Estudantes de Salvador criam Startups e atraem investidores

Escolher uma carreira profissional pode ser uma missão desafiadora, principalmente aos 16 anos, época em que as pressões em torno da conclusão do ensino médio começam a se intensificar. No caso do estudante André Santos, do Colégio Ana Tereza, essa preocupação foi solucionada ao longo deste ano graças a um incentivo da própria escola. “Inicialmente, eu estava indeciso entre Filosofia e Física, mas através das mentorias em empreendedorismo, acabei me encantando pela proposta de desenvolver ideias, buscar soluções e transformá-las em uma proposta de negócio e, hoje, tenho certeza que Administração é o caminho que quero seguir”, afirma.
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O estudante André Santos criou a Sustentek, startup que desenvolve um equipamento de reciclagem de resíduos para uso na indústria |
Até chegar à conclusão, o estudante precisou colocar a mão na massa. O processo envolveu trabalho de pesquisa, que passou pela detecção de um problema e o estudo de formas para solucionar a situação. Tudo isso sob orientação dos professores e profissionais de instituições parceiras. O fruto de do estudo foi a Sustentek, startup criada por André e os colegas, que busca desenvolver um equipamento de reciclagem de resíduos para uso na indústria.
André esclarece que o aparelho será voltado para uso geral da população e emite um voucher financeiro que pode ser utilizado em diversas finalidades. “Tem sido uma experiência muito boa. Durante a criação da empresa, aprendi conceitos de finanças, comunicação, gestão, criação, habilidades pessoais e, agora, temos a possibilidade de viabilizar a Sustentek pela Inova Unicamp e o Senai”, relata.
O jovem é um dos 60 alunos do Colégio Ana Tereza que, desde o início do ano, participa do Projeto de Desenvolvimento de Startups oferecido pelo CAT em parceria com a Solux – Educação e Inovação. A proposta que teve início como uma inserção do empreendedorismo na grade disciplinar, seguindo as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), foi alçada a um novo patamar pela coordenação pedagógica da instituição, através do incentivo à criação de startups, pelos alunos.
De acordo com o coordenador pedagógico, André Nascimento, o Colégio Ana Tereza, que em 2020 completou 42 anos de história, sempre fez questão de incentivar a inovação e preparar os alunos para o mercado de trabalho do futuro, segundo essa diretriz, nasceu a proposta de desenvolvimento das startups.
“Introduzimos a iniciação científica para estimular o interesse dos alunos no campo de pesquisa e também ampliar o repertório intelectual deles. Dessa forma estabelecemos o que chamamos aqui de educação 4.0, que é a aprendizagem por meio da tecnologia, e as startups foram a etapa final”, explica André Nascimento.
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A formação dos jovens é o legado que fica |
O projeto, que consiste em oferecer mentoria aos alunos em diversas áreas da educação financeira, empreendedorismo e inovação, este ano conta com o tema Cidades Inteligentes. O lado prático da proposta envolve oferecer soluções tecnológicas e sustentáveis para problemas enfrentados pela sociedade atual, através de empresas geridas e operacionalizadas pelos próprios estudantes. “O projeto vai muito além da escola e tem a ambição de se inserir em um ecossistema de inovação, garantindo que as propostas dos alunos não acabem junto com ano letivo, sendo desenvolvidas e materializadas”, revela André.
Além das ferramentas tradicionais de gestão, que envolvem temas logística, finanças, criação e operação, os estudantes também tiveram mentorias em marketing e comunicação para aprender a vender ideias e engajar o público.
“Vamos explorando e mapeando as vocações, os alunos se dividem em grupos e assumem funções diferentes, em uma verdadeira dinâmica de empresa”, explica a CEO da Solux, Fernanda Mayan. “Nesse processo muitos alunos que estavam perdidos sem saber qual caminho profissional escolher, acabaram encontrado a convicção sobre a carreira”, diz.
Durante a elaboração do projeto de um dispositivo de emergência para alertar a polícia em casos de violência doméstica, a aluna do 2º ano, Flavia Viana, CEO da startup No Panic, descobriu nos conceitos de Administração e Marketing a vocação para empreender. “Sou de exatas e continuo determinada a buscar uma carreira na engenharia, mas agora, mais do que nunca, quero ter minha própria empresa, afinal, quem não quer ser o próprio chefe?”, diz.
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Flavia Viana, CEO da startup No Panic, descobriu nos conceitos de Administração e Marketing a vocação para empreender |
Inovação em ambiente digital
O coordenador pedagógico André Nascimento afirma que apesar da chegada da pandemia do novo coronavírus, ainda no início do ano letivo, os alunos permaneceram motivados e outras startups também estão se destacando.
“O isolamento social pegou todo mundo de surpresa e nos perguntamos como seria levar esse projeto à frente, sem o presencial, mas os alunos permaneceram muito engajados, cada grupo tem seu horário de mentoria. Eles participam e as pessoas ficam impressionadas como estudantes tão jovens conseguem absorver com tanta facilidade esses conceitos”, ressalta.
Mesmo à distância, produtos bastante ousados puderam ser elaborados a exemplo do aspirador de pó autônomo que conta com lâmpadas de LED, para desinfecção e combate a vários tipos de vírus, idealizado pela startup EBF, liderada pelo aluno Gabriel Antunes.
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Gabriel Antunes idealizou a startup EBF, que criou um aspirador de pó para desinfecção e combate a vírus |
“Com os desafios da pandemia e a dificuldade de acesso a laboratório, o desafio se tornou ainda maior, mas por se tratar de um projeto que envolve eletrônica, foi um trabalho que me motivou muito”, comenta. O projeto da EBF já conta com uma grande empresa na lista de interessadas para a produção.
Fernanda explica o sucesso da iniciativa fica claro quando, pelo menos três startups geradas no Colégio Ana Tereza já estão processo de viabilização do contrato de aceleração junto ao Senai. Porém, muito além do despertar da veia empreendedora, através de toda troca de conteúdo vivenciada ao longo do projeto, os estudantes já sairão do colégio com ferramentas diferenciadas para a construção de uma carreira profissional, independentemente da escolha.
“A capacidade de saber identificar problemas e gerar oportunidades de crescimento a partir da solução é uma característica diferencial para qualquer profissional e essa contribuição da base de formação desses jovens é o legado que fica”, declara Fernanda.
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Kaio Aroldo, do 2º ano, é CEO da WRS, startup que idealizou um sifão capaz de coletar e reaproveitar água |
Para o estudante Kaio Aroldo, do 2º ano, que é CEO da WRS, startup que idealizou um sifão capaz de coletar e reaproveitar água, um dos conceitos adquiridos na experiência de gerir uma empresa que mais fizeram a diferença na sua formação foi o treinamento em liderança. “Ser a referência, gerir a equipe e conseguir extrair o melhor de cada um durante o trabalho, inclusive de mim mesmo, é sensacional. Sei que no meu futuro profissional vou poder contar com as bases que construí aqui”, conclui.
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