Tração 4×4: nem sempre elas podem tirar você e seu carro da lama; saiba mais

A maioria dos veículos tem tração do tipo 4×2, ou seja, a força gerada pelo sistema motriz é direcionada apenas para um dos eixos, que pode ser o dianteiro ou traseiro. Em alguns casos, é possível transferir a tração para o outro eixo, transformando assim em 4×4. Outros carros contam com sistemas inteligentes que dosam a tração automaticamente. Mas o que esses modelos são capazes de fazer?
Apesar de muitos veículos contarem com tração nas quatro rodas, nem todos não estão aptos a enfrentar um atoleiro ou areal. Isso acontece porque, nesses casos, a presença de tração nos dois eixos é para melhorar, principalmente, a aderência. Não para tirar o veículo de uma situação inóspita.
O Honda CR-V e o Toyota RAV4, por exemplo, podem ser equipados com tração nas quatro rodas. Até mesmo carros de luxo da Audi, como o A7, podem contar com um sistema que transfere a força para todos os pneus, na marca alemã ele é chamado de quattro. No entanto, o sistema desses modelos, muitas vezes, deixa o consumidor frustrado, por achar que tração 4×4 é feita para atravessar obstáculos. Nesses casos, o sistema atua para aumentar a aderência ao piso e distribuir melhor a força, mas não vai garantir que o motorista saia de um atoleiro.
Esse sistema é denominado AWD, que vem do inglês all wheel drive, que equivale a força em todas as rodas – que algumas fabricantes também denominam 4WD. Normalmente, são utilizados em veículos com tração dianteira, como o Ford EcoSport na versão Storm e o Mitsubishi Outlander, além dos modelos já citados. Neste caso, existem diversas tecnologias envolvidas e podemos dividi-las em três categorias: full-time, partial-time e on demand.
De acordo com o engenheiro automotivo Norberto Catani, o primeiro sistema é denominado full-time ou integral: “Ele envia torque constantemente para as quatro rodas e pode ser usado em ruas ou rodovias asfaltadas sem danos ao sistema de powertrain ou chassis, isso porque o diferencial central se encarrega de compensar as diferentes rotações das rodas quando em curvas”. É o caso do Audi A7 quattro.
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O A7 Sportback, da Audi, pode ser equipado com a tração integral quattro (Foto: Audi) |
Catani explica outro tipo de tração AWD: “O partial-time possui o privilégio de permitir que o veículo seja conduzido em modo 4×2 ou 4×4, sendo o torque neste último dividido igualmente para os dois eixos do veículo quando acionado mecânica ou eletricamente. Esse sistema equipa a maioria dos SUVs”. Nesse grupo está o Suzuki Jimny Sierra, por exemplo.
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No Suzuki Jimny Sierra possui um sistema que permite que o motorista escolha que tipo de tração quer usar (Foto: Tom Papp/ Suzuki) |
Por fim, o sistema on demand ou inteligente, que possui um módulo eletrônico com capacidade de interpretar diversos parâmetros do veículo. “Ele checa a velocidade individual das rodas, a posição do pedal do acelerador, o ângulo de posição do volante e o ângulo “yaw” do veículo e fornece individualmente, em diferentes proporções, torque para as rodas de forma automática”, conclui o engenheiro. A configuração Storm do EcoSport se encaixa nessa categoria.
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A configuração Storm do Ford EcoSport utiliza uma tração sob demanda (Foto: Marcio Bruno/ Ford) |
Enfrentando obstáculos
Na linha Chevrolet, três produtos têm tração nas quatro rodas: Equinox, S10 e Trailblazer. No primeiro, ela é do tipo AWD, como o Honda e o Toyota citados. Algumas versões da S10 e do Trailblazer, por exemplo, têm tração traseira e o motorista, através de uma tecla no console central, pode acionar a caixa de transferência e assim ter tração também nas rodas dianteiras.
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A Chevrolet S10 4×4 conta com o sistema de tração reduzida (Foto: Fabio Gonzalez/ GM) |
O condutor pode ter ainda mais tração ao acionar a reduzida, ideal para transpor trechos mais severos, como lama e areia, em baixas velocidades. O termo em inglês, comum em muitos modelos importados, é o low.
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O sistema adotado no Troller TX4 utiliza o mesmo princípio da Chevrolet S10 (Foto: Marcio Bruno/ Troller) |
“Geralmente, veículos que desde a sua concepção foram projetados para uso essencialmente off-road são conduzidos em vias não pavimentadas com a tração nas quatro rodas acionadas e possuem uma caixa de redução, tendo como exclusividade a capacidade reduzir a relação de rotação entre o volante do motor (entrada) e os eixos dianteiros e traseiros (saída). As marchas reduzidas são usadas em situações peculiares, onde a necessidade de torque imediato é grande mesmo em baixíssimas velocidades, como ao transpor uma banheira de lama ou ao subir uma íngreme duna de areia”, explica Catani, que publica dicas sobre o tema em seu perfil no Instagram @quadmudperformance.
Cuidados
As fabricantes indicam que a tração de 4×2 para 4×4 high (apenas distribuição entre os eixos) pode ser feita com o veículo andando a até 100 km/h. Para acionar o modo low (reduzida) é preciso parar, colocar o câmbio em neutro e acionar a tração.
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O seletor de tração da Nissan Frontier é eletrônico e o do Suzuki Jimny Sierra é manual (Fotos: divulgalção) |
É importante lembrar de desacoplar a reduzida ao voltar para estradas pavimentadas.