Bolsonaro muda o tom e diz que coronavírus é ‘maior desafio da nossa geração’

O presidente Jair Bolsonaro mudou o tom durante pronunciamento em rede nacional, na noite desta terça-feira (31), e reconheceu a falta de um medicamento com eficácia confirmada para combater a Covid-19, doença que chegou a classificar como “gripezinha”. Ele afirmou que a doença é “o maior desafio da nossa geração”.

Ainda segundo o presidente, que voltou a ser alvo de panelaços em diversas cidades do país, incluindo Salvador (ver vídeos abaixo), “o vírus é uma realidade, ainda não existe vacina contra ele (coronavírus) ou remédio com eficiência cientificamente comprovada, apesar da hidroxicloroquina parecer bastante eficaz”.

Mesmo sem a comprovação da atuação do remédio, o presidente elogiou a atuação das Forças Armadas para a produção do medicamento. “Os laboratórios químico-farmacêuticos militares entraram com força total e em 12 dias serão produzidos 1 milhão de comprimidos de cloroquina, além de álcool em gel”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro reforçou o anúncio feito pelas redes sociais do acordo firmado hoje com a indústria farmacêutica para adiar o reajuste do preço de medicamentos por 60 dias.

Fala distorcida
O presidente voltou a citar o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, no novo pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. Mais cedo, em conversa com jornalistas e apoiadores, Bolsonaro não colocou o contexto em que a declaração foi dada e omitiu trecho do discurso em que Tedros afirma que governos de todo o mundo precisam garantir assistência a pessoas mais vulneráveis e informar sobre a duração das medidas de restrição de movimentação das pessoas.

Tedros usou sua conta no Twitter para esclarecer o assunto na tarde desta terça. “Pessoas sem renda regular ou qualquer reserva financeira merecem políticas sociais que lhes garantam dignidade e permitam a elas seguir as medidas de saúde pública contra covid-19 aconselhadas pelas autoridades médicas e a OMS”, comentou.

Fim do isolamento
Na contramão do que defende o ministério da Saúde e a OMS, o presidente está tentando afrouxar as medidas de isolamento para o combate ao novo coronavírus.

No último domingo, 29, um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pedir para não menosprezar a gravidade da pandemia do novo coronavírus em suas manifestações públicas, Bolsonaro foi às ruas de Brasília e causou aglomerações ao visitar vários comércios locais ainda abertos.

A atitude, de acordo com especialistas, pode enquadrar o mandatário no artigo 268 do Código Penal ou na Lei de Responsabilidade.

Apesar da tensão com o ministro da Saúde, Bolsonaro indicou nesta terça que Mandetta vai continuar no cargo. “Comigo ninguém vai viver sob tensão, está bem o Mandetta”, disse. Assista ao pronunciamento na íntegra.