Coronavírus: PMs denunciam falta d’água e de EPI para trabalhar

Na contramão da orientação do Ministério da Saúde, de manter sempre as mãos higienizadas para evitar o contágio do novo coronavírus, policiais militares estão há cerca de 15 dias sem água e sabão na guarita que dá acesso ao Comando do Policiamento Regional da Capital (CPRC) – um complexo onde trabalham cerca de 500 policiais no Centro Administrativo do Estado da Bahia (CAB). A denúncia chegou ao CORREIO através de um vídeo (assista abaixo). 

A gravação tem 57 segundos e foi feita esta semana, mostrando as condições precárias da guarita que fica na porta de entrada do complexo, onde estão o Departamento de Apoio Logístico (DAL) , o Departamento de Finanças (DF) e a sede da 82° Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/CAB). 

Nas imagens, é possível ver o estado precário das instalações, com fiação elétrica exposta e a ausência de reparo no alojamento. No banheiro da guarita, o autor do vídeo manuseia a torneira e tenta usar a descarga de um dos vasos sanitários, constatando que não há fornecimento de água. Ainda no vídeo, é possível ver dois pequenos frascos vazios, sem rótulo, onde deveria conter álcool gel.

O CORREIO conversou com alguns dos 25 policiais que trabalham por turnos na guarita. Diariamente, um grupo de cinco ou seis policiais atua em regime de 24h para poder obter, depois, três dias de folga. 

“Não tem como manter a higiene que os especialistas recomendam. Quando dá, a gente tem que buscar em outros setores, mas o fluxo de trabalho é grande, o público é diverso. Tem as demandas de quem trabalha aqui, dos policiais de outras unidades que vem pra cá para manutenção de viaturas, por exemplo. Sem falar no contato com os policiais do trabalho ostensivo da 82ª CIPM, que atuam na cobertura da região do CAB e bairros vizinhos. Ainda temos que manter o contato diário com pessoas para identificação e recolhimento dos crachás de acesso ao complexo”, relatou um PM, sob anonimato.

Outro policial criticou a falta do álcool gel.

“A gente não tem aqui. O que aparece na imagem foi trazido pelos próprios colegas. Isso tudo é uma falta de respeito ao profissional. Um descaso com a saúde dos policiais e de suas famílias”, declarou. 

Ao tomar conhecimento do vídeo, a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) repudiou  as condições oferecidas aos poiciais.

“A falta d’água é algo muito grave. Os policiais não podem manter a higiene deles e do local. Isso pode causar vários problemas de saúde, inclusive relacionados à pandemia. As condições de trabalho já não são boas, se não tem água no local, não tem higiene, eles estão sujeitos a várias doenças. Então, espero que o comando da PM e o governo do estado tomem uma providência urgente, pois se com aqueles que estão defendendo a sociedade não há o mínimo de preocupação com relação à pandemia, imagine com os demais”, declarou o presidente da associação, deputado estadual Marcos Prisco (PSDB). 

Ainda de acordo com Prisco, outros problemas afligem a corporação. “Estamos recebendo várias denúncias de falta de máscaras e de álcool gel vencidos que foram entregues à tropa”, disse Prisco. De acordo com ele, os casos aconteceram na 12ª CIMP (Ondina/ Rio Vermelho) e no 11° Batalhão, em Itaberaba. 

Em relação à falta de água no CPRC Central, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) enviou uma nota e esclareceu que “após verificação realizada na terça-feira (24), foi constatado que o fornecimento de água está sendo realizado de forma regular para o Comando do Policiamento Regional da Capital (CPRC Central), no CAB. Uma guarita está sem água por problemas de rede interna. Os responsáveis já têm conhecimento do fato”. 

O CORREIO buscou o detalhamento do “problema de rede interna” e a Embasa respondeu que “verificação de rede hidráulica interna de imóveis é de responsabilidade do proprietário. A Embasa só é responsável pelo fornecimento de água até o hidrômetro”. 

A reportagem também procurou a Secretaria de Segurança Pública, que informou ser uma questão de responsabilidade da PM, que por sua vez enviou uma nota comentando a denúncia de produtos vencidos. “Segundo o comando da 12ª CIPM, os produtos distribuídos estavam em conformidade com os prazos. O comando do 11º BPM esclarece que apenas um lote de 10 refis num total 180, tinha seu prazo de validade até janeiro de 2020 e logo que identificado foi substituído”. 

Sobre a falta d’água, a PM informou que “de acordo com o Comando do Policiamento Regional da Capital (CPRC)/Central, a informação de falta de água na guarita da unidade não procede. A PM adotou todas as medidas necessárias e disponibilizou os recursos para evitar a proliferação do vírus Covid-19”.

O CORREIO também procurou Adielma Nizarala, infectologista da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), para saber que tipo de riscos esses profissionais correm. A profissional explicou que a má higiene das mãos pode facilitar a proliferação de doenças e aumentar as chances de contaminação pelo coronavírus.

“Onde a pessoa trabalha tem quer ter minimamente água e sabão líquido para lavar as mãos, além de álcool gel em situação que obrigatoriamente eles não possam lavar as mãos. Tem que ter um ambiente arejado e onde seja possível ficar afastado com a distância de um metro ou um metro e meio um do outro. Se não tem essas condições, já é um ambiente insalubre e não apenas por causa da Covid-19”, explicou.