Pandemia provoca prejuízo de R$ 107 milhões no transporte público
Que a pandemia vem causando estragos já não é novidade, mas os números sempre impressionam quando o prejuízo é calculado na ponta do lápis. No caso do transporte público de Salvador, o rombo será de R$ 107 milhões. Despesas com a intervenção na Concessionária Salvador Norte (CSN), e com indenizações dos custos operacionais das outras duas bacias fizeram a conta disparar.
O prefeito ACM Neto convidou a imprensa para uma entrevista coletiva, nesta terça-feira (27), e apresentou os números. Serão R$ 90 milhões até dezembro e o restante ficará como caixa para o próximo prefeito continuar arcando com os custos. Ele garantiu que apesar dos problemas, o valor da passagem de ônibus não vai aumentar.
“Sempre procurei evitar que esse ônus recaísse nas costas do usuário do transporte público, porque sempre me preocupou a capacidade de pagamento do cidadão de Salvador. O único caminho que eu jamais cogitei foi aumentar a tarifa. Não há hipótese de isso acontecer até o dia em que eu for prefeito”, disse, e afirmou que todos os gastos estão sendo pagos pela Prefeitura.
A principal despesa foi a intervenção na CSN, R$ 55 milhões. Em 2014, a concessionária ganhou a licitação para operar uma das três bacias do transporte público em Salvador. Ela era responsável por administrar as linhas da Estação Mussurunga e da Orla, mas teve problemas financeiros intensificados pela crise provocada pela pandemia, e pediu uma intervenção através de uma ação judicial.
A intervenção foi confirmada pela Prefeitura no dia 20 de junho. Desde então, é o Município quem está pagando os trabalhadores e arcando com despesas imediatas, como compra de combustível, e de manutenção, como pneus e peças novas. O prefeito contou que o processo jurídico sobre a situação da CSN está em fase de conclusão, e que o custo pode aumentar caso a intervenção seja renovada.
Questionado se pretende devolver a concessão para a CSN, ou repartir as linhas entre as outras duas concessionárias, ou realizar uma nova licitação, o prefeito respondeu que está analisando o cenário e que uma decisão definitiva será tomada em breve.
Quadro geral
ACM Neto destacou alguns avanços do sistema de transporte público na capital, como a unificação da operação através da licitação de 2014, maior transparência nas contas, a implantação do aplicativo CittaMobi, e do programa Domingo é Meia. Mas disse que houve redução significativa no número de passageiros, por conta do metrô, do transporte por aplicativo e, por fim, da crise provocada pela pandemia.
Segundo a prefeitura, entre março e julho, o número de passageiros no transporte público caiu 66%. Desde que as atividades econômicas foram sendo retomada, entre agosto e outubro, houve aumento de 26% de usuários. Atualmente, apenas 60% das pessoas que normalmente pegavam ônibus voltaram a fazer uso do serviço, ou seja, 750 mil passageiros por dia.
Essa defasagem obriga a prefeitura a cobrir a diferença entre os custos operacionais das outras duas concessionárias que operam o transporte público e a arrecadação do sistema. O prejuízo para os cofres públicos está em R$ 47 milhões. Além disso, existe também R$ 5 milhões em compra de vale-transporte para uso em programas sociais.
Apesar do cenário, Neto destacou que a administração está conseguindo cobrir as despesas, mas deixou claro que está preocupado com o futuro. “Se não fosse o pacote de aporte de recursos que a prefeitura está fazendo a situação estaria muito pior. O objetivo é evitar o colapso”, disse.
Nesta terça-feira, ele autorizou a utilização de 100% da frota das estações de transbordo de Pirajá, Lapa, Mussurunga, e Acesso Norte, nos horário de pico, ou seja, das 5h30 às 8h30, e das 16h30 às 19h30. Algumas regiões da cidade terão operações assistidas, com reforço no número de ônibus, é o caso da Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana), Rua Silveira Martins (Cabula) e Avenida São Rafael (São Marcos).