Alagoanos contam do que mais sentem falta durante isolamento por causa do coronavírus


Estado está há dois meses e meio sob regras de isolamento e distanciamento social. G1 entrevistou diferentes pessoas que adotaram a quarentena para saber como está a nova rotina. Com o isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus, famílias precisaram adaptar a rotina dentro de casa
Guilherme Gomes/G1
Com o isolamento social adotado para conter o avanço da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, muita gente deixou de sair de casa ou tem saído apenas para o essencial, como trabalho e compra de alimentos e farmácia. As primeiras medidas foram adotadas em março, prorrogadas diversas vezes e hoje têm validade até o dia 10 de junho, podendo ser prorrogadas novamente.
Com isso, a saudade da rotina, que antes passava despercebida, começou a pesar. Para saber como o alagoano está enfrentando o isolamento, o G1 perguntou a diferentes pessoas do que mais elas sentem falta e o que estão fazendo para ocupar o tempo livre em casa.
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Matheus Araújo, 18 anos, estudante
“Quando a pandemia acabar, a primeira coisa que eu vou fazer é ver o meu namorado, estamos há três meses sem nos vermos. Agora que a recomendação é ficar em casa, eu passei a demonstrar mais afeto. Quero dar valor aos pequenos gestos, sabe?”.
Mel Nascimento, 35 anos, artista
Mel Nascimento faz samba pra enfrentar o período de isolamento durante a pandemia
Líder do grupo Mulheres na Roda de Samba, primeira roda de samba 100% feminina de Alagoas, Mel conta que a celebrar com o público a cultura alagoana é o que mais faz falta no momento.
“Difícil é se reinventar dentro de um setor que desde sempre vive em crise. Por isso vou falar aqui só de distância, saudade e adaptações. É inegável a vontade de estarmos juntas fazendo o que mais nos dá sentido. Ainda mais para nós guerreiras e guerreiros do samba, que tem como normalidade a coletividade e aglomeração”, disse.
“O importante é ser resiliente e se preparar para o novo agora. Que dias melhores venham para todos nós e enquanto eles não chegam tenhamos, mesmo que à distância, a arte como companhia”, completou a artista.
Jonathan Leite, 23 anos, designer de interiores
“Sinto muita saudade de ir ao escritório, jantar fora e viajar. Fique em casa. Quanto maior a taxa de isolamento, mais rápido sentiremos a brisa do mar no rosto novamente”.
Jackson Ferreira, 23 anos, professor
Jackson Ferreira, 23 anos, professor
Arquivo pessoal
“O que eu mais sinto falta é de fazer o meu aluno conhecer diversas outras formas além do quadro e do giz. Uma aula de campo, um sarau literário, uma visita à biblioteca, um piquenique ou uma viagem. Eu tinha muita coisa planejada para fazer esse ano, mas por conta da pandemia estou apenas dando aula em casa”.
Como a escola em que Ferreira trabalha, no município de São José da Laje, Zona da Mata de Alagoas, aderiu ao modelo de ensino on-line, a saudade de ensinar foi reduzida. Entretanto, o principal desafio é alcançar sua turma completa, já que nem todos têm acesso à internet.  
“Agora, o único contato que tenho com os meus alunos é virtual. Os pais deles estão ajudando muito com as tarefas. Tá todo mundo unido para fazer com que nossas crianças não percam completamente o ano letivo de 2020. Infelizmente, sempre tem um ou dois [dos 35 alunos] que não têm acesso à internet. Eles não podem assistir meus vídeos e isso me deixa um pouco triste”, explicou o professor.
Ana Luiza Bargham, produtora cultural
“Sinto falta do contato com as pessoas. A cadeia produtiva da cultura é um trabalho eminentemente de relações interpessoais, reduzi-lo ao formato de home office é um grande desafio. Tinha acabado de retornar de uma turnê que fiz pelo Nordeste, com o músico sul mato-grossense Jonavo e que durou um mês. Passamos por sete cidades e, pela sua extensão, já dá pra imaginar o número de lugares visitados e de pessoas [público e profissionais] que conheci”. 
