‘Não podemos abrir a escola para o filho do rico e não abrir a escola para o filho do pobre’, diz secretário de Educação de SP sobre reclamação da rede privada

Rossieli Soares afirma que governo não vai permitir que escolas particulares reabram antes das públicas. Sindicato das instituições privadas cobra antecipação da data. Retomada começará a partir do dia 8 de setembro para toda rede de ensino. Aulas no estado de SP serão retomadas a partir de 8 setembro e com rodízio de alunos
O secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, disse nesta quinta-feira (25) que governo não vai permitir que a rede privada reabra as escolas antes da rede pública. Rossieli defendeu que o retorno às aulas presenciais não pode ampliar desigualdades.
“Não existe a possibilidade de a gente abrir primeiro para a privada e depois para a pública. Quando for abrir, tem que abrir para todos. Nós já temos desigualdades sociais, dificuldades enormes. Nós não podemos abrir a escola para o filho do rico e não abrir a escola para o filho do pobre. A gente precisa ter a compreensão para não aumentar ainda mais as desigualdades”, afirmou o secretário em entrevista ao Bom Dia SP.
Apresentado nesta quarta-feira (24), o plano de reabertura das escolas prevê um retorno geral em três fases, em conjunto para todas as cidades, a partir do dia 8 de setembro, e considera que na data estimada o estado estará na fase amarela de flexibilização da economia há pelo menos 28 dias.
A antecipação da reabertura não é descartada pelo secretário, mas só ocorrerá se o estado estiver estável na fase amarela antes do prazo previsto. “Se a gente chegar lá no final de julho em boas condições, podemos até reavaliar”, afirmou o secretário.
Pela proposta, toda a rede de ensino do estado irá reabrir a partir do dia 8 de setembro. “Somente se algum lugar recuar é que a gente vai atuar regionalizado”, afirmo o secretário.
O plano vai abranger os 3,6 milhões de alunos da rede estadual e também os estudantes de escolas técnicas, universidades e ensino privado, pois pela Lei de Calamidade Pública, as escolas particulares só poderão funcionar com autorização do estado.
Nesta quarta-feira (24), as escolas particulares do estado de São Paulo criticaram a proposta. O sindicato afirma que está pronto para retomar o ano letivo e cobra antecipação.
O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (SIEE-SP), no entanto, acreditava que as aulas seriam retomadas em agosto e a reivindicação é para que esta expectativa seja atendida.
“Nós não esperávamos que ela voltasse em junho ou julho, mas, no mínimo em agosto”, disse Benjamin Ribeiro da Silva, presidente da associação.
“Foi à revelia, goela abaixo. Não concordamos. A escola particular hoje atende 24% dos alunos do Ensino Médio do estado de São Paulo e não temos culpa da incompetência do estado e da prefeitura se eles não conseguem se capacitar a tempo. Nós já temos certificação científica, protocolo médico, as escolas estão preparadas… Agora, se a rede pública não consegue se capacitar, nós não temos culpa. Não concordamos e vamos protestar”.
Segundo Rossieli, a proposta será lançada à comunidade escolar para ser discutida durante o mês de julho.
Entenda como será a volta das aulas presenciais em SP:
Quem deve voltar às aulas?
Creches
Educação infantil
Educação básica
Ensino superior
Cursos técnicos e profissionalizantes
Quando voltam?
Plano de retomada das aulas presenciais no estado de São Paulo
Divulgação/Governo de SP
A previsão do governo é de que todo o estado volte a ter aulas presenciais no dia 8 de setembro. No entanto, os seguintes critérios precisam ser cumpridos para que ela se mantenha:
Permanência de todas as regiões do estado por 28 dias seguidos na fase amarela (ou superior) do Plano São Paulo de flexibilização da quarentena.
Que no anúncio de atualização do plano pelo governo no dia 4 de setembro se confirme a estabilização das áreas na fase amarela (ou superior).
Que a rede pública e privada apresentem protocolos de planejamento para o retorno.
Todos os alunos voltam de uma vez?
Não. A volta será feita em esquema de rodízio de alunos definido pelas próprias escolas e dividida em três fases de retomada:
Primeira fase: somente 35% dos alunos de cada classe poderão frequentar as escolas a cada dia. Ou seja, em um dia vai um grupo, em outro dia, vai outro. Mas a Secretaria não informou qual modelo de rodízio as escolas devem se inspirar.
Objetivo é garantir um distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes. O distanciamento tem exceções, como no caso da educação infantil e creches, em que não há como manter essa distância entre bebês e cuidadores.
