Justiça aceita denúncia contra Julio Cocielo por racismo

O Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou nesta terça-feira (15) denúncia do Ministério Público contra o youtuber Julio Cocielo pelo crime de racismo. A denúncia é assinada pela promotora de Justiça Cristiana Steiner e indica supostos crimes que o influenciador teria cometido nas redes sociais entre os anos de 2011 e 2018. O documento tem uma série de prints de postagens de Cocielo no Twitter com mensagens consideradas racistas ao longo desses sete anos. “Certo é que entre entre 02 de novembro de 2011 e 30 de junho de 2018, o denunciado realizou diversas postagens de cunho evidentemente racista, conduta esta discriminatória dirigida de forma inequívoca às pessoas de cor negra, incitando a discriminação por todos seus seguidores”, diz a promotora. O crime de que o youtuber é acusado é imprescritível e prevê pena de reclusão de dois a cinco anos, mais multa, e será julgado por Sergio Augusto Duarte Moreira.

O primeiro tweet citado na denúncia é de 2 de novembro de 2011. “Porque o Kinder ovo é Preto por fora e Branco por dentro? … porque se ele fosse Preto por dentro o brinquedinho seria roubado, KKK #maldade”, diz a mensagem. “Evidenciou-se que se referia aos negros como se fossem todos criminosos”, explica a promotora. Na sequência, ela apresentou um post de 20 de setembro de 2012. “Se os cara do racionais falar “mão pra cima” eu não sei se é assalto ou comemoração”, diz o tweet. A terceira mensagem apresentada foi postada em 24 de novembro de 2013. “Eu queria ter gravado um vídeo sobre o dia da consciência negra, só que aí eu deixei quieto porque na cela não tem wi-fi”, escreveu. “Mais uma vez reforçou tal o estereótipo à população negra, distorcido e preconceituoso de que seriam criminosos, com associação da figura do negro com a de um assaltante”, relata a denúncia.

O documento do Ministério Público segue listando supostos crimes de racismo de Julio Cocielo. “Em seguida, em 20 de novembro de 2013, o denunciado publicou na referida conta @cocielo “nada contra os negros, tirando a melanina…” (sic), evidenciando seu ódio racial e demonstrando ser contra a cor da pele dos negros”, afirma a promotora. “No dia 28 de dezembro de 2013, às 16:47 horas, por sua vez, o denunciado incitou o ódio às pessoas de cor negra, incitando às pessoas que lhe seguiam a exterminar a população negra assim aduzindo: ‘O Brasil seria mais lindo se não houvesse frescura com piadas racistas. Mas já que é proibido, a única solução é exterminar os negros’”, continua. “No dia 11 de dezembro de 2013, por sua vez, novamente ataca e faz publicação de conteúdo racista, aduzindo: ‘Gritei VAI MACACA pela janela e a vizinha negra bateu no portão de casa pra me dar bronca’, menosprezando claramente a população de cor preta, comparando-as ao animal macaco”, segue.

A denúncia também lembrou das acusações de racismo contra Cocielo durante a Copa do Mundo de 2018, quando ele fez um tweet com uma piada preconceituosa com o francês Kylian Mbappé. “O viés racista restou claro ainda quando na Copa do Mundo publicou em 30 de junho de 2018 novo comentário com viés racista, novamente fazendo triste associação do negro com o crime assim descrevendo: ‘Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein’”, diz o documento. “Na época tal comentário ficou mundialmente conhecido e inclusive custou perda de vários patrocínios ao denunciado, de diversas marcas que não queriam ter o nome associado ao racismo ou qualquer tipo de discriminação”, analisa a promotora.

Ainda no documento, o MP indica que Julio Cocielo tem consciência dos comentários racistas ao anexar um tweet em que ele diz “A Polícia Federal usa Twitter? Eu ia fazer uma piada racista, deixa quieto”. “Só piada racista e nenhum processo nesse dia da consciência negra. Chupa Brasil”, escreveu em outra mensagem. “Dessa forma, o réu reforça os estereótipos contra os negros numa mídia de largo alcance sua atividade profissional e sua fonte de renda, contribuiu de modo eficaz para a incitação e proliferação do racismo e de todas as suas consequências psíquicas, sociais, culturais, econômicas e políticas”, afirma a denúncia.