Internet gratuita para alunos da rede pública do DF não saiu do papel: ‘Só não fico perdida porque tem material impresso’, diz mãe
Por causa da pandemia, aulas são a distância desde junho. Secretaria de Educação afirma que publicou edital de chamamento público e aguarda credenciamento das operadoras. Aluna em Ceilândia, no DF, Sarah Gonçalves, de cinco anos, mostra tarefa impressa de escola feita durante pandemia
Arquivo pessoal
Mais de dois meses após o início das aulas a distância na rede pública do Distrito Federal, por causa da pandemia do novo coronavírus, a promessa de fornecer internet gratuita para alunos e professores não se concretizou. Estudantes sem acesso a conexão seguem contando apenas com o material impresso distribuído nas escolas.
As “lições” são entregues semanalmente e devem ser pegas pelos pais ou responsáveis. Nildes Gonçalves da Rocha, mãe de três alunos, conta que os filhos dividem a internet de um único celular com rede móvel limitada.
“Só não fico totalmente perdida porque tem o material impresso”, conta Nildes.
Ao G1, a Secretaria de Educação informou que o edital de chamamento público foi publicado e que aguarda o credenciamento das operadoras. No início de agosto, a pasta havia dito que “a etapa final estaria concluída nos próximos dias”, o que não ocorreu.
Inicialmente, a secretaria havia divulgado que o pacote de dados seria concedido até o fim de julho. Contudo, o edital em questão só foi oficializado no Diário Oficial do DF em 3 de agosto.
O investimento previsto é de R$ 3 milhões por mês. A pasta não informou quando alunos e professores terão pleno acesso a internet (veja nota na íntegra ao final da reportagem).
Para o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), as atividades impressas “são um risco” em meio à pandemia, por causa do compartilhamento do material. A entidade destaca ainda que professores também precisam de auxílio, já que trabalham com a própria internet e equipamentos pessoais.
Folhas compartilhadas
Aluna em Ceilândia, no DF, Sarah Gonçalves, de cinco anos, faz tarefa de escola em casa
Arquivo pessoal
As atividades de ensino na rede pública voltaram no dia 22 de junho, apenas a distância. Desde então, quem não tem internet pode buscar o material impresso nas escolas, é o chamado “kit pedagógico”.
Na prática, o projeto do GDF prevê que o acesso à plataforma Google Sala de Aula – onde o conteúdo de ensino é disponibilizado – seja realizado sem gastar o pacote de dados dos usuários. Mas, para quem depende da internet do celular, o acesso ocorre por meio dos dados móveis, que são limitados e cobrados do usuário.
Na casa da Nildes, que mora na região do Sol Nascente, são três crianças – de 5, 9 e 12 anos – que acompanham aulas online com a internet de dados móveis. Por problemas de saúde, Nildes está sem trabalhar. Ela conta com o Bolsa Família e, atualmente, com o auxílio emergencial do governo federal.
Mas, parte do dinheiro precisa ser usado para recarregar o celular com mais frequência do que fazia antes. “Minhas duas meninas mais novas usam o meu celular e o mais velho tem outro aparelho, mas o dele não tem internet, é só mesmo o aparelho. Aí, não tem jeito a internet logo acaba”, explica.
“São dois vídeos que a professora manda todo dia e, às vezes a gente também tem que enviar vídeo das crianças fazendo o dever” diz a mãe.
Criaça estuda pelo celular enquanto aulas presenciais estão suspensas
TV Globo/ Reprodução
Professores em risco
O diretor do Sinpro, Samuel Fernandes, afirma que a entidade cobra do governo do Distrito Federal o pacote de dados gratuito, “mas eles sempre falam que estão resolvendo e o problema se arrasta”, diz ele. Samuel aponta que os profissionais estão trabalhando muito mais do que o previsto e gastando recursos próprios.
“Eles pagam internet do próprio bolso, usam a plataforma do próprio aparelho celular, ou computador. E ainda dão o número particular para os pais entrarem em contato a qualquer hora, qualquer dia, sábado, domingo e feriado”, afirma.
Uma pesquisa feita pelo Sinpro-DF junto a gestores de escolas indicou que há 120.842 alunos sem equipamento eletrônico adequado para assistir as aulas. O número representa 26,27% dos 460 mil estudantes da rede pública de ensino do DF.
A situação se agrava na área rural. Instituições contam praticamente apenas com o material impresso (assista abaixo).
Apaixonados pela profissão
Campanhas para doação de eletrônicos
Várias escolas organizam campanhas para arrecadar eletrônicos para os estudantes. Regionais de ensino e instituições sociais também buscam doações decelulares, computadores e tablets.
Nildes é uma das mães que recebem apoio de uma ONG. A Associação Despertar Sabedoria, do Sol Nascente, ajuda crianças com reforço escolar e, durante a pandemia, virou refúgio para famílias que precisam de recursos, alimentos e equipamentos eletrônicos.
Onde doar aparelhos eletrônicos para alunos das escolas públicas do DF?
São Sebastião
CEI 03 de São Sebastião – (61) 9 9375-3057
Ceilândia e Sol Nascente
Associação Despertar Sabedoria (Sol Nascente): (61) 9 8585-9130 // (61) 3461-5611 // Rede social: @associacaodespertarsabedoria
Estrutural
Escola Classe 1 da Estrutural: Contato: (61) 9 8462-6306
Ced 01 da Estrutural: (61) 9 8544-4707
Casa de Apoio Artes e Sonhos: (61) 9 9939-5346
Planaltina
Projeto ‘Ninguém fica pra trás’ da professora Luciana Oliveira: (61) 9 9677-9593
Outras regiões
Rede Emancipa: (61) 9 9426-7697
Instituto Federal de Brasília (IFB): (61) 2103-2148
Casa Azul Felipe Augusto: (61) 9 9168-6481
Conheça mais iniciativas de doações durante a pandemia na página do Ajuda Aí.
O que diz a Secretaria de Educação?
“A Secretaria de Educação já publicou o edital de chamamento público para as operadoras de internet móvel. A pasta aguarda o credenciamento das operadoras para que o serviço de cobrança reversa seja ofertado aos estudantes e professores, para que tenham acesso gratuito à plataforma, com o custo pago pela Secretaria de Educação.
O edital 02/2020, publicado no Diário Oficial do Distrito Federal em 3 de agosto, estipula que o valor máximo a ser pago por megabyte é R$ 0,01 e o valor máximo mensal estimado para as contratações é de R$ 3 milhões.
As operadoras ainda não se cadastraram. O Governo do Distrito Federal vai tomar as medidas necessárias para que o serviço seja oferecido o mais breve possível dentro da legalidade, respeitando todas as exigências administrativas para o uso do recurso público.
A avaliação que a Secretaria de Educação faz da utilização da plataforma Google Sala de Aula é positiva. São 470 mil estudantes e 72 mil professores cadastrados. Desde o dia 13 de julho, data em que o ano letivo on-line passou a aferir frequência, foram mais de 4,9 milhões acessos de estudantes e mais de 880 mil acessos de professores”.
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