Estado vê excesso em recomendações do MP-BA e MPF e aciona conselho contra órgãos

Após o Ministério Público Federal e o Ministério Publico da Bahia emitirem recomendação para que o governo estadual não prorrogue o contrato de administração do Hospital Espanhol por suspeita de irregularidades, o Estado viu excessos na atuação dos órgãos e resolveu acionar o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para que o caso passe por análise, inclusive para que o próprio governo possa ter um direcionamento sobre como se posicionar em situações semelhantes.
Os ministérios haviam apontado que houve problemas no contrato de R$ 30 milhões do estado com o Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), atual responsável pela gerência do hospital, referência no atendimento de casos de covid-19. O MPF e o MP-BA indicaram que, além de sobrepreço de R$ 478,3 mil, houve falhas de gestão e de prestação de serviço aos pacientes e familiares.
No entanto, o governo rebateu que não houve o tal sobrepreço na contratação e que a conclusão dos procuradores em relação ao documento teria sido equivocada. Segundo o governo, diferente do alegado na recomendação do MP-BA e MPF, a planilha apresentada pelo INTS, que é uma Organização Social, não faz registro de incidência de INSS patronal e que os demais itens indicados (Sesi/Sesc, Incra, Sebrae, Salário Educação, RAT/FAT e PIS), foram e continuarão sendo glosados — retirada parcial de um dos valores de orçamento — pela Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab).
Para o governo, este fato poderia ter sido conferido pelos membros dos ministérios se tivessem aguardado o prazo de 10 dias de manifestação da Sesab. Segundo a secretaria, por meio de ofício os órgãos solicitaram as informações sobre pagamentos relativos ao contrato de gestão, mas não aguardaram o decorrer do prazo para expedir a recomendação de não prorrogação do contrato. O ofício teria sido recebido em 26 de junho e a recomendação expedida três dias depois. A solicitação de informações poderia ter sido respondida até 10 de julho, afirma o estado.
“Não me parece razoável a posição do Ministério Público neste particular, com todo respeito que tenho às instituições e a seus membros. O objetivo da informação buscada pelo Ofício somente pode estar vinculada à identificação da existência de pagamento de valores considerados indevidos. Ora, sem aguardar a resposta no prazo que foi estipulado pelo próprio requerente, toma como certo aquilo que, em tese, buscava aferir. A despeito da necessidade desta informação, o que, imagino, para fazer um juízo sobre eventual constatação de equívoco pelo Estado, precipita-se com as recomendações indicadas”, disse o Procurador Geral do Estado, Paulo Moreno Carvalho.
Ao tratar de sobrepreço, o governo acha que o MP deveria indicar a definição do justo preço. Para o Estado, vale aquele definido pela União, através de Portaria do Ministro da Saúde, que fixa em R$ 1.600 por dia o valor do leito de UTI. Segundo a gestão estadual, o valor do leito do Hospital Espanhol não é superior a este e que o mercado vem praticando preços em contratações semelhantes a R$ 2.400, chegando até mesmo a R$ 3.200 leito/dia.
“Portanto, o Governo do Estado entende que as alegações relacionadas a irregularidades na contratação não procedem, salvo se por motivos estranhos aos apontados na reclamação. Em contratos emergenciais sequer se exige o chamamento de outras participantes para formalizar o contrato. Neste caso, ainda que premido pela falta de tempo, uma vez que a transmissão da Covid-19 se alastrava, o Estado promoveu a comparação de preços e da capacidade técnica dos interessados, escolhendo aquele que melhor poderia atender à população”, justificou.
O governo acrescentou ainda que a falta de grande número de participantes na concorrência pelo hospital se deu justamente pelo limite de preços fixado pela Estado, que “afastou as entidades que pretendiam lucrar com a pandemia” e que, para aumentar o número de interessados, a gestão teria que aumentar muito o valor global do contrato. Ao todo, somente três instituições se interessaram pela unidade. “É fato que o Estado não aumentaria o valor contrato apenas com o objetivo de atrair interessados, medidas que, sem sombra de dúvidas, levaria ao sobrepreço, exatamente como pretende combater os Ministérios Públicos”, conclui.