Ministro da Educação Milton Ribeiro afirma que se reuniu com o arcebispo do Rio para discutir sexualização precoce de crianças

Responsável pelo MEC disse também em evento no Recife que respeita “todas as orientações, mas temos que ter um pouco mais de respeito com as crianças”. Milton Ribeiro fala sobre audiência com Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, relatou durante um discurso nesta quarta (28) que se encontrou com o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, para debater “questões de querer introduzir, de uma maneira, creio, precoce, questões de sexualidade com crianças” e falou que respeita “todas as orientações, mas temos que ter um pouco mais de respeito com as crianças”.
Nesse trecho do discurso (ver vídeo acima), Ribeiro não especifica quais são as “questões de sexualidade com crianças” e não explica a relação entre “orientações” e o que sugere ser falta de “respeito com as crianças”. No mês passado, ele afirmou a um jornal que gays vinham de “famílias desajustadas”.
“[Na última] Segunda-feira eu me reuni no Rio de Janeiro com Dom Orani Tempesta, que é o arcebispo do Rio de Janeiro, para que nós pudéssemos conversar sobre algo que é muito caro para o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, que são os valores, os valores da família, os valores a respeito da condução da vida das pessoas. Num país que, principalmente, é cristão. Nós sentamos para conversar um pouco sobre essas questões de querer introduzir, de uma maneira, creio, precoce, questões de sexualidade com crianças. Noções que passam da comunicação apenas científica para outro tipo de informação. Respeito e sempre respeitarei todas as orientações e todos os encaminhamentos que as pessoas têm, mas temos que ter um pouco mais de respeito com as crianças. É a orientação que recebi e que creio que será melhor para a educação e o Brasil”, afirmou o ministro.
Ribeiro discursou durante o lançamento de um prêmio de economia criativa na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
No mesmo discurso, o ministro da Educação disse que o presidente Jair Bolsonaro tinha “talvez milhares de pessoas que teriam, talvez, muito mais capacidade técnica e acadêmica do que eu, embora eu tivesse tido a minha experiência acadêmica, minha formação acadêmica. Mas uma das coisas que ele levou em conta foi a questão dos valores e princípios. Não apenas questões morais, mas, ele disse pra mim, muito claro, por ser minha primeira viagem ao Nordeste como ministro, que a tolerância que eu devia ter com qualquer sinal de corrupção seria zero”.
O G1 entrou em contato com o Ministério da Educação para esclarecer o contexto das falas mencionadas e aguarda posicionamento. A reunião consta na agenda oficial do MEC.
A assessoria de comunicação da Aquidiocese do Rio declarou em nota que Tempesta “recebeu para uma visita de cortesia o senhor ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o secretário-executivo no Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, a pedido dos mesmos”. Acrescenta que foram concedidas entrevistas no dia.
No mês passado, Ribeiro foi questionado pelo jornal “O Estado de S.Paulo” sobre a importância da educação sexual na sala de aula. O ministro disse ser preciso mostrar “que há tolerância”, mas que “o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo [termo considerado preconceituoso]” vêm, algumas vezes, de “famílias desajustadas”.
A palavra “homossexualismo”, usada pelo ministro, remete a “doença” por causa do sufixo -ismo. Desde 1973, a Associação Americana de Psiquiatria (APA, sigla em inglês) retirou a homossexualidade (o termo correto para a orientação sexual) da lista de doenças. Depois, o órgão foi seguido por uma série de entidades de saúde. Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) seguiu as observações dos pesquisadores. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia também adota essa visão.
Crítica à pílula anticoncepcional
Há dois anos, Ribeiro criticou a conduta sexual da sociedade. Segundo ele, após a criação da pílula anticoncepcional, a maior liberdade fez com que o mundo perdesse a “referência do que é certo e errado”.
“Não importa se é A, B, se é homem ou se é mulher, se é velho, se é novo. Não interessa. O que interessa é aquele momento. E tem mais. Eles explicam assim: se for feito com amor, tudo vale”, diz.
“Se você tem um sexo com seu vizinho que é casado, com sua vizinha, mas com amor, então pronto, nenhuma dificuldade. Essa é nossa sociedade. É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completa.
O ministro já defendeu que as crianças devem “sentir dor” em um vídeo, publicado no YouTube em 2016, em que apoia “rigor e severidade” na educação das crianças.
“A correção é necessária pela cura. Não vai ser obtida por meios justos e métodos suaves. Talvez aí uma porcentagem muito pequena de criança precoce, superdotada, é que vai entender o seu argumento. Deve haver rigor, desculpe. Severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim, (as crianças) devem sentir dor”, declarou Ribeiro no vídeo.
Na cerimônia de posse, o ministro disse que nunca apoiou o uso de violência física na escola. “Nunca defenderei tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta”, afirmou.
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