Prefeito diz que retomada terá critérios técnicos e critica ‘apressadinhos’

Apesar de a Prefeitura ter prorrogado na terça-feira (30) a suspensão das atividades econômicas em Salvador por mais sete dias, o plano municipal para a retomada dessas atividades já está pronto. O prefeito ACM Neto (DEM) anunciará o planejamento junto com o governador Rui Costa (PT), com quem irá definir o alinhamento dos protocolos, o que deve acontecer até sábado (4). 

Em entrevista na quarta-feira, durante inauguração do gripário para a UPA de Paripe, o prefeito reagiu com firmeza  às pressões de parte do empresariado soteropolitano para que as atividades comerciais voltem ao normal em Salvador mesmo em meio a uma pandemia que já matou mais de 60 mil pessoas em todo o país. “Sou empresário, meu padrão de vida vem do setor privado. Vocês acham que eu gostaria de sacrificar meus negócios, empresas da minha própria família? Só vamos abrir o comércio quando for possível abrir. Não vou ceder à pressão. (…)”, disse.

Ele também assegurou que manterá coerência até o fim do mandato, que se encerra no final desse ano. “Até o dia que eu for prefeito dessa cidade, as decisões serão tomadas pensando no cuidado com a vida das pessoas. Não tenho medo. Podem pressionar o quanto quiser. Podem fazer buzinaço na frente de minha casa, nada disso vai me impedir de tomar as decisões”, desabafou o prefeito.

O que Neto pôde adiantar do plano de retomada é que ele tem pelo menos 50 ações e que muitas delas são da área tributária: “Muitos apressadinhos que estão criticando vão cair do cavalo quando a gente apresentar”. O plano para retomada especificamente da economia é um dos que não dependem do alinhamento com o governador. “O município vai ter um e o governo do estado vai ter o dele. Até porque o governo fala com a Bahia, com setores que sequer existem em Salvador, como a agricultura e a indústria, que não é tão forte aqui”, esclarece o prefeito. 

O que será anunciado em conjunto serão, por exemplo, os critérios para a reabertura das atividades que estão suspensas, como o comércio, assim como os critérios para o avanço das fases da retomada, que será de forma progressiva e não de uma vez só.

A divulgação ao lado do governador é mais um resultado do diálogo entre os gestores, que se iniciou com o início da pandemia. “Me despi da vaidade e das divergências políticas. Tenho espírito público e não espírito de porco, porque não olho pro meu próprio umbigo, estou preocupado com o que vai acontecer na casa dos 3 milhões de habitantes que moram em Salvador”, disse.

Para uma reabertura segura, o prefeito disse ainda quais métodos serão adotados. “O critério é partir das convenções médicas, das análises técnicas, e do que se está aplicando no Brasil e no mundo. Não tem mistério”, esclarece Neto.

Vulnerabilidade
Em relação às medidas restritivas que têm aplicado na capital baiana, o prefeito afirmou que busca empatia com quem mais está  sofrendo com a pandemia. “Me coloco no lugar daqueles que estão internados em um leito de UTI, daqueles que estão com falta de ar em cima de uma cama, das famílias que já perderam seus entes queridos. Das pessoas mais pobres que estão com medo de amanhã não conseguirem um tratamento. E que, ao mesmo tempo, têm medo também da fome, desemprego, da sua própria sobrevivência. Me coloco no lugar dessas pessoas e lamento que nem todos o façam”, completou.

Ainda nesse embalo, o chefe do executivo municipal refletiu sobre os níveis desiguais de vulnerabilidade que envolveriam uma retomada enquanto a pandemia ainda não esteja controlada. “Quem tem dinheiro se defende mais fácil. Quem tem dinheiro vai bater na porta do hospital e vai conseguir mais facilmente o internamento. E quem não tem? Estamos falando de vidas. Não vou permitir que famílias, principalmente do Subúrbio, batam na porta e não tenha leito. Ontem (terça), a ocupação dos leitos estava em 84%, aí eu abro tudo, e aí? O sistema de saúde entra em colapso e vão culpar quem? O prefeito”, previu. 

Neto seguiu, em tom forte, contra os que se apressam em querer que a cidade retome uma ‘normalidade’. “Os que agora estão nos criticando, questionando por que não abrimos, vão dar uma de senhores da verdade pra apontar o dedo pra mim e pro governador pra dizer que somos os culpados”, disse, se referindo às críticas a ele e ao governador. “Eu prefiro ser o culpado agindo de acordo com a ciência, com a técnica e lutando para salvar a vida das pessoas do que agindo irresponsavelmente para jogar pra plateia. Que fique claro: nasci na política, já vi de tudo, já fui pressionado e o couro já tá grosso”, completou.

Retomada consciente
O secretário municipal de saúde, Leo Prates, pediu a contribuição dos soteropolitanos para a melhora das taxas, que serão imprescindíveis para a reabertura das atividades. “A gente precisa da colaboração das pessoas para que os indicadores melhorem e a gente possa fazer a retomada. A gente entende a paciência e angústia das pessoas, mas são meses de confinamento em troca de anos de vida”, pede o secretário, que completou ainda que não deve haver dicotomia entre a economia e a saúde: “É preciso deixar claro: não existe economia com pessoas doentes e não existe empresa com pessoas morrendo”.

*Sob orientação da subeditora Fernanda Varela