Franklin Carvalho lança livro de contos sobre a vida nada pacata do interior

Capa do livro A Ordem Interior do Mundo (Editora 7 Letras | R$ 45 | 148 páginas)

O jornalista e escritor Franklin Carvalho, 52 anos, estava dentro do ônibus gravando uma história que acabara de criar, quando foi interrompido. Falava sozinho sobre um homem que saiu da cadeia e se viu pressionado pelos vizinhos para que cometesse mais crimes, quando foi indagado por um cidadão curioso com o destino do personagem: “E aí, vai terminar como?”. 

Para descobrir o que acontece no final, o passageiro intrometido – e real – vai ter que ler o livro de contos A Ordem Interior do Mundo (Editora 7 Letras | R$ 45 | 148 páginas), de autoria de Franklin, que será lançado nesta terça-feira (27), às 17h30, em evento virtual da Academia de Letras da Bahia (ALB). Durante o bate-papo, disponível através do link www.academiadeletrasdabahia.org.br, a obra será vendida por R$ 40. 

Uma das oito histórias do livro é justamente o conto A Vida Inteira, que mostra esse ex-presidiário tentando se readequar à rotina longe da capital. “Gosto dessa coisa de contar histórias”, justifica Franklin, que se inspirou em viagens feitas pelo interior do Brasil. Mas, ao contrário do estereótipo pacato das cidades, a obra traz um misto de dramas, assombrações e “personagens estranhos”. 

“A gente começa a conviver com os moradores, vê histórias para contar e percebe como a sociedade pode ser perversa. Nas cidades do interior você tem uma estrutura moral muito rígida. Quando você dá oportunidade, as pessoas desabafam com mais facilidade. Quis colocar no papel esses desabafos que ouvi”, explica o autor que é vencedor do Prêmio Nacional de Literatura da ALB 2019. 

Pecados 
O caso real de uma viúva “deserdada” pela família do falecido marido está no conto Leste, criado depois da ida para Araci, terra natal do autor. Na história, a pobre viúva precisou se mudar com os filhos pequenos para um velho casarão tido como assombrado. Apesar disso, os relatos reunidos na obra nem sempre são tristes. 

“As mulheres lembram muito da solteirice”, comenta Franklin, já que muitas vezes “o casamento vira obrigação porque não são tratadas como queriam”. “Então, se tornar viúva para uma mulher do interior pode tirar esse peso”, justifica. “Meus contos têm muitos velhos e velhas, personagens que ouço muito. Eles confessam desejos que tinham na juventude e pecados que cometeram”, acrescenta. 

A fofoca e outros vícios entranhados na vida pública também estão no livro que tem prefácio de Gerana Damulakis e orelha do escritor Saulo Dourado. Segundo Franklin, a fofoca dá conforto às pessoas “porque explica a vida”. “Ela tem o sentido de criar um mundo fictício que sirva de exemplo para outras pessoas. Essas regras morais tentam criar a situação ideal. Mas a sociedade funciona, apesar de toda a hipocrisia”, defende. 

Caos 
Técnico em química, Franklin defende que a “ordem” que está no título do livro é uma palavra contraditória e que “alguma dose de caos é necessária”. “Se você mantém as coisas em ordem o tempo todo, elas não progridem. A desordem é melhor para que elas reajam. Uma sociedade muito estruturada, hierárquica, controlada e dominada não progride”, defende. 

E é esse caos que encanta o autor. O caos que existia na natureza, no começo da criação da vida, e o caos que cria sentimentos de solidariedade, de buscas e de aflição. “Esse caos do interior cria a necessidade de contar histórias”, justifica. “Quem conta histórias no interior é muito valorizado e desde pequeno eu queria ser essa pessoa”, confessa Franklin. “Para contar boas histórias você tem que ter bons ouvidos”, conclui.