No Peru, pandemia levou cerca de 300 mil alunos a desistirem da escola


Número equivale a 15% dos estudantes do país. Entre os motivos estão a necessidade de trabalhar e as dificuldades de acesso a aulas virtuais. 24 de julho de 2020 – Os irmãos Juan Carlos, 13, Alvaro, 10, e Roxana Cabrera, 16, acompanhados pela mãe Raymunda Charca, em uma colina para captar sinal de celular e acessar as aulas virtuais. Cerca de 300 mil alunos abandonaram a escola neste ano no Peru por conta da necessidade de trabalhar ou da dificuldade de receber aulas virtuais em meio à pandemia do coronavírus.
Carlos Mamani / AFP
Cerca de 300 mil alunos abandonaram a escola no Peru durante a pandemia, segundo uma estimativa do Ministério da Educação divulgada nesta terça (22). O número equivale a 15% das matrículas no país. A informação é da agência France Presse.
De acordo com o governo, entre os motivos estão a necessidade de trabalhar e as dificuldades de acesso às aulas virtuais.
“A educação não tem sido uma prioridade na pandemia. O alto índice de evasão é um sinal de um sistema educacional precário”, disse à AFP o analista Luis Benavente, diretor da consultoria Vox Populi. “Nenhum esforço foi feito para melhorar a educação e a saúde durante este governo ou nos anteriores”, acrescentou.
No Brasil, não há números estimados sobre evasão e abandono escolar durante a pandemia. Estados e municípios buscam evitar o problema por meio da “busca ativa escolar”, que é a identificação de casos e a procura por estudantes para tentar solucionar o problema. No entanto, nenhuma rede de ensino estima o número de alunos que poderão abandonar as escolas em 2020. A maioria afirma que vai esperar o retorno às aulas presenciais para confirmar se o estudante abandonou mesmo os estudos ou só não se adaptou às atividades remotas.
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24 de julho de 2020 – estudante faz notas no caderno enquanto acessa as aulas remotas pelo celular, no Peru. País estima que 300 mil alunos possam abandonar a escola ou desistir dos estudos por causa da pandemia
Carlos Mamani / AFP
O Peru é um dos países mais atingidos pela pandemia, com 772 mil infecções e 31 mil mortes. O governo tem concentrado seus esforços na contenção do vírus e na reativação da economia. Uma das primeiras medidas foi suspender as aulas presenciais, em 12 de março, uma semana após a detecção do primeiro caso de Covid-19 em território peruano.
Com o país em confinamento, em abril, o ensino a distância começou a ser implementado em escolas públicas, privadas e universidades. São mais de 2 milhões de crianças em idade escolar e 800 mil estudantes universitários, segundo dados oficiais.
No mesmo mês, foi lançado o programa “Aprendo em casa”, com a transmissão de aulas pela televisão, rádio e internet. O Ministério da Educação também distribuiu 719 mil tablets com acesso à internet para alunos do campo e 124 mil para alunos da cidade acompanharem as aulas.
No entanto, as medidas esbarraram em uma dura realidade: a alta informalidade do trabalho (70%) levou milhares de peruanos a desafiarem o isolamento para ganhar a vida. Além disso, a pobreza em que vive um quinto da população privou milhares de alunos do acesso a computadores e à internet. A própria geografia do Peru prejudica o contato de muitos estudantes.
“O fator que levou ao alto índice de evasão é o econômico”, explicou o diretor regional de Educação, Mario Benavente, à rádio RPP. “Muitos, por falta de trabalho para os pais, têm que se mudar para o campo; muitos vão trabalhar nas minas”, afirmou.
Um terço dos 33 milhões de peruanos segue em quarentena. O governo descartou a retomada das aulas presenciais este ano, mas o ministro anunciou que nas férias de verão haverá um programa de nivelamento para os alunos que estão atrasados ou abandonaram a escola.