Segunda fase: até 70% dos alunos poderão frequentar as escolas a cada dia.
Terceira fase: 100% dos alunos podem voltar às salas de aula.
O que define cada fase escolar?
Primeira fase: todas as regiões do estado deverão estar na fase amarela do Plano São Paulo por pelo menos 28 dias seguidos.
Segunda fase: 60% das regiões do estado deverão estar na fase verde do Plano São Paulo por pelo menos 14 dias seguidos.
Terceira fase: 80% das regiões deverão estar na fase verde do Plano São Paulo por pelo menos 14 dias.
Como deve ser o distanciamento?
Estudantes, professores e funcionários devem manter distanciamento de 1,5 metro entre si.
Horários de entradas e saídas serão organizados para evitar aglomeração, e serão preferencialmente fora dos horários de pico do transporte público.
Continuam proibidos: feiras, palestras, seminários, competições e campeonatos esportivos, comemorações e assembleias.
Intervalos e recreios devem ser feitos sempre em revezamento de turmas com horários alternados.
As atividades de educação física estão permitidas desde que se cumpra o distanciamento de 1,5 metro. Preferencialmente devem ser realizadas ao ar livre e com cuidando da higienização dos equipamentos.
Recomendado que o ensino remoto continue em combinação com a volta gradual presencial.
Como deve ser a higiene?
O uso de máscara é obrigatório para todos dentro da instituição e no transporte escolar.
Instituição deve fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários.
Bebedouro será proibido. Água potável deve ser fornecida de maneira individualizada. Cada um deverá ter seu copo ou caneca.
Banheiros, lavatórios e vestiários devem ser higienizados antes da abertura, depois do fechamento e a cada três horas.
Lixo deve ser removido no mínimo três vezes ao dia.
Superfícies que são tocadas por muitas pessoas devem ser higienizadas a cada turno.
Ambientes devem ser mantidos ventilados com janelas e portas abertas, evitando toque em maçanetas e fechaduras.
Como monitorar a saúde?
Profissionais e estudantes que pertencem a grupos de risco para Covid-19 devem permanecer em casa e realizar atividade remotamente.
Recomendação para os pais medirem a temperatura de seus filhos antes de mandá-los para a escola. Caso esteja acima de 37,5°, deve ficar em casa.
Recomendação para que as instituições meçam a temperatura das pessoas a cada entrada.
Uma sala ou área deve ser separada na instituição para isolar pessoas que apresentem sintomas até que possam voltar para casa.
Plano de retomada das aulas presenciais no estado de São Paulo
Divulgação/Governo de SP
Como recuperar o aprendizado?
O governo de São Paulo afirma que será feita uma avaliação individual dos estudantes para a recuperação do conteúdo que não foi aprendido durante o período de ensino à distância.
Escolas também deverão investir em acolhimento socioemocional e em programas de recuperação para alunos com dificuldades nas matérias.
Segundo o governo, o programa de recuperação terá material didático, “apoiado pelo ensino híbrido e com foco em habilidades essenciais”.
Será oferecido em 2021 o 4º ano do Ensino Médio optativo para os estudantes que quiserem se preparar antes do ingresso no ensino superior.
Até quando vai o ano letivo?
Segundo o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, ainda não há definição se o ano letivo será estendido. A previsão do governo é de que na rede estadual as aulas sigam até fim de dezembro, sem prorrogação.
Para encerrar o calendário, as escolas precisam cumprir 800 horas de atividades obrigatórias no total, e o Ministério da Educação autorizou que as aulas remotas sejam incluídas na conta.
“Não precisa cumprir 200 dias desde que cumpra as 800 horas de ensino e permite a educação à distância [nessas horas]. O que precisamos ver é a contabilização do número de horas e o presencial vai fazer diferença se começar em setembro ou não. Todas as redes vão ter que comprovar isso, inclusive as particulares. Nós da rede estadual estamos trabalhando para fazer o maior esforço possível para garantir que a gente termine em dezembro. Mas essa análise só poderá ser feita quando a gente concretizar que retornamos em setembro”, disse o secretário em entrevista à GloboNews nesta quarta (24).
Rossieli reforçou ainda a necessidade de férias para profissionais e alunos.
“A recuperação não se dará neste ano. Não adianta só estender mais um mês, mais dois meses. Nós vamos fazer uma recuperação de dois anos, até o final de 2022. Para recuperar prejuízos de aprendizagem pós pandemia. Não tem mágica para curto prazo. É importante que nossos profissionais tenham 15 dias de férias de verdade, porque eles também estão atravessando momento de estresse. O aluno também está vivendo um momento diferente”, disse.