pirates e Kaizer Chiefs durante clássico (Foto: Kaizer Chiefs / Divulgação)

Persepolis x Esteghlal (Irã)

O maior clássico do Golfo Pérsico envolve os rivais da capital Teerã, no Irã, onde o vermelho do Persepolis e o azul do Esteghlal dividem os 80 mil lugares do Estádio Azadi. Os dois clubes da capital polarizaram a disputa dos títulos desde a criação do Campeonato Iraniano, em 1970. O século 21 adicionou um adversário à altura da dupla, o Sepahan, que tem enfileirado taças nacionais, mas quando o assunto é rivalidade não compete com Persépolis e Esteghlal, até porque é de outra cidade (Isfahan). “No Irã é incrível como eles gostam do jogador e são apaixonados pelo clube”, comenta o zagueiro Robson, ex-Bahia e atualmente no Botafogo-SP. Ele jogou no Esteghlal na temporada 2016/2017.

Não há brasileiros em nenhuma das equipes atualmente.

Principais títulos:
Persepolis – Campeonato Iraniano: 12
Esteghlal – Campeonato Iraniano: 8; Liga dos Campeões da Ásia: 2

Clássico no Irã divide o estádio em vermelho e azul (Foto: Atta Kenare / AFP)

Estrela Vermelha x Partizan (Sérvia)

Uma das rivalidades mais acirradas do mundo está no encontro entre Estrela Vermelha e Partizan, ambos da capital Belgrado. Os rivais foram fundados no mesmo contexto: em 1945, ano do fim da Segunda Guerra Mundial. Os nomes dos clubes, inclusive, remetem à História. Símbolo comunista, a estrela vermelha fazia parte das bandeiras da Iugoslávia (1918-1992) e das repúblicas socialistas que a compunham – Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Eslovênia. Já partisans era o nome dado aos guerrilheiros de resistência à Alemanha nazista, que invadiu a Iugoslávia em 1941 (o termo partisans é genérico e significa partidário; teria sido adotado pela primeira vez durante a Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939). Devido às mudanças geopolíticas na península dos Bálcãs, o clássico já pertenceu a três países: Iugoslávia, Sérvia e Montenegro e, desde 2006, Sérvia. E se antes a rivalidade futebolística na Iugoslávia incluía quatro grandes times, com a dissolução restaram dois grandes na Sérvia e os outros dois na Croácia (Dínamo Zagreb e Hajduk Split), o que só acirrou a polarização. O sérvio mais conhecido entre os brasileiros, Petkovic, jogou no Estrela Vermelha de 1991 a 1995, quando foi contratado pelo Real Madrid, seu último clube antes de desembarcar no Brasil para defender o Vitória em 1997.

Não há brasileiros nos dois times atualmente.

Principais títulos:
Estrela Vermelha – Campeonato Iugoslavo / Sérvia e Montenegro / Sérvia: 30; Liga dos Campeões da Europa: 1; Mundial de Clubes: 1
Partizans: Campeonato Iugoslavo / Sérvia e Montenegro / Sérvia: 27

Torcedores durante o clássico sérvio entre Estrela Vermelha e Partizan (Foto: Shutterstock)

Olympiacos x Panathinaikos (Grécia)

O clássico grego não envolve times da mesma cidade, mas nem por isso a rivalidade é menor.  Aliás, esse é justamente um dos combustíveis da história entre Panathinaikos, de Atenas, e Olympiacos, da importante cidade portuária de Pireu, na região metropolitana. O time da capital foi fundado pela classe abastada, enquanto o outro por trabalhadores das docas. O dérbi é um dos mais violentos da Europa, com frequentes episódios de invasão de campo e atritos envolvendo os torcedores hooligans. Para se ter ideia, é conhecido como o clássico dos inimigos eternos.

O volante Guilherme (ex-Portuguesa e Corinthians) e o atacante Bruno, que fez carreira na Áustria antes de chegar à Grécia, são os brasileiros do Olympiacos. Não há no Panathinaikos.

