Criada em prédio, galinha matadora de cobras foge e moradores acionam bombeiros

Correndo de um lado a outro, Dolores gritava desesperadamente. “Gente, o que foi que aconteceu?”, perguntou, preocupada, uma das moradoras do penúltimo prédio da Rua Colmar Americano da Costa, na Pituba. O grupo de bate-papo da rua ficou em polvorosa. A essa altura, quem alcançava ver já estava com o rosto nas varandas assistindo o drama: Pacheco, o macho do casal de galinha-d’Angola criado pelo condomínio, resolveu fugir de casa na manhã desta quarta-feira.
O animal bateu asas e foi parar no topo da árvore da área verde do edifício. Dolores, a fêmea, estava consumida de puro nervosismo e cacarejava alto, cabeça voltada na direção do companheiro. “Os zeladores foram olhar e ele voou de novo, dessa vez para a árvore do outro lado da rua, e quando chegavam perto mais ele subia”, narra o profissional de marketing Diogo Franceschini, morador do prédio.
Com medo de Pacheco ir para mais longe, o condomínio imediatamente acionou o Corpo de Bombeiros (CBM). “Todo o tempo, ela corria, subia na escada, não parava. E ele, de lá, também gritava”, continua. Quando o caminhão da patrulha chegou, encostou na árvore e um bombeiro ergueu a escada para capturá-lo, mas o rebelde voou novamente. Por sorte, caiu dentro da área da piscina do prédio. Estava a salvo.
Das janelas, todo mundo bateu palmas para o resgate. Ao CORREIO, o CBM disse que a ação foi rápida e tranquila. Mas a saga não tinha terminado. “Aí, como Pacheco já estava em casa, os zeladores foram tentar pegar e ele voou e voltou para a árvore de novo. Nisso daí, os bombeiros já tinha ido embora”, ri Diogo. O pessoal então desistiu da captura e resolveu especular as razões dele ter fugido. Talvez a galinha-macho tivesse lá seus motivos.
“No grupo, eu mandei um resumo do que tinha acontecido e criei um contexto para a partida de Pacheco. Eu acho que é porque ela nunca aceitou dividir o poleiro com ele. Toda noite, ela dormia no corrimão e ele no chão. Teve uma pessoa que especulou que talvez Pacheco tenha contraído covid-19 e resolveu ir para a árvore para se isolar”, brinca Diogo.
Por causa do episódio, sugeriu-se até trocar o nome de Pacheco para Arlindo Orlando, em referência à música da Blitz, “longe de casa, há mais de uma semana, a milhas e milhas distante do meu amor”. Mas esta história de amor e intrigas teve um final feliz. Na noite desta quinta-feira, Pacheco regressou para a área verde do prédio e se reconciliou com Dolores.
Diogo conta que os animais foram comprados para fazer a segurança do condomínio contra animais peçonhentos. Como o prédio fica próximo ao arborizado Parque da Cidade, os moradores sofriam com a presença de escorpiões, cobras e uma infinidade de insetos.
A síndica da época soube que galinhas-d’Angola comiam estes bichinhos indesejados e comprou um trio: Catarina, Petruchio e Dolores. Os dois primeiros, no entanto, morreram e suspeita-se que tenham sido comidos por dois gaviões que rondam a área.
Como Dolores ficou sozinha, ficaram com pena da coitada e trouxeram Pacheco para lhe fazer companhia. Durante este período de isolamento social, o casal estava sendo a alegria das crianças do prédio, que iam alimentar as galinhas com milho e pão.
“A gente aqui em casa sempre inventa histórias com eles, sempre brinco contando para minha esposa, e agora no grupo. Vi eles no poleiro brigando e daqui eu tava dizendo, ‘rapaz, o que é isso, não se discute na cama, cama não é lugar de discutir’. É quarentena, tá todo mundo tenso, a gente precisa que as pessoas deem umas risadas”, diz Diogo.
À frente do Grupo Especial de Proteção Ambiental da Guarda Civil Municipal (Gepa), André Cajarana explica que as galinhas-d’Angola são muito adquiridas por donos de fazendas no interior da Bahia porque são também predadoras de carrapatos, parasita que faz o gado ser menos produtivo.
Quando este conhecimento se popularizou, as galinhas dessa raça começaram a ser compradas nas cidades para o controle de “pragas”. Segundo ele, outros condomínios de Salvador também adotam esses animais. “Além de ser boa no controle, ela é uma ave bonita, rústica, embeleza o ambiente e é uma arma natural. Funciona realmente, ela é capaz de matar pequenas serpentes e escorpiões”, conclui.