Família de agricultor que morreu com câncer em Traipu questiona procedimento da prefeitura após teste positivo para Covid-19

José Batista da Silva, 72, já tinha feito um primeiro teste quando estava internado no hospital e deu negativo para coronavírus. Após a morte, um segundo teste deu positivo. Parentes que tiveram contato com o corpo antes do segundo resultado não fora testados. Agricultor José Batista da Silva faleceu aos 72 anos, em Traipu, Alagoas
Arquivo pessoal
Uma família de Traipu, em Alagoas, questiona o procedimento adotado pela prefeitura diante da morte do agricultor José Batista da Silva, de 72 anos, que tinha câncer. Ele já tinha feito um teste para Covid-19, que deu negativo, e faleceu em casa na quinta-feira (18). A declaração de óbito atesta que foi câncer a causa da morte, mas o Município fez um segundo teste no corpo de Silva, que deu positivo, e exigiu que ele fosse sepultado sob as regras sanitárias para Covid-19.
Quando uma pessoa morre por Covid-19, o caixão precisa ser lacrado para evitar contaminação e o sepultamento é realizado com limite máximo de 10 pessoas. Sem uma explicação clara acerca do procedimento, a situação revoltou a família, que foi impedida de seguir com os rituais tradicionais de velório e enterro, e porque diversos parentes que tiveram contato com o corpo antes do segundo teste não foram testados.
A redação do G1 entrou em contato com a prefeitura de Traipu às 11h11 para saber detalhes do protocolo que foi seguido nesse caso, mas não tinha recebido resposta até a última atualização desta reportagem.
Zé Romeiro, como era conhecido o agricultor, estava internado em um hospital de Arapiraca. No último domingo (14), os filhos dele receberam a informação de que o estágio da doença era terminal e foram perguntados se gostariam que o pai voltasse para casa, povoado Olho D’água da Cerca, em Traipu. Antes disso, foi feito um teste de Covid-19, que teve resultado negativo. Com isso, ele foi liberado na segunda (15).
Na terça (16), um dos filhos do agricultor foi até o posto de saúde do povoado e pediu que fosse feito um novo teste de Covid-19 no pai. Segundo ele, o exame ficou marcado para o dia 29 de junho, porque não havia Equipamento Individual de Proteção (EPI) para o procedimento, mas não deu tempo. Silva faleceu dois dias depois, às 8h30.
“Fui atrás do laudo médico em Traipu, o médico que assinou o laudo já sabia da história do meu pai, sabia que ele estava com câncer, e colocou como causa da morte a doença. Enquanto eu saí para cuidar disso, a enfermeira do posto foi fazer o teste de Covid no [corpo do] meu pai. Em menos de 3 minutos ela deu o resultado, disse que tinha sido positivo, e que iria avisar à Vigilância Sanitária”, relatou o filho do agricultor.
Depois do ocorrido, a família buscou entender o que havia acontecido em relação àquele teste, já que antes de deixar o hospital o paciente foi testado e o resultado deu negativo. Como havia dois resultados divergentes, os parentes pediram que fosse feito um terceiro teste para tirar a dúvida.
Porém, o terceiro teste não foi feito, sob a justificativa de que o prazo para que isso fosse feito já tinha passado. Equipes da Vigilância Sanitária, Guarda Municipal e Polícia Militar foram enviadas à residência da família para informar que deveriam ser adotados os procedimentos para sepultamento de vítima da Covid-19.
“A gente ligou pra assistente social, para saber porque tinham feito aquilo depois que ele morreu, e que nós queríamos que fosse feito o contra-teste no nosso pai e o teste em todas as pessoas que tiveram contato com ele depois que voltou pra casa. Ficaram dizendo pra gente que estavam chegando, e nisso só apareceram às 16h30, depois de ter passado o prazo pra fazer o contra-teste”, afirmou Batista.
O problema é que mesmo assim o protocolo de segurança não foi seguido. “No final, nós enterramos meu pai à noite, e quem estava na casa acompanhou o sepultamento. Tinham umas 50 pessoas, e ninguém da Vigilância se preocupou com aglomeração, nem com outra coisa, só em enterrar meu pai como vítima de Covid-19. O coveiro estava com roupa normal, usando só uma máscara de pano”.
Ele contou ainda que, depois do sepultamento, não houve nenhum contato da prefeitura para realizar isolamento no local ou com os parentes que tiveram contato com Silva, ou para fazer desinfecção do imóvel.
“Até agora ninguém veio fazer teste em nós. Estamos preocupados, porque se fosse mesmo Covid-19, todo mundo pegou. Ninguém veio fazer teste, e minha mãe é idosa, uma irmã tem diabetes, tem várias pessoas com outros problemas e até agora nada”, lamentou Batista.
Vigilância sanitária, Guarda Municipal e Polícia Militar estiveram na casa de José Batista para realizar os procedimentos no sepultamento, em Traipu, AL
Arquivo pessoal
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