REPÓRTER DA BAND SOFRE TENTATIVA DE SUBORNO

Ricardo Cassiano foi procurado por representante da NTC, empresa de informática que venceu licitação do Conselho Nacional de Justiça; Geraldo Tavares Junior ofereceu propina em troca de “assessoria de imprensa” para jornalistas da Band falarem bem da companhia; CNJ, presidido por Cezar Peluso, pode cancelar contrato

Uma controversa licitação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) culminou com a tentativa de suborno de um repórter da rádio BandNews FM de Brasília. O jornalista Ricardo Cassiano, 25, foi procurado na segunda-feira, 16, pelo consultor Geraldo Tavares Junior, que se apresentou como representante da empresa NTC (Núcleo de Tecnologia e Conhecimento em Informática). A companhia venceu contrato de R$ 68,6 milhões para instalar uma central de dados no CNJ. Geraldo ofereceu dinheiro para Cassiano e para o colunista da Band Cláudio Humberto sob o pretexto de “assessoria de imprensa”.

“Ele [Geraldo] disse que queria fazer uma assessoria de imprensa para fazer o Cláudio Humbero mudar o discurso a respeito da licitação. Queria que o Cláudio parasse de falar mal da licitação e falasse bem da empresa [NTC]”, contou Ricardo Cassiano ao 247. O consultor, que disse também representar a AFB Advocacia, havia conseguido o telefone do jornalista da Band por outro repórter. Geraldo Tavares queria, na verdade, amaciar Cláudio Humberto, que vinha denunciando no seu blog e na rádio BandNews FM suspeitas na licitação do CNJ.

Segundo Cláudio Humberto, o valor original para a implantação de um datacenter no conselho era de R$ 5 milhões. O CNJ firmou com a NTC, entretanto, um contrato com o valor 13 vezes superior ao orçado. Ao contestar as dezenas de milhões a mais que o conselho iria bancar, o então diretor de Informática Declieux Dantas e a então diretora-geral Helena Azuma foram exonerados.

Tentativa de suborno: uma “oportunidade” que abre portas

Estranhando o convite para encontrar Geraldo Tavares Junior, o repórter da BandNews FM decidiu acionar o celular-gravador no paletó. A conversa, que ocorreu em um restaurante no centro de Brasília, durou 20 minutos. “Ele me disse que é muito influente em Brasília, conhece pessoas importantes, trabalha com quatro procuradores, sócios do escritório em que ele era consultor”, recorda Cassiano. “Também falou que essa era minha oportunidade, que o jornalismo funciona assim. Eu entraria na rede dele, eu teria um link com ele, que conhece muita gente influente”.

Sobre o valor, Geraldo Tavares assegurou no mínimo R$ 10 mil. O jornalista perguntou várias vezes sobre outras pessoas da empresa NTC envolvidas nesse “acordo”. O consultor mencionou o nome Paulo Roberto – referência a Paulo Roberto Nascimento de Moura Silva, diretor-executivo da NTC. Geraldo disse que iria encontrá-lo à tarde e precisava de uma resposta de Cassiano nas horas seguintes ao encontro.

O Conselho Nacional de Justiça já sinalizou que vai investigar a tentativa de suborno. O contrato com a NTC pode ser anulado. A AFB Advocacia demitiu Geraldo Tavares e informou “estarrecimento” e “indignação” com a tentativa de suborno. Em nota no site, o escritório afirma que nunca autorizou ninguém a “fazer qualquer proposta indevida” em seu nome.