Sussuarana: homem ensanguentado invade culto e é poupado por bandidos em respeito à igreja

Crimes aconteceram em frente a igreja
Foto: (Bruno Wendel/CORREIO)

O pastor pregava numa pequena igreja evangélica no bairro de Sussuarana. No templo de pouco mais de 50 metros quadrados, as 25 pessoas sentadas em cadeiras de plástico tiveram a fé colocada à prova na noite desta quarta-feira (12). Um rapaz que tinha acabado de ser baleado invadiu o culto causando um pânico entre os fiéis. Os homens armados só não avançaram e promoveram uma matança porque perceberam que o local era um ambiente religioso. Outras duas pessoas que não entraram na igreja – um rapaz e um adolescente – foram alcançados e mortos com vários tiros.

“Foi Deus que parou eles. Apesar de pandemia, o espaço tinha bem umas 25, estava cheio. Seria uma matança. A sorte do rapaz foi a igreja. Eles não invadiram. Respeitaram o templo”, declarou o filho do proprietário do prédio ao CORREIO, na manhã desta quinta-feira (13). Ele preferiu não revelar seu nome. 

Os mortos são Caíque Ribeiro dos Santos, 18 anos, e o adolescente Douglas Santos Souza, 16. O corpo de Caíque foi enterrado às 16h no Cemitério Quinta dos Lázaros. Não há informações sobre o sepultamento de Douglas. O terceiro rapaz vítima do ataque, Alexandro Santos Batista, 22, conhecido como Xandy, foi socorrido para uma unidade médica. O estado de saúde dele não foi informado. 

Em nota, a Polícia Civil informou que a “autoria e motivação do duplo homicídio e tentativa são apuradas pela 2ª DH / Central”. 

Ataque
Segundo os parentes de Caíque, que foram nesta manhã ao Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para a liberação do corpo, o rapaz estava em casa na noite de quarta, na Sussuarana Velha, quando foi chamado por Alexandro.

“O amigo queria ver a namorada que mora na Sussuarana, uma moça da igreja, uma varoa (mulher religiosa), e foi lá e chamou ele. Os dois saíram andando”, contou um dos parentes, que preferiu falar sem se identificar.

O crime aconteceu na Rua Antônio Carlos Magalhães, por volta das 20h. Apesar da pandemia, o local estava bastante movimentado, com comércio e bares abertos. A Igreja Batista Primitiva funciona há mais de um ano no andar térreo de um prédio de três andares, logo no início da rua, e tinha acabado de iniciar o culto quando os disparos levaram pânico a todos.

“Foi muito rápido. Estava na casa ao lado e na hora abracei a minha filha e me escondi com ela. O estrago só não foi maior porque todos não entraram na igreja, que estava cheia”, contou o filho do proprietário do prédio onde funciona a igreja. Na hora, houve um tumulto. Apesar do clima tenso, alguns fiéis não se intimidaram e começaram a rezar, entre eles o pastor. O templo estava fechado e o responsável não foi encontrado. 

Baleados
Alexandro, que entrou na igreja, foi socorrido pelos próprios fiéis, que acionam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Já Caíque caiu em frente a um salão de beleza que funciona ao lado da igreja e morreu no local. As marcas dos tiros ficaram  na porta do  estabelecimento.

Caíque morreu em frente ao salão. As marcas dos tiros ficaram na porta  (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

O segundo rapaz morto, Douglas, correu para a Rua Rubens Zardival, que fica paralela à Rua Antônio Carlos Magalhães, mas foi alcançado e novamente baleado pelos criminosos. “Só ouvi os gritos da mãe dele. É muita dor para uma mãe passar por isso. Uma mãe nunca espera ter que enterrar o próprio filho”, disse uma dona de casa que optou pelo anonimato. 

Sobre o episódio, a Polícia Militar informou que o “Cicom (Centro Integrado de Comunicação) acionou a PM com a informação de que havia três pessoas alvejados por disparos de arma de fogo.  As equipes da 48ª CIPM chegaram ao local e encontraram dois homens já sem vida, isolaram a área e acionaram a perícia. O terceiro ferido foi socorrido por uma equipe do Samu”.  

Rixa
Revoltados com o episódio, parentes de Caíque disseram que não sabem o motivo que levou à morte rapaz.

“Até o onde vai o conhecimento da família, nunca soubemos que ele fosse envolvido com alguma coisa de errada. Nunca foi levado à delegacia, pelo menos que estivéssemos sabendo”, contou uma parente.

Um outro membro da família disse que bandidos disputam o tráfico de drogas da região e que por isso há uma rixa antiga. “Quem mora em Sussuarana não pode ir na Sussuarana Velha e nem no Novo Horizonte e assim funciona com os demais bairros. Essa briga entre eles é antiga e quem paga é a população”, disse outro parente. 

A mesma pessoa disse que a chave do mistério é Alexandro, que chamou Caíque para ir ver a namorada e que sobreviveu ao ataque. “Só quando ele sair do hospital para esclarecer tudo. É ele quem vai dizer o que de fato houve. Quero saber o que ele sabe”, finalizou.