Presidente de Cuba repudia ‘agressividade’ dos EUA e defende médicos
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, denunciou nesta terça-feira, 22, a escalada da agressividade dos Estados Unidos contra o país “mesmo em tempos de pandemia”, defendeu o trabalho internacional dos médicos cubanos e pediu uma reforma da ONU diante de “uma ordem internacional injusta e antidemocrática”. “A agressividade atingiu um nível qualitativamente novo, o que reforça sua condição de impedimento real e determinante à gestão da economia e ao desenvolvimento do nosso país. Não se passa uma semana sem que aquele governo emita declarações contra Cuba ou imponha novas restrições”, declarou o presidente perante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Diante da hostilidade dos EUA em relação à ilha, que passa por sérias dificuldades econômicas agravadas pela crise sanitária mundial, Díaz-Canel enfatizou que a Revolução Cubana “saberá resistir e vencer”. Mais cedo, neste mesmo fórum, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, justificou em discurso sua política em relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua em prol da “liberdade”. Díaz-Canel respondeu, ratificando o apoio cubano aos governos de Nicolás Maduro e Daniel Ortega.
EMBARGO FORTALECIDO
O líder cubano disse que, “apesar das duras restrições” do embargo dos EUA, Cuba conseguiu enfrentar a pandemia graças “ao conhecimento acumulado em mais de 60 anos de enormes esforços para criar e fortalecer um sistema de saúde de qualidade e alcance universal, assim como a pesquisa e o desenvolvimento científico”. Desde março, Cuba acumula 5.222 casos de Covid-19 e 117 mortes causadas pela doença, com uma taxa de mortalidade inferior à média global. “Conseguimos isto apesar das duras restrições do prolongado bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos EUA, que foi brutalmente apertado nos últimos dois anos, mesmo em tempos de pandemia, como prova de que este é o componente essencial de sua política de hostilidade contra Cuba”, criticou. Como exemplo, o governante cubano mencionou “a perseguição das transações financeiras” no país e a adoção de “medidas que violam o direito internacional para privar o povo cubano da possibilidade de adquirir o combustível que necessita em seu trabalho diário e para seu desenvolvimento”.
DEFESA DOS MÉDICOS CUBANOS
Neste cenário, Díaz-Canel defendeu o trabalho das missões médicas cubanas, que também foram alvo de ataques dos Estados Unidos, e lamentou a “chantagem de gângsters” à qual, em sua opinião, o governo Trump está sujeitando a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para frear os programas de cooperação de saúde cubanos. “Pedimos o fim da campanha de hostilidade e calúnia contra o trabalho altruísta da cooperação médica internacional de Cuba, que, com alto prestígio e resultados verificáveis, ajudou a salvar centenas de vidas e a reduzir o impacto da doença em diversas latitudes”, argumentou o presidente.
Enquanto os Estados Unidos se retiraram da Organização Mundial da Saúde (OMS), Díaz-Canel disse que Cuba enviou mais de 3.700 profissionais do setor a 39 países afetados pela Covid-19. O governante também mencionou que os cientistas da ilha estão trabalhando no desenvolvimento “de uma das primeiras vacinas que estão em fase de ensaio clínico no mundo” e alertou para as consequências globais da pandemia, que está causando uma “crise multidimensional” que “demonstra claramente o erro profundo das políticas desumanas impostas a todo custo pela ditadura do mercado”.
DEMOCRATIZAÇÃO DA ONU
Depois de afirmar que “o vírus não discrimina”, Díaz-Canel disse querer “promover a solidariedade e a cooperação internacional para amortecer o golpe” e pediu à ONU que retome a “luta justa para eliminar a dívida externa impagável que, agravada pelos efeitos sócio-econômicos da pandemia, ameaça a sobrevivência dos povos do sul”. “Não podemos enfrentar a Covid-19, a fome, o desemprego e a crescente desigualdade econômica e social entre indivíduos e entre países como fenômenos independentes. É urgente implementar políticas abrangentes nas quais o ser humano é a prioridade”, analisou.
No discurso, o presidente cubano também exigiu a “democratização” da ONU “para que ela responda efetivamente às necessidades e aspirações de todos os povos”. “Algo falhou quando testemunhamos violações diárias e permanentes dos princípios da Carta da ONU, e quando o uso ou ameaça de força nas relações internacionais é cada vez mais frequente”, exemplificou. Díaz-Canel acrescentou que “a Revolução Cubana sempre defenderá a existência” da ONU, à qual a ilha deve “o pequeno, mas essencial multilateralismo que sobrevive à arrogância imperial”.
*Com informações da EFE