Principais títulos:
Olympiacos – Campeonato Grego: 44
Panathinaikos – Campeonato Grego: 20

Escudos de Olympiacos e Panathinaikos, rivais gregos (Foto: Shutterstock)

América x Chivas (México)

O maior clássico do México não envolve times da mesma cidade, mas justamente os que disputam cabeça a cabeça o posto de maior torcida do país, América e Chivas. A diferença é tão pequena que pesquisas feitas pelo mesmo instituto (Mitofski) com diferença de um ano entre elas já apresentaram resultados invertidos. O América é da Cidade do México e o Chivas, de Guadalajara. Os confrontos América x Cruz Azul e América x Pumas, todos da capital, também têm peso, mas não a ponto de igualar o chamado “Clássico Nacional” – outra rivalidade muita acesa se dá entre Monterrey e Tigres, ambos do estado de Nueva León. Além dos títulos e da torcida, o Chivas tem uma peculiaridade que o destaca numa liga onde é permitido que cada time tenha até dez jogadores estrangeiros: só contrata atletas mexicanos. Curiosamente, o clube foi fundado por um imigrante belga, em 1906, e na época aceitava outras nacionalidades, mas a medida foi adotada poucos anos depois, ainda na mesma década. Já o América usufrui da cota e costuma encher seu elenco com muitos sul-americanos. Não há brasileiros atualmente.

Uma curiosidade: o ator Roberto Bolaños, famoso no Brasil como intérprete dos personagens Chaves e Chapolin, era torcedor do América. Ele faleceu em 2014, aos 85 anos.

Principais títulos:
América – Campeonato Mexicano: 13; Liga dos Campeões da Concacaf: 7
Chivas – Campeonato Mexicano: 12; Liga dos Campeões da Concacaf: 2

Bandeira do Chivas em meio à torcida; clube só aceita jogadores mexicanos (Foto: Reprodução / Instagram)

Al-Hilal x Al-Ittihad (Arábia Saudita)

O maior clássico saudita envolve o Al-Hilal, time mais vitorioso e mais popular do país, e o Al-Ittihad. São de cidades diferentes, com o primeiro sediado na capital Riad e outro em Jidá, a segunda maior cidade da Arábia Saudita e onde fica o principal porto. O Al-Hilal é também a equipe mais endinheirada da nação famosa pelos “petrodólares” e isso não é à toa: o clube é ligado à família real da Arábia Saudita. O Al-Hilal também faz o clássico local de Riad contra o Al-Nassr, sendo esses historicamente os três maiores clubes do país.

Muitos jogadores e treinadores brasileiros já passaram pelos dois clubes sauditas ao longo da história, sendo o craque Roberto Rivellino um dos pioneiros. Ele encerrou a carreira no Al-Hilal, em 1981. Atualmente, o meia Carlos Eduardo é o único brasileiro do clube. No Al-Ittihad estão o goleiro Marcelo Grohe, o zagueiro Bruno Avini, o volante Jonas, o atacante Romarinho e o treinador Fábio Carille.

Principais títulos:
Al-Hilal – Campeonato Saudita: 15; Liga dos Campeões da Ásia: 3
Al-Ittihad – Campeonato Saudita: 8; Liga dos Campeões da Ásia: 2

Romarinho, do Al-Ittihad, em clássico contra o Al-Hilal (Foto: AFC / Divulgação)

Persija x Persib (Indonésia)

O clássico mais acirrado – e violento – do Sudeste Asiático se dá na Indonésia, onde os encontros entre o Persija, da capital Jacarta, e o Persib, da cidade de Bandung, são episódios de guerra. Não é metáfora neste caso. Para se ter ideia, o elenco do clube que vai jogar na casa do rival costuma se deslocar em veículos blindados da polícia (similares aos ‘caveirões’ do Bope no Rio de Janeiro) porque não é seguro fazer de ônibus o percurso de aproximadamente 150 km. Mortes de torcedores por gangues rivais também são comuns no país. Uma reportagem feita pela rede inglesa BBC em 2019 apontou que sete haviam morrido nos sete anos anteriores como resultado da violência do clássico.

Atualmente, o zagueiro Otávio, cearense que se naturalizou indonésio e já foi convocado para a seleção local, defende o Persija. O técnico da equipe é Sérgio Farias, que treinou a seleção brasileira sub-17 no início do século e prosseguiu a carreira na Ásia e na África sem nunca ter trabalhado em equipes profissionais no Brasil. No Persib jogam o zagueiro Fabiano Beltrame e o atacante Wander Luiz.

