“Perdi minha casa, foi horrível”, diz moradora de São Miguel das Matas, que sofreu com abalos sísmicos nesta segunda-feira

O interior da Bahia acordou com mais um susto na madrugada desta segunda-feira (31). Depois dos tremores do fim de semana, a terra tremeu mais uma vez em um abalo sísmico que teve a cidade de Amargosa como epicentro e foi sentido em mais noves cidades. Além do grande susto, baianos relataram prejuízos estruturais em suas residência. Em São Miguel das Matas, Varzedo, Castro Alves, Brejões, Elísio Medrado, Cachoeira, Santo Antônio de Jesus, Lage e Valença o tremor também foi sentido por moradores de acordo com informações da Defesa Civil do Estado da Bahia.
Apesar do tremor ter a cidade de Amargosa como epicentro, não foi lá que a situação foi mais assustadora. São Miguel das Matas e Corta Mão, distrito de Amargosa, foram as localidades em que o tremor causou mais problemas. Em São Miguel, que declarou estado de emergência, três casas tiveram toda estrutura comprometida e 50 residências relataram rachaduras que apareceram por conta dos tremores. Já em Corta Mão,.
Venilce Lopes, 42 anos, lavradoura que reside em São Miguel das Matas, viu toda parte estrutural da casa ser comprometida. Ao CORREIO, ela contou como foi o susto e afirmou que a casa não apresenta mais condições seguras de moradia. “Minha casa foi toda perdida! Não tem mais recuperação pra ela. Desceu telha, rachou as paredes e não dá mais pra morar lá. Perdi minha casa, foi horrível e muito assustador. Acho era 7h40, eu estava preparando o lanche e a casa começou a tremer muito. O telhado começou a cair e eu senti bastante medo, não quero voltar a sentir isso na minha vida, não desejo pra ninguém”, relata.
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Casa de Valdenice teve toda estrutura comprometida (Foto: Ivan Silva/Reprodução) |
Outro morador da cidade que teve sua residência inteiramente prejudicada foi o Edival Pereira, 65. Ainda assustado com toda situação, o lavrador informou que só depois de uma reestruturação total da sua residência, poderá voltar a viver lá. “Rapaz, foi um susto muito grande. Mesmo sendo a segunda vez. Acho que, se acontecer mais 10 vezes, vai continuar me causando esse medo gigante que eu tive hoje. E a gente fica ainda mais surpreso porque só vê pela televisão, quando acontece no exterior. Nesse segundo tremor, não teve jeito. Partiu minha casa toda por dentro. Acabou com tudo e não dá pra morar lá mais não. Fico feliz porque o mais importante é a vida, mas o prejuízo é gigantesco pra mim”, declara.
Segundo o prefeito de São Miguel, Zé Renato, a secretaria de infraestrutura da cidade registrou 3 casas que foram completamente prejudicadas e 50 com rachaduras detectados pelos fiscais. O prefeito disse também que o decreto de estado de emergência foi necessário. “A situação aqui foi muito complicada. Muita gente relatou que teve prejuízos com os tremores. As pessoas estão com medo de novos tremores que possam oferecer riscos às casas que já apresentam rachaduras. Por isso, declaramos situação de emergência para contar com apoio dos órgãos públicos e ajudar os moradores prejudicados pelos tremores”, conta o prefeito, que confirmou um novo tremor, em menor proporção, na tarde desta segunda.
Sobre as casas que não poderão ser mais habitada após o episódio, Zé Renato disse que a prefeitura dará todo apoio possível. “Nós, através das equipes designadas pela secretaria de infraestrutura de São Miguel, estamos checando a situação dos moradores e oferecemos ajuda e amparo para as pessoas que tiveram prejuízos, inclusive as que perderam a casa por conta da situação. É um momento em que os cidadãos precisam de cuidado”, diz.
Abalos no distrito
Em Corta Mão, distrito de Amargosa que está localizado a 19km da sua cidade mãe e tem cerca de mil habitantes, os abalos sísmicos também foram mais intensos e causaram problemas. Por lá, os moradores, assim como os de São Miguel, sentiram um tremor bem mais intenso do que o de domingo, fazendo com que o susto e os estragos fossem ainda maiores.
A aposentada Cleonice Cabral, 73, destaca que, apesar de não ter sido tão prejudicial como em São Miguel, o tremor provocou alguns estragos em casas e estabelecimentos da cidade, inclusive na sua própria residência, que teve a parede rachada pelo abalo sísmico. “Aqui teve algumas casas que foram bem danificadas. A minha casa rachou, a igreja daqui também rachou. Aqui, os tremores também foram intensos. Não foi grave como em São Miguel, mas trouxe alguns problemas, como a minha parede que acabou rachando no meio disso tudo”, afirma.
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Casa de Cleonice teve parede rachada (Foto: Reprodução) |
Ivan Silva, 45, professor de geografia e morador de Corta Mão, relata que os abalos já são comuns nas cidades, mas não com a força que vieram nos últimos dias. Para ele, a situação causou receio de que mais tremores assim continuem acontecendo na cidade. “Os abalos já aconteceram aqui e os especialista disseram que não provocariam danos. Mas é justamente isso que tá acontecendo agora. Várias casas apresentaram problemas e muitas pessoas tiveram prejuízo. Tá parecendo um terremoto de magnitude menor, mas está parecendo. Acho importante que os centros de sismologia possam fazer um estudo daqui pra avaliar a situação e nos deixar mais tranquilos. Não sabemos o que está acontecendo em Corta Mão. Até lá, dormiremos com muita preocupação de acordar ao som do tremor e perder vidas por conta disso, Hoje, pela tarde, já aconteceram mais dois. Isso não é normal’”, lamenta.
