‘A gente não tem perspectiva’, diz professora baiana retida em Angola por coronavírus
Com restrições para voos no Brasil e em Angola, pelo menos 250 brasileiros no país africano aguardam uma forma de serem repatriados. Entre eles está a professora baiana Elga Lessa de Almeida, 40 anos, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). Ela chegou a Luanda, capital da Angola, no último dia 15 para fazer uma pesquisa de campo para o pós-doutorado que cursa atualmente.
Sem voos comerciais que fazem a rota para Angola, ela já começou a ter dificuldades desde o dia 20, quando o país africano anunciou que decretaria estado de emergência, inclusive com restrição das fronteiras. No Brasil, a entrada de estrangeiros de qualquer nacionalidade fica proibida a partir desta segunda-feira (30), mas a regra não se aplica a brasileiros, imigrantes com residência fixa e parentes diretos de brasileiros.
“A gente não tem perspectiva e a nossa esperança é que tenha um voo da FAB (Força Aérea Brasileira), que depende do governo brasileiro. Mas, até agora, não tivemos nenhuma notícia. Esse silêncio, para a gente, é agoniante”, desabafa ela, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Originalmente, a professora já ficaria apenas duas semanas em Angola. O plano inicial era que, no sábado (28), voasse para a África do Sul, para a segunda fase da pesquisa. Lá, deveria ficar até o dia 24 de abril, quando retornaria ao Brasil.
Quando chegou a Angola, o cenário era outro. Uma escola onde tomaria um curso tinha suspendido aulas, mas o clima estava tranquilo. O país nem mesmo tinha casos confirmados.
“Na primeira semana, consegui fazer todas as entrevistas que estavam programadas. estava super tranquilo e achei até que, em relação a outros lugares, Angola estava bem cuidadosa. Tinha álcool gel, as pessoas não se cumprimentavam e funcionários usavam luvas, inclusive no aeroporto”, conta.
Em poucos dias, porém, o cenário mudou. Já são cinco casos confirmados – um deles, inclusive, de uma pessoa que veio do Brasil. No dia 21 de março, ela entrou em contato com a Embaixada brasileira no país. Até então, ela não sabia que, um dia antes, um voo extra tinha vindo para o Brasil.
“Os portugueses conseguiram a repatriação com dois voos. A gente está aguardando. Entrei em contato com o serviço consular e eles criaram um grupo de Whatsapp que tem 253, 254 brasileiros. Só que criaram e não postam absolutamente nada. A gente não tem nenhuma informação de medida tratativa, nada”.
Desde que chegou a Angola, ela soube que o período que ficaria na África do Sul seria cancelado. Com as aulas suspensas, já teria que voltar ao Brasil neste domingo (29). “Estou na casa de um conhecido angolano que está atualmente em Salvador. Estou com a esposa e um sobrinho dele, bem acolhida”, diz.
A falta de respostas é o que a incomoda. “Eles (a embaixada) atenderam as ligações mas pediram que não ligássemos mais porque estava congestionando as linhas. Acredito que é muito uma decisão do governo de fazer ou não a repatriação, se é prioridade ou não”, desabafa.
O CORREIO entrou em contato com o Itamaraty, mas ainda não teve retorno.