Ana aproveita o período para investir no autoconhecimento e aperfeiçoamento profissional, além de administrar as tarefas e dar mais atenção ao convívio familiar. Ela é adepta ao isolamento e das medidas de proteção, por entender que estará reduzindo os riscos de contágio e protegendo outras pessoas. 
“Apesar de sentir muita falta da rotina, penso que esse é um momento em que a prioridade da saúde do coletivo deve estar acima do interesse individual. Cumprir as medidas de isolamento é um exercício de consciência, solidariedade e empatia, especialmente com as pessoas que estão trabalhando na linha de frente e com quem sofre de comorbidades. É tempo para refletirmos sobre quais questões e valores precisam ser despertados a fim de encontrarmos novas soluções para a crise mundial que atravessamos”, reforçou a produtora.
Aurora Blossom, 25 anos, drag queen
“Estou com saudades do palco. Eu sou Drag residente de uma festa em Maceió. Quase sempre que tinha uma edição eu fazia uma apresentação. Uma das minhas últimas festas foi dia 14 de março, na Joy Club. Dois dias depois estávamos de quarentena”.
“Tento ocupar meu tempo gerando conteúdo nas redes sociais, fazendo maquiagens e treinando técnicas, para que a minha arte alcance pessoas que ainda não me seguem. Vez ou outra faço lives dando dicas, já que sou maquiador.  Eu também estou bordando”.
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Thatyana Beatriz, 20 anos, estudante de jornalismo
“Sinto falta de abraçar meus familiares e conversar com meus amigos fora da pequena tela do celular. Também tenho uma saudade absurda de participar das missas e estar em união com a minha comunidade. É como disse Clarice Lispector: ‘quando me pego pensando no passado, eu sinto saudades, sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei’”.
“Antes de ser decretada a pandemia eu já tinha ansiedade. No início achei que fosse passar rápido, mas já estamos no meio do ano e estar presa em casa sem nenhuma certeza do futuro me deixa angustiada. O que mais me deixa ansiosa é enxergar que existem pessoas usando essa situação para enaltecer ideologias e esquecem que a chave para viver em sociedade é o respeito e o mínimo de empatia”, contou a estudante.
Saúde mental na pandemia
Nesse campo da saúde mental abalada, a estudante Thatyana não está sozinha. Assim como ela, diversas pessoas já tinham algum problema que foi agravado pelo isolamento. Outras, que até então não tinham diagnóstico, acabam desenvolvendo por causa da incerteza do futuro, o medo de perder alguém querido e a sensação de estar preso.
Segundo a psicóloga Amanda Pimentel, com o surgimento da pandemia e, consequentemente, do isolamento social, é comum que as pessoas sejam afetadas de alguma forma, já que os humanos são seres sociais e precisam de contato com o outro.
“Não conheci ninguém até agora que dissesse que está tudo normal com o que estamos passando. Todos de alguma forma fomos afetados com o distanciamento, com a iminência de um contágio, com a incerteza financeira, com a solidão, com a saudade e, principalmente, com o luto e a não elaboração dele”, informou a psicóloga.
Amanda explica que é normal que as pessoas estejam mais preocupadas e aflitas. “Cada um deve achar uma forma de se manter em equilíbrio”.
A psicóloga conta que tem feito atendimento voluntário durante a pandemia e que é importante que as pessoas procurem ajuda de um profissional habilitado para falar sobre as angústias do momento.
“Em minhas redes sociais falo um pouco sobre formas de como podemos lidar com tudo isso: Meditação, técnicas de respiração, a busca e o reencontro da espiritualidade, o exercitar-se [dentro de casa], aprender algo novo, marcar horário de bate papo com os amigos na internet, arrumar a casa e treinar o desapego. Não existe regra, nem ‘receita de bolo’, cada um deve achar a sua forma de se manter em equilíbrio, até tudo isso passar, e vai passar”, alertou a psicóloga.
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