Pais de alunos da rede estadual de AL reclamam que não recebem auxílio merenda há dois meses

Estudantes contaram que muitos faziam a única refeição na escola. Reportagem tentou contato com a Seduc, mas não obteve respostas. Pais de estudantes da rede estadual de ensino reclamam que não estão recebendo auxílio merenda há dois meses em AL
Valdir Rocha
Pais de estudantes de escolas estaduais contaram ao G1 que não estão recebendo o auxílio alimentação do Governo do Estado, no valor de R$ 50, há dois meses. Alguns chegaram a receber a primeira parcela, mas outros nem isso conseguiram. Alunos contaram que muitos faziam a única refeição na escola, por isso precisam do dinheiro para alimentação em casa durante a pandemia.
Desde maio as aulas presenciais nas escolas estaduais estão suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus. Os estudantes da rede estadual estavam recebendo kits de merenda para ajudar nas refeições, mas esse kit passou a ser substituído pelo auxílio, que seria depositado para quem tivesse conta bancária ou, se não tivesse, preencheria um formulário para criação da conta.
O G1 entrou em contato com a Secretaria do Estado de Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag), e foi informado que a situação deve ser questionada à Secretaria de Estado da Educação (Seduc). A reportagem também tentou contato com a Seduc, às 13h27 de sexta-feira (4), mas não obteve resposta.
Mãe de quatro filhos que estudam na rede estadual, Maria do Carmo Bispo sustenta os filhos vendendo salgados e fazendo faxinas. Ela contou à reportagem que uma parcela da ajuda de custo foi liberada apenas para um dos filhos e que mesmo assim não foi suficiente para suprir as necessidades da casa.
“Recebi de uma criança, somente. Ninguém sabe o que aconteceu, porque não foi liberado. Se eu fosse depender desse dinheiro, de R$ 50 para alimentar os meus filhos, eles estariam passando fome. [O auxílio alimentação] já é um lado, já ajuda as crianças. Como eu tenho quatro filhos, eu crio eles sozinha. Estou separado do meu companheiro e ele ajuda no que pode. Vendo salgado ou faço uma faxina e assim vamos ver no que vai dar”, disse
Ela ainda contou que fez o cadastro com a ajuda do pai dos filhos, preencheu formulário, seguiu todas as exigências, procurou a escola, mas não sabe o que aconteceu pois o dinheiro não foi liberado. Segundo ela, a escola informou que já tinha enviado a lista dos alunos para receber o benefício.
“Ninguém sabe o que aconteceu, porque não foi liberado. O cadastro eu fiz. O pai dos meus filhos fez o cadastro, tudo direitinho,e até agora só saiu uma parcela de uma criança. A gente fica um pouco triste com a situação. O pessoal manda procurar a escola, já procurei, mas a escola diz que já fez o que pôde, diz que já mandou a relação que tinha que mandar. A gente fica um pouco triste com a situação, mas ainda fico com aquela esperança de receber. Eu até gostaria de saber o que é que houve”, contou Maria do Carmo.
Outra mãe de aluna de escola estadual, Maria José Belo, de São Miguel dos Milagres, também reclama que o auxílio da filha não foi depositado. A mãe relatou que desde julho não recebe o auxílio alimentação. Ela mora sozinha com a filha os parentes ou moram longe ou estão desempregados.
“Estamos mais ou menos porque somos eu e a minha filha. Os tios dela moram longe e alguns estão desempregados e estamos nos apertando até porque eu pago a internet do celular para ela estudar. Com esse auxílio merenda ia ajudar mais um pouco com as coisas dela da escola. Outros alunos já receberam esse auxílio, outros com atrasos. A minha filha até agora não saiu nada, procuramos a direção do colégio e sempre nos dão uma resposta não muito satisfatória”, disse Maria José.
“Estávamos esperando o 1º mês do auxílio e daí tivemos que preencher algumas coisas pra receber um número de uma conta digital. Até hoje não recebi nada. Alguns alunos sim e outros não, e quando vamos falar para a coordenação eles dizem que tem que aguardar. Mas já preenchemos tudo e aguardamos, o que tinha que se fazer já está feito, e sim conheço colegas que estão passando pela mesma coisa que eu que não receberam nem a primeira parcela”, disse a estudante Yasmin Belo, filha de Maria Belo.
Única refeição era feita na escola
Estudantes de escolas estaduais contaram ao G1 que também enfrentam problemas para receber o auxílio alimentação.
“Logo após, quem não tinha conta na caixa e nem bolsa família e teve que preencher um formulário virtual. Teve gente que não recebeu o formulário. Quem recebeu [o dinheiro] dia 30 de junho está até hoje sem receber. Dois meses se passaram e nada”, contou o estudante Givanildo Saraiva, de uma escola estadual no Benedito Bentes, em Maceió.
O aluno contou que antes da pandemia, quando as aulas eram presenciais, muitos estudantes faziam a única refeição na escola.
“A situação do auxílio merenda ela é bem caótica. Na prática muitos estudantes não receberam o auxílio, e lembrando que esse auxílio veio visando a vulnerabilidade social dos estudantes. Para muitos estudantes a única refeição era na escola ”, disse.
A mãe de Givanildo preferiu não se identificar nem dar entrevista para a reportagem, mas confirmou que tem sido difícil a situação do auxílio e que muita gente que precisa não está recebendo.
Davi Felipe, de Colônia Leopoldina, também não conseguiu receber a ajuda de custo, mesmo preenchendo formulário. Ele disse que muitos estudantes dependem do dinheiro durante a pandemia.
“Tem estudantes que até se prejudicam pela falta de verba. Tem muita gente que passa dificuldade, que necessita desse dinheiro. Esse dinheiro é importante para nós estudantes. É um direito nosso receber esse dinheiro e que infelizmente não está sendo dado com responsabilidade como gostaríamos”, disse Felipe.
Outros pais já tinham relatado o mesmo problema em junho
Pais de alunos dizem não estar recebendo auxílio merenda durante a pandemia do novo coronavírus
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