Principais forças políticas da Bahia batem de frente em Salvador com estratégias distintas
Apesar da força nacional do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a eleição municipal em Salvador deve ser decidida a partir do tradicional embate político entre o DEM, do prefeito ACM Neto, e o PT, do governador Rui Costa. Neste sentido, a boa avaliação da atual administração municipal, liderada por um prefeito que é descrito como “um fenômeno de comunicação”, coloca o atual vice-prefeito Bruno Reis (DEM), que aparece com favoritismo nas pesquisas de intenções de votos, vencendo no primeiro turno.
Em termos de estratégias de campanha, a disputa pela Prefeitura de Salvador fará com que o eleitor se veja diante de duas opções: a candidatura de Bruno, mais amparada em feitos realizados nos últimos oito anos, ou a da Major Denice (PT), cuja principal mensagem é a ideia de cuidar das pessoas. O cenário foi traçado por Cloves Oliveira ontem durante o programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes e transmitido pelo Instagram do CORREIO (@correio24horas).
Doutor em Ciência Política, Oliveira é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele explica que na Ciência Política o melhor discurso é aquele que consegue persuadir o maior número de eleitores, condição que Bruno Reis conquistou desde o início da disputa eleitoral, pondera. Aos adversários dele, avalia o cientista político Cloves Oliveira, cabe o desafio de tentar “desbancar o sucessor de um prefeito que tem uma administração muito bem avaliada”.
Para o cientista político, a disputa em curso é importante para o “poderio político” das duas grandes forças eleitorais da Bahia. “Para além de Bruno e Denice, essa disputa diz muito para grandes líderes políticos – ACM Neto na esfera municipal e Rui Costa na estadual”, acredita o analista.
Boas estratégias
Para o cientista político, as decisões eleitorais das duas principais forças políticas da Bahia em Salvador foram acertadas até aqui. “A princípio eu acredito que as estratégias estão corretas, sobretudo a de Bruno Reis, porque ele repete uma fórmula que já é consagrada”, explica. Ele lembra que a capacidade de boas administrações, como a de Neto, fazerem os seus sucessores é muito grande. “A estratégia do DEM tem sido muito bem desenhada no sentido de compartilhar a paternidade das obras, porque o que não falta é um portifólio de obras muito bem realizadas ao longo de oito anos”, destaca.
“É tanto que ACM Neto venceu a eleição em 2012 com 56% dos votos e em 2016 com em torno de 70% ainda no primeiro turno. Ele mesmo foi o avalista da sua reeleição. E neste momento agora ele está gozando de um prestígio tão considerável a ponto de indicar um quadro técnico seu. Político também, mas técnico”, lembra. “Esse endosso foi suficiente para colocar Bruno Reis com 42% de intenções de votos (pela pesquisa do Ibope”, destaca Cloves Oliveira, lembrando que essa retórica é eficiente, de “reconhecer os atributos técnicos dos seus quadros”.
Para Cloves Oliveira, o caminho que resta às campanhas adversárias, principalmente a da Major Denice, é o de não permitir o predomínio da mensagem da campanha democrata. “A melhor possibilidade seria inverter a agenda, afirmar que o que está posto como fato, de que a cidade está muito boa e que todos estão felizes e contentes não é verdade e que existe um bloco de satisfeitos”, diz. Ele acredita que o caminho seria o de buscar grupos que estariam insatisfeitos com a administração atual.
“O ponto principal é que não se pode aceitar ficar em silêncio quando um dos postulantes ao cargo ostenta a ideia de que está tudo maravilhoso e que vai ganhar no primeiro turno”, avisa.
Ele lembra que a população está sempre calculando o que está sendo deixado como legado pelas administrações e fazendo cálculos sobre benefícios de manter uma administração ou de modificá-la. Hoje ele vê um cenário menos favorável a rupturas. “Por isso o argumento da campanha de Bruno Reis é ‘Salvador não pode parar’ é eficiente’”, ressalta, lembrando que o uso dele é frequente pelo Brasil.
Apesar do cenário favorável ao DEM, Oliveira acredita que a estratégia do governador Rui Costa ao lançar Denice foi acertada. “Há uma pressão dos movimentos sociais, para que Salvador tenha um representante negro, numa inquietação tão forte como não se via desde 1985”, lembra. “Somente agora o PT lança uma candidatura viável, com o endosso do governador disputando a Prefeitura”, compara.
Para ele, a oposição está utilizando o único argumento possível. “O partido aposta na ideia de que finalmente Salvador poderá ter uma mulher negra como prefeita, porque ela tem raízes de pertencimento com a população negra e ligações com bairros populares”, destaca.
Comunicação eficiente é o segredo para o sucesso
O cientista político destaca a capacidade de comunicação do prefeito ACM Neto. “É um fenômeno de comunicação”. Oliveira diz que acompanha eleições desde os anos 90 e lembra que os candidatos antes utilizavam “ancoras” nos programas eleitorais. Eram apresentadores que criavam oportunidades para os candidatos mostrarem as propostas. Ele lembra que a campanha do ex-prefeito Antonio Imbassahy representou um avanço na estratégia de comunicação eleitoral, ao colocar o candidato para falar diretamente com o eleitor durante a campanha.
E para Oliveira, Neto inovou neste modelo ao dialogar diretamente com a população não apenas durante as campanhas, mas no curso do seu mandato, através das redes sociais. “Ele tem muitos seguidores nas redes sociais e esse patrimônio dele está facilitando muito a vida de Bruno Reis”, acredita.
Para o cientista político a pandemia está afetando a dinâmica da disputa eleitoral. “A rotina da vida social mudou com a pandemia, é tanto que se adiou a eleição”, diz. Para ele, é como se o eleitor ainda não estivesse vivendo a eleição.