Pandemia pode colocar em risco as eleições presidenciais americanas?
NOVA YORK – Duas postagens de Donald Trump no Twitter fizeram a rede social a incluir avisos sobre informações potencialmente incorretas espalhadas pelo presidente dos Estados Unidos.
A reação de Trump foi imediata. Primeiro, no próprio Twitter, ele vociferou contra um suposto cerceamento de sua liberdade de expressão – mesmo que os tuítes não tenham sido apagados.
Depois, assinou um decreto que acaba com certas proteções legais que impedia que empresas como Twitter, Google e Facebook sejam processadas por causa do conteúdo produzido por seus usuários.
Para a oposição democrata, entretanto, mais importante que o bate-boca de Trump com o Twitter é o que dizem as mensagens publicadas pelo presidente.
There is NO WAY (ZERO!) that Mail-In Ballots will be anything less than substantially fraudulent. Mail boxes will be robbed, ballots will be forged & even illegally printed out & fraudulently signed. The Governor of California is sending Ballots to millions of people, anyone…..
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 26, 2020
https://platform.twitter.com/widgets.js
….living in the state, no matter who they are or how they got there, will get one. That will be followed up with professionals telling all of these people, many of whom have never even thought of voting before, how, and for whom, to vote. This will be a Rigged Election. No way!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 26, 2020
https://platform.twitter.com/widgets.js
Não TEM COMO (ZERO [possibilidade]!) a votação pelo correio ser menos que substancialmente fraudulenta. Caixas de correio serão roubadas, cédulas serão forjadas e até mesmo impressas e assinadas ilegalmente. O governador da Califórnia está enviando cédulas para milhões de pessoas que vivem no estado, a despeito de quem sejam ou como chegaram lá, vão receber a sua. Depois virão profissionais dizendo para essas pessoas, muitas das quais nem sequer tinham pensado em votar antes, como, e em quem, votar. Será uma Eleição Fraudada! De jeito nenhum!
Com as infecções pelo coronavírus ainda em crescimento em diversas áreas do país e a possibilidade real de novos surtos no outono – quando acontece a eleição presidencial, marcada para 3 de novembro -, há muitas dúvidas sobre como será realizada a votação.
Como em todo o mundo, as seções eleitorais americanas têm filas e aglomerações, duas potenciais oportunidades para a disseminação do vírus.
Com a vitória assegurada de Joe Biden na disputa do Partido Democrata, Nova York tentou cancelar as primárias no estado, previstas para 23 de junho, por causa da pandemia. A Justiça determinou que elas sejam realizadas assim mesmo – mas espera-se que os níveis de participação sejam muito baixos.
Em Wisconsin, depois de um intenso vaivém judicial que só foi resolvido pela Suprema Corte, a votação das primárias foi mantida na primeira semana de abril. Dias depois, as autoridades sanitárias do estado detectaram pelo menos 40 casos de Covid-19 entre as pessoas que saíram de casa para votar.
Vários estados americanos permitem que as cédulas sejam enviadas pelo correio. Normalmente, esse método é reservado para os eleitores que não estarão em seus domicílios eleitorais no dia da votação, mas estados como Utah, Colorado, Havaí, Washington e Oregon já adotam o voto à distância como regra.
A questão vai muito além do método escolhido para a votação e da suposta falta de segurança do voto pelo correio (que, de resto, é considerado seguro).
O que a oposição democrata teme é que a obrigação de comparecer às urnas pessoalmente resulte em altos índices de abstenção, o que favoreceria as chances de reeleição de Trump.
Impacto eleitoral da votação à distância não é claro
Um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford publicou um estudo no início de maio avaliando o impacto das cédulas enviadas pelo correio. Analisando dados de eleições de 1998 a 2018, eles concluíram que o voto pelo correio representa um aumento modesto na participação e não oferece vantagem alguma para democratas ou republicanos.
Apesar da falta de evidências, o Partido Republicano, de Trump, há décadas tenta criar obstáculos para os eleitores. Na primeira metade do século passado, havia testes de alfabetização, com o objetivo de impedir que negros pudessem votar.
Mais recentemente, em 2010, houve investidas contra o registro de eleitores – que em alguns estados poderia ser feito até no próprio dia da eleição.
O voto não é obrigatório nos Estados Unidos, e acredita-se que muitos eleitores negros tenham deixado de votar em 2016, já que Barack Obama não era candidato. Como a eleição presidencial é indireta no país, vencer em determinados estados “fieis da balança” é essencial. Foi justamente em três deles – Pensilvânia, Wisconsin e Michigan – que Trump obteve vitórias surpreendentes, em parte explicadas pela abstenção de parte do eleitorado.
A controvérsia sobre a votação deve perdurar, mas o presidente já deixou clara sua posição. Num tuíte publicado na quinta-feira, Trump repetiu que permitir votos pelo correio vai levar a fraudes maciças e “ao fim do nosso grande Partido Republicano”.
Mas, há pouco mais de dois meses, ele próprio mandou seu voto nas primárias republicanas da Flórida. Em vez de ir pessoalmente a uma das seções na cidade de Palm Beach, ele preferiu jogar golfe em seu resort.
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