‘Quem medita por moda está se enrolando’, diz Tadashi, o guru da meditação na pandemia

O tom é professoral. As palavras são emitidas pausadamente na mesma vibração da música instrumental que toca ao fundo. A mensagem vai direto no coração com o objetivo de realinhar os pensamentos. Tudo isso pelo celular. Do outro lado, milhares de pessoas conduzidas pelos ensinamentos do terapeuta transpessoal Tadashi Kadomoto (@tadashikadomoto), 61 anos. Desde o início da pandemia, o paulista que já tem 1,2 milhões de seguidores no Instagram, tem realizado duas lives diárias de meditações guiadas – às 6h e 20h – que já chegaram a conectar 30 mil pessoas ao mesmo tempo em meditação. Até sexta-feira (7), já foram 141 dias ininterruptos de meditação gratuita. 

Para ter tanta serenidade no ensino das meditações, Tadashi acorda todos os dias às 5h e faz sua própria conexão individual há mais de 20 anos. Em entrevista ao CORREIO, ele critica o modismo em torno da prática da meditação e conta que mesmo sendo o ‘guru da meditação’ para muita gente também tem seus momentos de ira. “Quando alguma coisa me irrita, paro, fecho os olhos e respiro  conscientemente por cinco minutos”, explica Tadashi que há 33 anos trabalha com treinamentos de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal através do Instituto Tadashi Kadomoto.

Confira a entrevista completa com o guru da meditação da quarentena:

A meditação está sendo vista como amparo por muitas pessoas nesse período de isolamento social. Acredita que depois da pandemia é uma ‘tendência’ que ficará?
Muitas pessoas estão descobrindo os benefícios da meditação durante esta pandemia. Acredito que este hábito possa continuar depois. Mas, para isto será necessário que cada um se trabalhe para não voltar para o velho.

A busca pelo autoconhecimento é um dos grandes desafios da vida moderna. Como você acredita que a meditação auxilia nessa procura?
A meditação pode auxiliar neste caminho porque ela é um processo de autoconhecimento. Isto porque a meditação nos ajuda a olhar para dentro e parar de olhar para fora. 

Foto: Divulgação

Vivemos um fenômeno das meditações, com centenas de lives no Instagram e Youtube , mas muitas pessoas fazem as meditações como ‘moda’. Como pode-se sair do ‘modismo’ para, de fato, vivenciar a verdadeira meditação?

Quem faz meditação por modismo não está meditando, está  se enrolando. Estas pessoas ainda estão preocupadas com o externo, em fazer bonito para os outros. Para sair do modismo precisam aprender a olhar para dentro de si e isto não é fácil, mas é totalmente possível.   

A vida saudável vai muito além do cuidado com a mente, inclui também com o corpo físico. Quais os cuidados que você tem para se manter bem?
O primeiro passo para se viver de forma saudável é CONSCIÊNCIA. Cada um saber o que é bom para si. Eu acordo às 5h e medito até às 6h todos os dias. Na sequência faço minha atividade física (jogo tênis, corro e caminho) alternadamente durante a semana. Faço terapia de forma sagrada uma vez por semana. Trabalho com muito amor e gratidão. Crio tempo para estar com minha família. Estas coisas me mantêm saudável.

Qual é sua religião? Acredita que ter uma conexão com o divino colabora para uma vida melhor?
Acredito em Deus, mas prefiro não falar qual é a minha Religião porque em nenhum dos nossos treinamentos temos tendência religiosa. Comprovadamente as pessoas que tem Fé tem um sistema imunológico mais saudável e quando adoecem se recuperam com mais facilidade.

A prática da resiliência é um desafio diário. Você acredita que ser resiliente é um bom caminho para viver em comunidade?
A resiliência ou a flexibilidade são fundamentais para se viver em comunidade. Aliás, a flexibilidade e a resiliência nunca foram tão necessárias como nesta pandemia. As pessoas que mais estão sofrendo neste momento são as rígidas e inflexíveis.   

Em suas lives de meditação você sempre passa uma imagem de serenidade e calma, mas há algo que te tire desse caminho? Quando acontece algum momento de irritação no cotidiano o que você faz para melhorar?
Sou humano como qualquer um e consequentemente sujeito a tropeçar e sair do caminho. A diferença é que a meditação me ajudou a voltar para o meu eixo em poucos minutos. Imagine, se alguma coisa te tira do sério e você leva uma hora ou o dia todo para voltar para o seu centro, já era, perdeu o dia e fez muito mal a você.  Quando alguma coisa me irrita, paro, fecho os olhos e respiro  conscientemente por cinco minutos.

Você fala que quando o discípulo está pronto o mestre aparece. Quem são seus mestres na meditação e inspirações na vida?
Eu sempre mantenho uma postura de discípulo, ou seja, sempre estou aberto para aprender. Assim encontro Mestres a todo momento. Meus maiores Mestres em meditação estão na Índia.   

Durante a quarentena você tem estabelecido uma rotina diária de meditação às 6h e às 20h em lives. Você tem um horário que faz a sua meditação? 
Com as lives as 6h e às 20h todos os dias, o que mudou é que acordo às 5h e medito até às 5h50 para me preparar para a live.   

Quais os aprendizados que teremos nesse momento que estamos passando no mundo?
Não sei dizer qual o aprendizado de cada um. E nem sei se estava aberto para olhar para dentro e aprender com esta crise. O que acredito é que devemos aprender e sair melhores do que entramos. Se não aprendermos existe o risco da próxima crise ser muito pior. 

 Você tem algum ensinamento/frase que sempre leva consigo para os momentos difíceis? Qual é ?
Uma frase que minha irmã escreveu numa carta em 1992 porque eu estava numa crise sem igual: “A vida terrena é muito curta para se viver infeliz, decida.”   

O Instituto desenvolve uma série de ações sociais. Como acha que essas ações podem ajudar de fato as pessoas e inspirar outras em ter um melhor propósito de vida?
Quando ajudamos a partir do coração, somos ajudados. Tenho sugerido as pessoas a saírem da sua dor e ajudar sem olhar a quem. Vai acontecer uma cura profunda em você.