Bolsonaro é o único cientista do mundo que entende do vírus chinês e tem remédio pronto

Muita gente precisa de uma vacina para a cabeça. Muita. Impossível não voltar a esse tema quando o presidente da República, obcecado, não para de falar sobre ele. Sempre contra tudo. Bolsonaro é, certamente, o único cientista do mundo que entende do vírus chinês e tem na gaveta de seu criado-mudo o seu remédio particular pronto a ser usado em qualquer emergência. Está demais essa ladainha de todos os dias. Agora a discussão é sobre a obrigatoriedade da vacina. “Um juiz não pode decidir se você vai tomar a vacina ou não”, diz ele do alto de sua sabedoria. Respondeu ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para quem a vacinação será judicializada. É uma necessidade. O STF decidirá sobre o critério a ser adotado para a vacina. Fux observa que caberá ao Tribunal resolver sobre temas como a liberdade individual e requisitos para a imunização. Bolsonaro não se conforma. Ele diz que é o presidente, portanto, ninguém pode passar por cima do que prega. É proibido discordar de um presidente da República que nunca deu a mínima para uma questão mundial.

Certamente, nem sabia que mais de 155 mil brasileiros já morreram vítimas do coronavírus. Ou, se sabe, pouco lhe importa. Agora, Bolsonaro cismou com a pressa de se conseguir uma vacina. Acha que o melhor é tratar da doença, desde que seja com os remédios que indica, como um médico em seu consultório de lamúrias. Bolsonaro adianta que já tratou do assunto com seu general-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, observando que o país tem uma longa jornada pela frente. E repete que a vacina não é uma questão para a Justiça: “Isso é uma questão de saúde pública”, diz ele, de maneira surpreendente, porque palavras assim não cabem no seu raciocínio confuso. Garante que não será um juiz que vai decidir se alguém deve ou não ser vacinado. Mostra ser totalmente contrário à vacinação obrigatória. E tem afirmado sempre que não confia na vacina chinesa desenvolvida juntamente com o Instituto Butantan,  do governo de São Paulo, portanto, “a vacina chinesa do Dória”.

Já existem quatro ações no STF tratando do assunto. O ministro Ricardo Lewandowski informou que a questão será levada ao plenário nos próximos dias. No fundo das cenas está cada vez mais aguda a disputa política de Bolsonaro versus João Doria. E enquanto discutimos aqui essas amenidades, a chamada segunda onda do vírus cresce em países europeus e também em regiões do Brasil. Saltitante, João Dória confirmou a chegada de seis milhões de doses da CoronaVac, a vacina chinesa. Agora, espera a liberação da Anvisa para receber insumos chineses a fim de produzir outras 40 milhões de vacinas. Ao mesmo tempo, Doria pede outro comportamento de Bolsonaro. “Chega a ser inacreditável que tenhamos um país onde o presidente da República não torça pela salvação das pessoas”, diz Doria, com razão. Assinala parecer que Bolsonaro torce contra todas as vacinas, dizendo que não é isso que um país espera de seu presidente. “Não me parece nem justo, nem correto, nem uma posição humanitária. Lamento que alguns membros do governo federal, a começar por Bolsonaro, adotem essa postura lastimável”, diz. Doria está sugerindo uma reunião de governadores com Bolsonaro para discutir o assunto, observando que, se ele aceitar, já terá sido um gesto de grandeza, até porque o país precisa estar unido diante da pandemia. Sendo assim, Doria pede a compaixão de Bolsonaro e um bom sentimento ao povo brasileiro. Já Bolsonaro não está nem aí. Criou um ambiente insuportável no Brasil, plantando descrédito às vacinas, especialmente a chinesa. Devia ser exatamente o contrário. Bolsonaro já admite comprar as vacinas aprovadas pela Anvisa. Seja como for, ele tinha de estar à frente do combate. Mas o melhor é passear de moto. Enquanto médicos e cientistas de todo mundo alertam para a importância da imunização coletiva, Bolsonaro vai de moto na contramão.