Tempo essencial

Será que importa mesmo o tempo no qual o artista trabalha? Este fator cronológico é de fato determinante? Por vezes sim, outras vezes não. Pode-se citar o artista visual Yves Klein nascido em Nice, França, em 1928 que trabalhou por apenas uma década e meia e morreu com 34 anos de infarto fulminante. Foi um artista excepcional. Iniciou em 1956 sua série de pinturas monocromáticas. Fundou o Novo Realismo com o crítico de arte Pierre Restany. Criou o Azul Klein, uma variação do ultramarino.
Os norte-americanos Jean-Michel Basquiat, que morreu aos 28 anos, com suas melhores produções entre 82 a 85, e Keith Hering que morreu aos 32, trabalharam apenas por uma década e hoje são celebridades. No Brasil, Leonilson (fotos), que morreu aos 36 anos, também trabalhou por uma década, deixou um legado excepcional.
Existem muitos outros exemplos na historia da arte que atesta: o talento é o essencial. O virtuoso sempre engana, fica nas aparências. Aos jovens, a notícia é que seu começo deve ser na humildade, no estudo, no preparo para o ofício, na consciência que a arte é construção de linguagem, fidelidade a propósitos e muito trabalho.
Existem artistas que acreditam em inspiração, coisa de amador, ou achados milagrosos que não se confirmam. O que alimenta uma carreira são as escolhas, o aprofundamento nelas, as análises comparativas, o andamento do processo criativo e a constante reinserção dentro do fio condutor escolhido. O que sobe vertiginosamente pode cair com a mesma velocidade. Aconselhável pensar nisto. Maior que a arte é uma arte maior, quando sustenta o ar dos tempos, onde está imersa e não subjugada. O perigo de perder o rumo deve ser calculado e a busca da essência é definidora.
Uma obra de arte existe quando há transformação de energia em matéria via produção, que se encontra com os nossos órgãos dos sentidos promovendo no outro uma interação. A obra de arte necessita da ação do corpo e suas extensões. O corpo tem que ser fiel a sua linguagem. Assim, a arte se legitima como extensão do eu. A experiência de ser artista dói especialmente para os que acreditam que arte é missão. O conceito é a formulação de uma ideia, uma concepção, uma sentença, investigando soluções através de experiências individuais e coletivas. Uma contramarca que autentica outra.
O artista é a matriz de seu trabalho. Os resultados das criações dos artistas quase sempre escapam das intenções iniciais. Estamos imersos no inusitado, que, em acerto, transcende em arte. No erro, uma caricatura. A vigilância deve ser eficaz. A arte é um jogo, pode-se ganhar ou perder. Ela é a busca e o produto final na vida de um criador.