Com visitas suspensas por pandemia, idosos em abrigos de SP recebem cartas e apoio psicológico
Com a suspensão de visitas no início de março, idosos espalhados pelos 576 lares e centros de acolhimento do estado de São Paulo tiveram que compreender a importância do isolamento para preservar vidas e combater o novo coronavírus — que naquele mês chegava no Brasil enquanto vitimava milhares de pessoas, idosos em sua maioria, na China e na Itália.
Homens e mulheres acima dos 60 anos, dentro ou fora dessas instituições, representam 73% dos óbitos por Covid-19 no estado. No Lar Divina Providência, localizado em Itaí, município a cerca de 300 quilômetros da capital paulista, os 22 idosos retomaram um hábito antigo para enfrentar a pandemia: receber e ler cartas. A leitura se tornou uma nova atividade no abrigo enquanto eles não podem reencontrar familiares e amigos para uma conversa aos finais de semana.
“As cartinhas têm ajudado muito e se tornaram mais uma atividade no dia a dia deles depois da suspensão das visitas. Temos lido para eles o tempo todo e isso ajuda na interação. Eles têm entendido muito bem a importância da suspensão das visitas nesse momento e têm falado com filhos e netos sempre que podem por telefone”, diz Lázara Rodrigues, assistente social da instituição.
No lar da pequena Itaí não houve casos suspeitos ou confirmados de Covid-19, e apenas uma funcionária, que pertencia ao grupo de risco da doença e apresentou sintomas, foi afastada. Os idosos foram vacinados durante a campanha de gripe na cidade e, desde então, seguem “guardados no cofrinho”, segundo Lázara.
Atualmente, Itaí tem cerca de 10 casos confirmados e nenhuma morte pela doença – o vírus chegou à cidade há pouco menos de duas semanas. De acordo com informações da Secretaria de Saúde do estado, das 645 cidades, houve pelo menos uma pessoa infectada em 537 municípios, sendo 274 com uma ou mais mortes.
Mortes em abrigos
Localizada a 150 quilômetros de São Paulo, a cidade de Piracicaba se deparou com um cenário diferente dentro dos dois abrigos que possui. O Lar Betel registrou 11 mortes por Covid-19 e se tornou a primeira instituição para idosos do país a receber os testes RT PCR para identificação do vírus entre funcionários e moradores. Das 34 mortes por Covid-19 na cidade, 19 foram em lares de longa permanência – atualmente, Piracicaba tem mais de 600 casos.
Dentre os testados no Lar Betel, foram 65 idosos (33 positivos e 32 negativos) e 82 funcionários e colaboradores (11 positivos e 71 negativos). Os testes RT PCR foram adquiridos por uma parceria entre o Rotary Club e o município, que fornece uma equipe de saúde com médicos e enfermeiros no local desde a identificação do primeiro caso, diz a Secretaria Municipal de Saúde.
Ao todo, a cidade de São Paulo tem 34 mortes em instituições de longa permanência. Segundo nota enviada à Jovem Pan, foram identificados 1.089 casos de síndrome gripal nas mais de 14 mil vagas ofertadas para idosos em abrigos pela prefeitura até o final de maio. “Para Covid-19, foram identificados 472 casos, sendo que, 34, evoluíram para óbito”, diz a nota da Prefeitura.
Saúde mental na terceira idade
Acostumados com a rotina calma, os idosos do Lar Divina Providência têm entendido a mudança na rotina sem grandes alterações de comportamento. “Uma das senhoras vem até minha sala todos os dias e, ao falar com os filhos pelo telefone, já avisa que vai demorar para voltar a vê-los”, diz Lázara.
Para amenizar a saudade, as chamadas de vídeo e as ligações têm funcionado nos últimos meses. “Agora é um momento de atenção e carinho redobrado com eles e devemos usar a tecnologia a nosso favor. Nesse momento, eles não podem tocar ou abraçar os familiares, mas podem ver e conversar e isso tem ajudado muito na rotina deles. Desde o começo [da pandemia] temos conversado com eles sobre isso e trabalhado em algumas ações de conscientização”, destaca o psicólogo Giovane Firmino, que atua no Lar Divina Providência.
As cartas enviadas fazem parte de uma campanha da Secretaria de Desenvolvimento Social do estado que também tem arrecadado máscaras para os distribuição nos abrigos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado acerca dos impactos da pandemia na saúde mental das pessoas, em especial dos mais velhos, além de dar orientações sobre a importância de exercícios físicos simples com o intuito de não reduzir a mobilidade do idoso e a criação de rotinas e tarefas regulares, além do isolamento deste grupo de risco do novo coronavírus.