Principais títulos:
Persija – Campeonato Indonésio: 11
Persib – Campeonato Indonésio: 6

Persib, de azul, e Persija, que utilizou o uniforme 2 branco no lugar do tradicional vermelho (Foto: Reprodução / Instagram Persib)

Millonarios x Santa Fe (Colômbia)

Definir o maior clássico da Colômbia pode ser tão difícil quanto o do Brasil e isso acontece porque há muitas rivalidades estaduais. Além de Millonarios x Santa Fe, que reúne os dois grandes rivais da capital Bogotá, há América x Deportivo Cali, ambos de Cali, e Atlético Nacional x Independiente Medellín, ambos de Medellín. E ainda um quarto clássico, este com times de cidades diferentes: Millonarios x Atlético Nacional. Este é um clássico relativamente recente, que se fortaleceu nas décadas de 1980 e 1990 devido a contratações “atravessadas” pelo outro. Não há, no entanto, tanta animosidade entre as torcidas dos dois times como há contra os rivais da mesma cidade.

As equipes carregam histórias curiosas em seus nomes. A começar pelo Millonarios que, fundado em 1937 por jovens estudantes, só recebeu o nome oficial atual em 1946. Antes, chamou-se Club Deportivo Municipal, devido ao fato de receber apoio da prefeitura de Bogotá. Retirado esse apoio, já em 1939 o clube mudou de nome algumas vezes até virar Deportivo Independiente. Mesmo sem um “patrocinador” por trás, a equipe contratou três jogadores argentinos, o que lhe rendeu o apelido de Millonarios, à época já utilizado na Argentina para se referir ao River Plate também por causa de grandes contratações. Até que depois o apelido se tornou nome. Oficialmente, o Millonarios considera sua data de fundação em 1946.

A origem do nome do Independiente Santa Fe é tão curiosa quanto. Simplesmente é chamado assim porque seus fundadores (o clube data de 1941) se reuniam no Café Del Rhin situado no bairro de Santa Fe, no centro de Bogotá. No clássico, azuis e vermelhos compartilham o Estádio El Campín, mando de campo dos dois. Não há jogador brasileiro em nenhuma das equipes.

Quanto à hegemonia, o futebol colombiano registrou ciclos de diferentes times. O Millonarios foi o melhor nos anos 1950, período em que contou no seu elenco com o craque Di Stéfano, até meados da década seguinte. Já o América de Cali foi soberano na década de 1980, quando conseguiu um pentacampeonato (de 1982 a 1986, até hoje inigualado) e chegou a três finais consecutivas de Libertadores (de 1985 a 1987, perdeu todas). Já o Atlético Nacional, primeiro colombiano a conquistar a Libertadores, em 1989, se tornou indiscutivelmente a grande potência do país a partir da década de 2000. De lá para cá, conquistou nove dos 16 títulos colombianos que possui – ultrapassou o Millonarios, que tem 15 –  e ergueu outro troféu da Libertadores, em 2016.

Principais títulos:
Millonarios – Campeonato Colombiano: 15
Santa Fe – Campeonato Colombiano: 9; Copa Sul-Americana: 1

Millonarios e Santa Fe se enfrentaram pela última vez em março (Foto: Reprodução / Instagram Santa Fe)

Emelec x Barcelona (Equador)

No Equador, o principal clássico é disputado por dois times de Guayaquil, que embora não seja a capital do país (Quito) é a cidade mais populosa e mais desenvolvida economicamente. O Barcelona carrega este nome por ter sido fundado por imigrantes espanhóis da região da Catalunha, e até o escudo do clube é copiado do Barça mais famoso. Já o Emelec foi fundado por funcionários da companhia de eletricidade, chamada Empresa Eléctrica de Ecuador, e acabou batizado com a sigla. Ambos surgiram no mesmo bairro em Guayaquil e com uma diferença de apenas quatro anos de um para o outro: o Barcelona data de 1925; o Emelec, 1929. O jogo entre eles é também conhecido como clássico do estaleiro porque o principal porto do país fica na cidade. Trata-se de um porto fluvial, às margens do rio Guayas.

Em tempo: embora os times de Guayaquil sejam os dois maiores vencedores do Campeonato Equatoriano, a LDU de Quito é o único clube do país a conquistar a Copa Libertadores – em 2008, na final contra o Fluminense.

O volante Gabriel Marques (ex-Athletico e Paraná) joga no Barcelona atualmente. Não há brasileiro no Emelec.

Principais títulos:
Emelec – Campeonato Equatoriano: 14
Barcelona – Campeonato Equatoriano: 15

Emelec e Barcelona fazem o clássico equatoriano (Facebook Emelec)