Epicentro
Apesar de não terem sofrido consequências tão graves como os residentes das cidades ao seu redor, os moradores de Amargosa não foram poupados do susto que incomodou o sono de muito e provocou pânico às pessoas que já tinham passado pela mesma situação durante o fim de semana. Segundo alguns dos entrevistados pela reportagem do CORREIO, o fato do tremor ter se repitido em tão pouco tempo os deixou ainda mais preocupados com a possibilidade dos abalos se tornarem fenômenos frequentes.
Esse é o caso de David Moura, 23, estudante que acordou pela segunda vez seguida com a sensação de medo que é perceber a terra tremer e, consequentemente, ver a estrutura da sua casa balançar. “Sim, voltou a acontecer na madrugada, lá por volta das 3h40. Foi um tremor de terra que eu achei um pouco mais fraco do que o primeiro, que aconteceu no domingo de pela manhã. Mas, mesmo assim, as portas e as janelas tremia e isso me fez acordar no susto. Foi rápido, logo depois para. Não chegamos a ter nenhum tipo de prejuízo, mas foi um susto ainda sim porque nunca ocorreu várias vezes em tão pouco tempo como está acontecendo nos últimos dias”, relata.
Para Maurício Peixoto, o som do tremor foi como um barulho de trovão, o que causou medo e preocupação com a integridade física das pessoas que estavam em Amargosa. “O abalo que aconteceu nessa madrugada foi um pouco mais fraco do que o que o da manhã de domingo, mas não deixou de assustar a gente que fica preocupado se pode acontecer algo em alguma casa e machucar alguém. Acordei com um ruído semelhante ao de um trovão e senti a cama, o chão e as janelas vibrando. Durou cerca de cinco a dez segundos”, conta.
Mais do que medo, a estudante Maria Letícia Soares, 21, sentiu pavor ao acordar com o barulho e as vibrações e, assim como Maurício, ficou preocupada com a segurança e a saúde os demais habitantes da cidade. “Bom, eu estava dormindo quando aconteceu o incidente. Na hora, tomei um susto e fiquei apavorada. Não só por ter acordado daquela maneira como também pela intensidade que foi o tremor. O desconhecimento da causa que provocou o abalo e a gravidade, acarretou um sentimento de medo, principalmente de pensar se alguém ficou machucado ou se alguma casa sofreu algum dano”, afirma.
Outros Municípios
As outras localidades que sentiram o tremor seguem a linha da cidade de Amargosa e não apresentaram os mesmo problemas relatados pelos residentes de São Miguel e Corta Mão. O que não fez com que o susto fosse menor para todos que perceberam a terra tremer. Assim como os moradores dos municípios mais afetados pelo fenômeno, Rebeca Gama, 20, estudante de enfermagem que reside em Castro Alves, contou que o abalo a preocupou. “Eu senti o tremor e a porta do meu quarto balançou bastante. Assim como o do fim de semana, esse também provocou um susto grande. Eu demorei pra conseguir dormir porque eu fiquei com medo da situação. Como já tinha acontecido antes, a gente fica muito preocupada de acontecer forte do jeito que rolou anteriormente. Mas não tivemos prejuízos ou algo quebrado não”, fala.
Ao CORREIO, por meio de sua assessoria, a prefeitura de Castro Alves confirmou o tremor na cidade, mas salientou que este veio em uma magnitude menor do que o anterior e que, por isso, não causou mais problemas estruturais para a cidade. Ainda de acordo a prefeitura, o que se viu mesmo foram os comentários de quem percebeu o abalo e não houve registros de prejuízos ou solicitações de ajuda por parte dos moradores da cidade.
Segundo informações de Sandro Correia, prefeito de Brejões, o caso de Rebeca se assemelha ao da população da sua cidade. Muitos sentiram o abalo, mas não houve maiores problemas como os identificados nos outros municípios. “Os relatos que ouvimos foi mais de susto mesmo. Não teve nenhum dano mais trágico que causasse uma solicitação de alguém que tivesse algum prejuízo ou problemas maiores a ponto de solicitar ajuda. Estamos enviando fiscais para checar a situação, mas, até então, não registramos nada mais grave”, afirma.
Sandro também ficou assustado na hora em que percebeu o tremor. “Eu estava dormindo quando ouvi o barulho. A princípio, pensei que era o ventilador de teto que temos aqui em casa, mas entendi que o barulho estava muito forte pra ser ele. Esse fim de semana foi a primeira vez que eu presenciei tremores assim e confesso que é uma coisa que causa preocupação pela magnitude do fenômeno e nos deixa com medo na hora que a gente tá dormindo e acorda ao ouvir uma coisa destas”, admite.
Em todas outras cidades citadas pela matéria, os abalos foram confirmados pelos moradores e pela defesa civil do estado. Porém, nenhuma delas registrou problemas mais graves do que o susto dos habitantes que foram pegos de surpresa.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro