Por iniciativa do filho Nelsinho, Piquet terá carreira contada em livro

Durante a pandemia do novo coronavírus, o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet resolveu atender a um pedido que ouvia há quase dez anos do filho, o piloto Nelsinho Piquet, hoje na Stock Car. Os dois estavam em casa, em Brasília, e se reuniram para conversar por horas e iniciar um projeto inédito nos 68 anos de vida do ex-piloto. Pela primeira vez ele permitiu que os relatos e curiosidades da carreira sejam transformadas em um livro de memórias com material colhido nas entrevistas feitas pelo próprio filho.

O intuito é concluir a série de relatos sobre a carreira do ex-piloto em 2021 para aproveitar o aniversário dos 40 anos do primeiro título mundial na Fórmula 1. O projeto também tem a participação do jornalista Luis Ferrari. Mas o próprio Nelsinho, de 35 anos, admite que o prazo pode até ser revisto, pois não pretende apressar o pai apenas para cumprir essa meta.

A ideia de ter um livro de memórias surgiu da inquietação do filho de perceber que falta um registro oficial para deixar a carreira do pai tricampeão imortalizada. “Por tudo o que ele lutou, pelas dificuldades que ele passou, isso não pode ficar em branco. Meu pai era mecânico em Brasília e depois virou campeão mundial. Para ele não faz diferença ter ou não esse livro, mas eu não quero deixar isso esquecido. Quando ele não estiver mais com a gente, é preciso que a história dele fique marcada”, disse Nelsinho ao Estadão.

Segundo o filho do tricampeão, o livro pode até mesmo possibilitar no futuro que o material renda um documentário e possa ajudar a trajetória de Piquet ser mais conhecida pelos mais jovens.

“Meu pai se afastou da mídia e as gerações novas não sabem quem ele foi. Um dos grandes motivos que faz o nome do Senna ser lembrado é o trabalho de marketing. Uma criança de dez anos sabe quem ele foi. Obviamente, não esse o meu objetivo (com o livro), mas no mínimo quero deixar registrado o que o meu pai fez e conquistou”, afirmou Nelsinho.

Até agora, pai e filho já gravaram cinco horas de entrevistas. A primeira delas foi em março. O material rendeu cerca de 20 capítulos, divididos por assunto e fora de ordem cronológica. O foco será totalmente à carreira de Piquet e em explorar detalhes diferentes de passagens como a chegada à Fórmula 1, a convivência com Ayrton Senna, os três títulos mundiais e as dificuldades na carreira.

Nelsinho conta ter levado anos para convencer o pai a aceitar o projeto. “Ele percebeu que deixar o trajetória apagada é o mesmo que abandonar uma empresa. Os feitos dele ninguém apaga, mas tem muita história que muita gente não sabe”, contou ele.

O desafio na produção tem sido buscar detalhes inéditos mesmo de histórias já conhecidas. Uma delas se passa em 1984, quando, já bicampeão mundial, Piquet pensou em parar de correr por estar cansado da rotina de viagens e dos pernoites em aeroportos à espera de voos. Quem lhe deu a sugestão salvadora foi o piloto austríaco Niki Lauda: “Nelson, por que não você compra um avião?”, questionou. O brasileiro jamais tinha pensado nessa possibilidade, comprou uma aeronave e manteve a carreira rumo a mais um título, em 1987.

O Estadão recebeu um dos principais trechos do livro. Nele, Piquet relembra uma passagem no fim de 1983, quando ele e Senna testaram na França o mesmo carro, uma Brabham. Então campeão do mundo com aquele mesmo modelo, Piquet se esforçou em marcar um tempo melhor que o do compatriota, que naquela época apenas um novato em busca da primeira chance na Fórmula 1 e com a fama de superar nos testes o desempenho dos pilotos titulares.

“Quando o Senna andou no mesmo carro do que eu, virei dois segundos mais rápido do que ele, 1s9. O dia que ele foi lá, que era o ‘bam-bam-bam’, que virava mais rápido que a McLaren…. Acabei com ele por tudo, em Paul Ricard”, narra Piquet no trecho “Olha o ‘nabo’ que ele tomou”, acrescenta o tricampeão, com a habitual irreverência.

Para ter mais detalhes, Nelsinho pretende entrevistar outras pessoas que acompanharam a carreira do pai. Um dos procurados será Bernie Ecclestone, ex-chefe da Fórmula 1 e antigo dono da Brabham, escuderia pela qual o ex-piloto venceu duas temporadas. Mecânicos e amigos de longa data também vão ser ouvidos. Fora as entrevistas, o momento também tem sido de procurar editoras interessadas e planejar até mesmo o lançamento da obra em outros idiomas.