A união faz a força ou a força humana possibilita união?
Nesse momento de pandemia mundial, um dos assuntos mais comentados é a surpresa com a solidariedade manifesta, algo que sempre existiu, embora algumas pessoas não exerçam ou notem. Há estudiosos, como Gilles Lipovestky, mencionando os últimos 30 anos como período de maior engajamento social, ações de voluntariado e responsabilidade coletiva, mesmo que essa realidade coexista com o ápice do individualismo no mundo ocidental. No entanto, agora estamos exercitando outras formas de expressão das práticas solidárias. O atual cenário adverso está nos convocando à urgência de compreender que as atitudes de uma pessoa podem impactar em todas as demais.
Portanto, solidariedade hoje significa, literal e diretamente, nossa sobrevivência. Esse tipo de conduta é uma condição inerente ao ser humano, pois nossa espécie tem uma constituição direcionada para o cuidado, para buscar atender as necessidades uns dos outros e, muito em função disso, temos obtido êxito em sobreviver há milênios. Nesse sentido, vale lembrar que um dos significados da palavra solidariedade é responsabilidade recíproca entre elementos de um grupo social ou de uma comunidade. A partir disso, pode-se sugerir que nesse momento desafiador possamos nos questionar: “isso que estou querendo fazer é bom para mim e também para todos?”.
Antes de tudo, este é um posicionamento ético, pois a vida em coletividade deveria implicar no bem viver de todos em uma morada. Para que isso seja viável, há uma diversidade de práticas que podemos priorizar, desde cada pessoa respeitar o período de isolamento em casa, até as ações de maior amplitude, empreendidas pelo governo e pelas organizações e instituições da iniciativa privada.
No nosso cotidiano, podemos ser solidários oferecendo uma escuta acolhedora e sem julgamentos para nossos familiares, amigos, vizinhos e até mesmo desconhecidos. Felizmente, a tecnologia possibilita fazermos vídeos nas redes sociais, conversas em grupo nas plataformas digitais, mostrar nossos talentos para entreter as pessoas de algum modo, etc. Também podemos usar nossa capacidade de transcendência e relembrar o passado, seja falando sobre ele, seja digitalizando fotos antigas para enviar nos grupos de família e de amigos, o que costuma gerar alegria. Ou, ainda, propor conversas sobre o futuro e as expectativas que se pode ter enquanto pessoa, casal, família, comunidade, país.
Além disso, podemos pensar nos impactos econômicos da quarentena e buscar recursos para aquela pessoa que trabalha vendendo salgados na porta da faculdade fechada ou café com bolo no ponto de ônibus agora vazio. Por fim, deixo para vocês uma ideia de Patrick Henry: “Unidos resistimos. Divididos caímos. Não nos separemos em facções que devem destruir a união da qual depende nossa sobrevivência”.
Rosita Barral é professora do Instituto de Psicologia da Ufba e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS
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