Baú do Marrom: os segredos da misteriosa encomenda que Gal Gosta recebeu no RJ
Assim que Gal Costa anunciou em suas redes sociais a live que fará dia 26 de setembro comemorando 75 anos, imediatamente me lembrei de um fato inusitado para um jovem jornalista em início de carreira. O ano era 1979 quando o então Correio da Bahia (hoje, CORREIO) chegava às bancas na cidade de Salvador. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Gal Costa entrava definitivamente no rol das cantoras populares deixando de ser a musa do tropicalismo para conquistar todas as classes sociais.
Essa transformação se deu graças ao show Gal Tropical, idealizado pelo seu empresário na época o saudoso Guilherme Araújo, que lotou durante meses o Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro causando uma comoção em todo o Brasil a ponto de ganhar uma capa da Revista Veja. Aquela Gal descabelada do Tropicalismo deu lugar a uma Gal classuda. Toda trabalhada num figurino do badalado Guilherme Guimarães. Além da beleza madura, uma voz cada vez mais afinada e afiada e um repertório de tirar o fôlego.
Capa do disco Gal Tropical |
Daqui da Bahia eu acompanhava tudo. Nessa época formávamos uma animada turma com Isabela Laranjeira, Silvia Patrícia, Jussara Silveira, Bebete Martins, Amaury Oliveira (Bi), os irmãos Moisés e Pedro Santana, o primo Marcos Melo, Fábio Pestana de Castro entre outros. Vivíamos na casa de Gil com Sandra Gadelha, Drão. Também fazia parte dessa turma, Guto Burgos, irmão de Gal Costa por parte de pai. Aí é que começa a história.
Ao saber que eu estava indo para o Rio de Janeiro assistir o show, Guto me pediu um favor. Que eu fosse ao camarim e entregasse uma encomenda para Gal. Ele disse que avisaria a produção. Lógico que eu nem pestanejei. Cheguei no Rio fui ver o show, fiquei embevecido com o que vi. Depois fui lá falar com a estrela.
Foto: Arquivo Pessoal |
Ela já sabia que chegaria um portador da Bahia com a tal encomenda. Todo tímido cheguei no camarim lotado de artistas e celebridades. Me presentei e entregue a encomenda a Gal Costa. Era um pacote contendo um par de sapatos que ela esquecera em Salvador e pediu a Guto que levasse para o Rio. Como Guto não ia viajar por esse tempo, porque estava trabalhando, a minha viagem caiu como uma luva.
Muito simpática, Gal procurou saber quem eu era e como estava seu irmão. Eu disse que era jornalista e amigo dele. Tudo isso em meio a um burburinho dos convidados da artista. Entre as quais As Frenéticas que estavam no auge. Feita a entrega, cumprida a missão, me retirei. Como naquele tempo não havia celular nem redes sociais só me restou guardar aqueles momentos na memória.
Capa da Revista Veja |
Quando estava escrevendo esse texto liguei para Guto que mora no Rio mas está em Salvador por causa da pandemia. Ao falar que ia escrever sobre essa história ele não se conteve: “Nega (é assim que ele me chama) eu nem lembrava mais disso. Só você mesmo. Era um par de sapatos que ela gostava muito e esqueceu aqui. A gente tem é história e poderia fazer um livro contando tudo isso” para, em seguida, soltar uma sonora gargalhada.
Mais um pouco de história
Com o show Gal Tropical, que resultou no disco homônimo, Gal deixou ser uma cantora de prestígio para se tornar uma cantora popular capaz de vender milhares de cópias de discos e lotar além dos teatros, grandes ginásios. Ela se cercou de uma banda formada por músicos da maior competência e escolheu um repertório capaz de agradar de A a Z. Tinha músicas de Caymmi (A Preta do Acarajé) a clássica índia; o bolero rasgado Assim de Passaram Dez anos (que foi sucesso com Emilinha Borba), Juventude Transviada (Luiz Melodia) Força Estranha (Caetano Veloso); Olha (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), Estrada do Sol (Dolores Duran e Tom Jobim) entre outras. Mas o número que levava o teatro ao delírio era quando ela cantava Meu Nome é Gal (Roberto e Erasmo) e fazia um duelo vocal com a guitarra de Robertinho do Recife. Era uma apoteose. O show foi eleito o melhor do ano. E a partir daí Gal nunca mais saiu do topo e até hoje é referencia para a maioria das cantoras que apareceu depois dela.