Quase 40% dos alunos de escolas públicas não têm computador ou tablet em casa, aponta estudo


Dados sobre conectividade em escolas e acesso de estudantes à internet mostram cenário em que a educação entrou na pandemia em 2020 e indicam possível desafio no ensino remoto. Ensino a distância tem sido desafio para as redes durante a pandemia; dados da TIC Educação 2019 mostram que 39% dos estudantes de escolas públicas não tem computador ou tablet em casa.
Divulgação/Prefeitura de Várzea Paulista
A pesquisa TIC Educação 2019, divulgada nesta terça-feira (9), aponta que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablet em casa. Nas escolas particulares, o índice é de 9%.
Os dados mostram o cenário em que a educação entrou na pandemia em 2020 e indicam possível desafio no ensino remoto, montado às pressas quando houve necessidade de fechamento das escolas para evitar a propagação do coronavírus.
Sem computadores e conexão à internet, é possível que os estudantes tenham dificuldade para acessar os conteúdos online, que têm substituído as aulas presenciais.
Infográfico mostra q disponibilidade de computador no domicílio, em porcentagem, segundo a pesquisa TIC Educação.
Infografia/G1
Outros destaques da pesquisa:
Conectividade: 21% dos alunos de escolas públicas só acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o índice é de 3%
Regiões: o uso da internet exclusivamente pelo celular é maior no Norte (26%) e Nordeste (25%)
Plataformas virtuais: 14% das escolas públicas (estaduais e municipais) tinham ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem antes da pandemia
Aprendizagem online: 16% dos estudantes da rede pública e privada declararam ter participado de cursos online e 24% fizeram simulados ou provas, o que pode indicar dificuldades atuais para acompanhar o ambiente virtual de aprendizagem. Quanto mais velho o aluno, maior o índice
Professores: 53% dos docentes disseram que a ausência de curso específico para o uso do computador e da internet nas aulas dificulta muito o trabalho; para 26%, dificulta um pouco – a soma é de 79%
Interação: entre 2016 e 2019, a porcentagem de instituições públicas urbanas cujos pais ou responsáveis utilizaram perfis ou páginas em redes sociais para interagir com a escola passou de 32% para 54%
“Antes do fechamento das escolas, a gente pode dizer que os estudantes tinham pouco acesso às tecnologias no ambiente escolar. As atividades pedagógicas estavam mais centradas no ensino do que na participação dos estudantes, e quando eles vão para casa e têm que fazer eles mesmos estas atividades, o trabalho se torna mais árduo”, avalia Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação.
As aulas presenciais estão suspensas desde março em todo o país. Um levantamento feito pelo G1 indicou que, desde então, todas as redes estaduais de ensino implantaram alguma forma de transmissão de conteúdo remoto – seja em plataformas online, ou conteúdos repassados pela TV aberta e via rádio.
Ainda assim, alunos, pais e professores narraram à reportagem as dificuldades de aprendizagem neste período de isolamento social. Entre elas, estão inexistência de ambiente apropriado de estudo; maturidade dos estudantes; falta de acesso à internet, pouca continuidade nas aulas; baixa preparação dos professores, entre outros.
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Outra análise, feita pelo Instituto Unibanco e pela organização Todos pela Educação, aponta que 95% dos estados implantaram plataformas online de aprendizagem durante a pandemia, mas só 45% estão comprando pacotes de dados para dar acesso gratuito ao conteúdo.
“[Durante a pandemia] houve uma percepção das escolas, pais e responsáveis pelas políticas públicas de que a tecnologia é algo essencial para a aprendizagem e que o acesso à educação hoje passa pelo acesso às tecnologias. Quando a educação puder acontecer no novo normal, pode ser que a gente tenha implementação de novas ferramentas e um novo olhar na interação com novas tecnologias”, afirma Costa.
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Professores e formação online
O uso da internet para se comunicar com alunos antes da pandemia era menor entre professores de escolas públicas se comparado às particulares. Os dados da pesquisa mostram que 31% dos professores afirmaram que receberam trabalhos ou lições dos alunos pela Internet; 44% tiraram dúvidas dos alunos pela Internet e 48% disponibilizaram conteúdo na Internet para os alunos. Na rede privada, os números são 52%, 65% e 65%.
Infográfico mostra o que os professores pensam sobre a ausência de formação para uso do computador e da internet nas aulas
Infografia: G1
Os docentes também relatam que a falta de capacitação dificulta a inserção no ambiente digital: 53% dos docentes disseram que a ausência de curso específico para o uso do computador e da internet nas aulas dificulta muito o trabalho; para 26%, dificulta um pouco.
“Mais de 70% dos professores estão relatando dificuldades relacionada à formação. No ano passado, 33% dos professores disseram que fizeram curso de formação continuada formal e grande parte dos professores procuraram por essa formação por conta própria”, afirma Costa.
Estudantes e aprendizagem online
Os dados sobre aprendizagem online indicam que 16% dos estudantes da rede pública e privada declararam ter participado de cursos online e 24% fizeram simulados ou provas, o que pode indicar dificuldades atuais para acompanhar o ambiente virtual de aprendizagem.
Se analisadas as etapas de ensino, os dados apontam índices maiores nos últimos anos de formação do ensino médio.
Infográfico mostra o uso da internet em atividades escolares, de acordo com estudantes de escolas urbanas
Infografia: G1
Segundo Costa, os dados da próxima pesquisa devem trazer informações sobre o impacto da pandemia na conectividade dos estudantes e escolas. A expectativa é que haja aumento do uso de tecnologias no ensino remoto. Além disso, os dados também podem trazer maior interatividade entre escolas e pais ou responsáveis.
“Em escolas públicas, professores ficam dependentes do sistema da Secretaria de Educação, os dados estão lá. Neste momento em que as escolas fecharam, eles não tinham acesso a dados de telefone e e-mail dos pais e tiveram que correr atrás”, conta.
Metodologia
A pesquisa foi feita entre agosto e dezembro de 2019. Os pesquisadores falaram presencialmente com 11.361 alunos, 1.868 professores, 954 coordenadores pedagógicos e 1.012 diretores de escolas urbanas.
Nas escolas rurais, foram ouvidos por telefone 1.403 diretores ou responsáveis por estes estabelecimentos de ensino.
A pesquisa é feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), que monitora a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil. Criado em 2005, o Cetic.br é um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br).
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