Caso Miguel: movimentos sociais e familiares de menino protestam em Recife
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem |
Justiça. É o que clama o protesto pela morte do menino Miguel Otávio, de 5 anos, que morreu após cair de uma altura de aproximadamente 35 metros em um prédio de luxo localizado na área central do Recife, na última terça-feira (2). Na ocasião, Miguel estava sob os cuidados da empregadora da sua mãe, que trabalhava como doméstica. A proprietária do imóvel foi indiciada por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, e responde em liberdade após pagar fiança de R$ 20 mil.
O ato, realizado na tarde desta sexta-feira (5), foi organizado por movimentos sociais e, desde as 13h, começou a reunir familiares do garoto, amigos e integrantes desses movimentos em frente ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), no bairro de Santo Antônio, também na área central da capital pernambucana. Por volta das 14h, o grupo saiu em direção às Torres Gêmeas, como é conhecido o Condomínio Píer Maurício de Nassau, onde Miguel caiu.
Vestindo roupas pretas e de máscaras, os manifestantes entoaram “Justiça por Miguel” várias vezes. Pouco antes das 14h, aproximadamente 150 pessoas, incluindo crianças, estavam presentes.
“São vários movimentos sociais participando do ato, pessoas comuns, que se solidarizaram com a morte da vítima, por conta da estrutura do contexto que é o racismo social. E se fosse ao contrário? Como a mãe mesmo diz, e se fosse ela?”, comentou o coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU), Jean Pierre, uma das entidades que organizaram o protesto.
Os participantes do protesto levaram vários cartazes e flores em homenagem ao menino. “E se fosse ao contrário? #JustiçaPorMiguel”, “Justiça para Miguel e sua família”, “Nós crianças negras queremos viver”, “E do filho da empregada quem cuida? #JustiçaPorMiguel”, destacavam alguns dos cartazes.
Mesmo abalado, o pai de Miguel, Paulo Inocêncio da Silva, foi até o local para reforçar o que já vem sendo pedido. Justiça. Para ele, o menino era ‘tudo’ o que ele tinha.
“O machucado é ruim demais. Perdi o único filho que eu tinha na minha vida. Tudo que eu tinha era meu filho. Ele foi embora, minha vida foi embora junto com ele. Acabou tudo. Eu só quero justiça, que a pessoa que fez isso com meu filho pague. É o que eu peço, justiça pelo meu filho. Que era uma criança inocente, 5 anos, uma criança que tinha tudo pela frente e foi embora desse jeito”, comentou.
Paulo relembrou o momento em que soube que algo havia acontecido com o seu filho. “Eu estava em casa, moro no interior, a mãe dele ligou para a minha irmã, ela foi me dar o recado e eu soube que tinha acontecido um acidente. Quando cheguei na Restauração, meu filho já estava morto”, disse.
Ele disse ainda que só ficou sabendo que Sari Corte Real, dona do apartamento e patroa de Miguel, deixou o filho sozinho no elevador, nessa quinta-feira (4). “Eu vim saber isso ontem. Nem eu e nem Mirtes (a mãe) sabíamos. Ontem minha irmã foi mostrar o vídeo lá, que Miguelzinho entrou sozinho. Ela foi, viu o menino, não segurou porque não quis. E apertou lá pra ele subir. Quem matou meu menino foi ela. Ela quem é a culpada”, afirmou Paulo.
Uma das tias de Miguel, Fabiana Patrícia de Sousa, afirmou que a família não quer dinheiro, apenas justiça. “O sonho dele era ser jogador de futebol e esse sonho foi interrompido por uma pessoa que tem dinheiro. Dinheiro pode comprar tudo, mas a dignidade da minha irmã, que era uma empregada doméstica, jamais ela faria isso com a filha da patroa. Isso não pode ficar impune. Miguel se foi. E a gente está sentindo toda essa dor. É justiça que nós queremos. Não queremos dinheiro. Não queremos riqueza de ninguém. A gente só quer justiça. Porque nós somos dignos, nós trabalhamos. Somos pobres, mas somos guerreiros, batalhadores”, disse.